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O Caminho do Draft

Por Breno Deolindo Já pensou em viver os seus primeiros vinte e poucos anos apenas para ter seu nome chamado em um palco? Para os jovens atletas dos Estados Unidos, essa é a realidade. O Draft da NFL é o caminho mais curto para ser um jogador de sucesso no futebol americano, entretanto, isso não significa …

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Por Breno Deolindo

Já pensou em viver os seus primeiros vinte e poucos anos apenas para ter seu nome chamado em um palco? Para os jovens atletas dos Estados Unidos, essa é a realidade. O Draft da NFL é o caminho mais curto para ser um jogador de sucesso no futebol americano, entretanto, isso não significa que ele é fácil.

O Draft é um evento anual em que os times profissionais recrutam para sua equipe aqueles que têm o potencial de reforçar seu elenco. O pior time da temporada passada é o primeiro a escolher um jogador, seguindo a ordem crescente até o campeão do Super Bowl. Essa sequência se repete durante sete rodadas, que se estendem por três dias e, ao apagar das luzes, aproximadamente 250 esportistas terão uma nova casa.

Os primeiros passos

E como alcançar esse momento tão crucial na sua carreira? Tudo começa na escola: olheiros – os chamados scouts – acompanham adolescentes que se destacam em competições juvenis e, quando chegam ao high school (equivalente o Ensino Médio no Brasil) recebem propostas de algumas universidades para representarem sua camisa em troca de uma bolsa de estudos.

Uma das maiores polêmicas do esporte universitário estadunidense é o número de restrições impostas aos jogadores. A bolsa de estudos recebida não cobre gastos como moradia e alimentação e, como uma quantidade considerável dos jovens veio de famílias pobres, existe um claro problema financeiro. A partir do momento que se filiam à NCAA (Associação Nacional de Atléticos Colegiais, o órgão máximo que regra competições universitárias), os atletas não podem receber qualquer tipo de auxílio monetário de seus técnicos ou da instituição de ensino. Esse bloqueio também se aplica a trabalhos publicitários, pois seus direitos de imagem pertencem exclusivamente à instituição.

Em 2014, alguns jogadores de futebol americano da universidade de Northwestern tentaram se unir contra as regras da NCAA para que fossem considerados trabalhadores, não apenas esportistas amadores. Assim, haveria um programa de benefícios provindos da própria Associação e o amadorismo não mais existiria. Contudo, o apelo de Northwestern foi negado na Corte Federal dos Estados Unidos, deixando apenas uma esperança, para os atletas, de que um dia essas mudanças ocorram.

Passados três anos fora do high school, jogando ou não por uma universidade, já é possível se declarar para o Draft e dar o próximo passo em direção ao sonho de jogar na NFL. Antes da seleção, os aspirantes realizam diversos testes físicos força, velocidade e agilidade, por exemplo na tentativa de chamar ainda mais a atenção dos olheiros e aumentar seu stock, que pode ser traduzido como o “valor” de cada atleta.

Após ser escolhido por um time, o jogador assinará um contrato e oficialmente fará parte de uma franquia profissional de futebol americano. Caso não seja selecionado, ainda há a esperança de se tornar um undrafted free agent: aqueles que não foram “draftados” mas despertaram interesse de alguma equipe e foram chamados para integrar seu elenco.

(Foto: NFLPA)
(Foto: NFLPA)

O que vem depois?

Parece muito simples, mas num país gigantesco como os Estados Unidos, é natural que haja uma imensa quantidade de jogadores universitários batalhando por uma carreira de sucesso. O Draft, num geral, seleciona quem têm maior poder midiático e atuaram por uma escola de grande visibilidade no esporte, existindo algumas raras exceções.

O futebol americano universitário é separado por divisões e, dentro dessas, em conferências. Como é de se esperar, existem conferências com times mais fortes e que consequentemente tenham mais espaço na televisão, maior repertório de vídeos para serem analisados pelos times e, portanto, uma probabilidade alta de chamar atenção de scouts profissionais.

Não passar nessa fina peneira é, portanto, extremamente comum. A partir daí os caminhos começam a se bifurcar: alguns desistem de uma vida atlética e voltam para a universidade para conseguir um diploma, outros procuram meios alternativos como ligas profissionais menores.

Mesmo para quem teve sucesso e foi escolhido no Draft, o futuro permanece incerto: cada um dos 32 times da NFL pode ter 53 jogadores em seu elenco. Na pré-temporada, é permitido exceder esse número, mas os cortes são inevitáveis e, muitas vezes, atletas draftados e undrafted free agents não conseguem fazer parte da lista final. Para eles, as opções são as mesmas citadas anteriormente, finalizar sua formação acadêmica ou ir atrás de outros caminhos para o esporte.

Nem tão cruel assim

Dados todos esse pontos, o Draft parece uma ferramenta extremamente anti-democrática e que prejudica os jogadores muito mais do que os auxilia. De fato, alguns pontos necessitam de melhoras e de uma sensibilidade maior, mas ainda assim, algumas histórias incríveis de superação podem ser encontradas a cada ano.

Em 2016, o alemão Moritz Böhringer foi escolhido pelo Minnesota Vikings na sexta rodada do recrutamento. A princípio, parece um caso simples, com a única singularidade sendo a origem de Böhringer, mas o seu caminho até Minnesota é impressionante.

O jogador, que atua como wide receiver, despertou seu interesse pela bola oval assistindo vídeos de Adrian Peterson, running back do Minnesota Vikings, pelo Youtube. Com um biotipo incrível, foi fácil para o alemão obter destaque na liga profissional de seu país e, depois de uma gigante campanha que abalou redes sociais e o universo da NFL, Böhringer foi o primeiro jogador draftado diretamente de seu país* e jogará ao lado de seu maior ídolo, o próprio Adrian Peterson.

Outro caso aconteceu em 2014. No processo de entrevistas pré-Draft, veio uma bomba: Michael Sam, defensive end de Missouri, assumiu publicamente a homossexualidade. A partir daí, o furacão jornalístico que passou pela vida de Sam é indescritível: casos claros de homofobia por parte de nomes influentes na Liga; inúmeras declarações de apoio nas redes sociais; uma quantidade imensa de participações em programas de TV. Sam se tornou um alvo constante da mídia.

O momento em que ele foi draftado pelo St. Louis Rams é emocionante e foi reproduzido nos mais diversos sites e canais de TV. Muito choro e um beijo em seu namorado marcaram aquela cena única e inesquecível para todos que tinham um mínimo de envolvimento com o esporte. Afinal, não só o futebol americano, como qualquer modalidade esportiva, é movida pelos momentos emocionantes e que ficarão guardados na memória para sempre.

* Björn Werner, defensive end, foi draftado pelo Indianapolis Colts em 2013, mas jogou em universidade norte-americana.

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