Como um seriado, sete anos após ser cancelado, ainda consegue se manter na memória de seus fãs? E como esses mesmos fãs conseguem se manter na ativa, conseguindo trazer um seriado de volta? Essas são as perguntas que a volta de Arrested Development traz ao mundo do entretenimento.
O programa, que conta as desventuras da família Bluth, foi transmitido de 2003 até 2006 pela Fox. Deu fruto à três temporadas aclamadas pela crítica, ganhando 6 Emmy’s e sendo considerada até a “série de televisão mais engraçada da história” segundo o site IGN. No entanto, a resposta da crítica não condizia com a do público, e graças à baixa audiência, foi cancelada ainda durante sua terceira temporada.
A família Bluth, porém, ainda viveu no imaginário de seus fãs, e acumula quase 2 milhões de likes no Facebook e mantém uma comunidade ativa de 80 mil pessoas na rede social Reddit, que produz conteúdo constante, mesmo depois do cancelamento.
Viu-se aí uma oportunidade. O serviço de streaming online Netflix juntou à primeira leva de suas produções originais uma nova temporada de Arrested Development, que será lançada na íntegra no dia 26 de maio.
O Netflix já quebrava padrões ao usar um modelo que consegue lucrar com o grande inimigo do entretenimento tradicional: a internet. Mas ao trazer de volta uma produção de transmissão exclusiva, à pedido de fãs, ele concretiza outra geração no consumo de mídia. Estabeleceu-se uma relação onde o consumidor tem voz ativa. Escolheu-se abandonar o modelo tradicional de televisão quando se experimentou as vantagens da internet. E agora, a internet tem poder o suficiente para agir como termômetro de popularidade, influenciando diretamente as decisões de alto escalão das produtoras norte-americanas.
Enquanto essas mudanças refletem benefícios, a volta de Arrested Development confirma também uma tendência negativa. O mundo do cinema e da televisão agora depende de histórias, personagens e sagas já contadas. As dúvidas que esse período de transformação trouxeram aos grandes estúdios fizeram com que elas entrassem em um “modo de segurança’. Com medo de arriscar em roteiros e idéias originais, preferem apostar em remakes, adaptações e sequências. Analisando os dez longa-metragens mais lucrativos nos Estados Unidos em 2012, três são adaptações de quadrinhos e três são adaptações de livros. Além disso, apenas um deles não faz parte de um universo ou saga maior. Até o último seriado original do Netflix, House of Cards, é uma adaptação do homônimo seriado britânico de 1990.
Os futuros resultados desse período de mudança são incertos. Enquanto o consumidor aproveita sua recém-adquirida influência, há cada vez mais dúvidas por parte dos realizadores quanto à sustentabilidade desse modelo. A pirataria ainda se encontra muito presente, e ganhar dinheiro com a internet ainda é uma incógnita.
A proporção das recentes ações de marketing do Netflix mostram que a empresa está confiante em seu modelo de negócio. E os boatos da volta de clássicos da TV americana como Friends e 24 Horas mostram que os canais de televisão mais tradicionais também estão ouvindo a voz de seus espectadores. Agora só resta torcer para que um deles esteja de olho na sua série favorita.
Por Thiago Quadros
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