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 ‘O Castelo Animado’: quando as dificuldades nos fazem amadurecer 

Assim como outros filmes do Studio Ghibli, O Castelo Animado é mais uma animação que não decepciona ao entregar profundidade de forma tão minuciosa que só Hayao Miyazaki sabe fazer

O filme O Castelo Animado (Howl no Ugoku Shiro, 2004), dirigido por Hayao Miyazaki e produzido pelo Studio Ghibli, acompanha a jornada de Sophie, uma jovem sem muitas ambições na vida e que ocupa seu tempo produzindo chapéus na loja da família para dar continuidade ao sonho do falecido pai. Ao ser abordada por oficiais militares que tentam assediá-la nas ruas da cidade, um feiticeiro a salva e a ajuda a chegar em casa em segurança. Sophie, então, descobre que o jovem era Howl, conhecido por ser galanteador e por “roubar” o coração de mulheres bonitas.   

Em cena do filme O Castelo Animado, Sophie e Howl fugindo dos militares pelos telhados das casas da cidade.
Sophie e Howl fugindo dos militares. [Imagem: Divulgação/Studio Ghibli]
No entanto, o encontro dos dois personagens desperta ciúmes em uma bruxa que lança um feitiço em Sophie e a transforma em uma idosa. Após o infortúnio, a protagonista de O Castelo Animado foge de casa em busca de reencontrar a bruxa e desfazer a maldição. Vagando pelas chamadas “Terras Abandonadas” ela encontra o castelo de Howl, que a serve de abrigo enquanto trabalha de faxineira no local. A partir disso, o espectador embarca na aventura dos dois e é introduzido a outros personagens que serão importantes na trama: um menino chamado Markl, um espantalho encantado e Calcifer, um demônio do fogo que faz o castelo se mover.  

Em primeiro lugar, é importante salientar o impacto da mudança da aparência da protagonista em uma sociedade superficial como a apresentada. Sobretudo as mulheres parecem valorizar o físico como o bem mais importante, o que não choca se comparar com a realidade fora da ficção, visto que as mulheres são, com frequência, mais cobradas que os homens para serem atraentes aos olhos do outro. Assim, Sophie é uma personagem insegura, e sua insegurança cria barreiras para, inclusive, quebrar o feitiço que a prende na aparência de uma idosa. Porém, essa pressão estética não se limita às moças, pois Howl também sente dificuldade de se enxergar forte e capaz sem ser belo, e Markl precisa se disfarçar para ter credibilidade entre os moradores. Além disso, o próprio castelo, enorme e cheio de detalhes, mostra a sua grandiosidade e excentricidade por meio da estética, recurso também presente em A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001), do mesmo diretor.  

Em cena de O Castelo Animado, Sophie ao ser transformada em uma idosa pela bruxa.
Sophie ao ser transformada pela bruxa. [Imagem: Divulgação/Studio Ghibli]
Outro ponto a se considerar é o contraste entre a natureza e as máquinas. Enquanto, por um lado, a paisagem natural e, de certa forma, bucólica, de vastos campos verdes e lagos límpidos é abordada como um escape à rotina dos personagens, conferindo calma e tranquilidade em meio aos momentos de caos, por outro lado, as artimanhas tecnológicas causam o efeito contrário. Em algumas cenas do filme O Castelo Animado, é possível perceber a sobreposição das máquinas nesses instantes de paz, como os aviões que sobrevoam o céu azul e até mesmo o castelo de Howl, quase inteiramente composto por ferro, que caminha pelos montes. Nessas passagens, as expectativas são quebradas pela interferência humana na natureza.  

Um artifício comumente usado em películas do Miyazaki é o crescimento como consequência da vitória sobre as dificuldades. Nesse sentido, é inegável o quanto os protagonistas amadurecem conforme o desenrolar de O Castelo Animado. Sophie no início era uma garota insegura, que não entendia bem seus sentimentos e nem a ela mesma, porém, ao final, se torna a peça chave para a resolução dos problemas da trama, assim, ao olhar mais atentamente e a fundo para seu eu interior e para o que a cerca, passa por cima dos obstáculos que a aprisionavam. Howl, por sua vez, lido a princípio como um jovem fútil e irresponsável, consegue proteger a sua família do inimigo e mostrar o seu valor, mesmo que isso o custe muito.  

Vale ressaltar que a transformação dos dois não é observada apenas em seu interior, mas projeta-se para o exterior na aparência física. Tanto Sophie quanto Howl possuem a cor de seus cabelos modificada a partir de um episódio determinante. Isso reflete a ideia de que acontecimentos nos mudam de um jeito que não é possível sermos a pessoa que seremos no futuro sem antes vivermos os contratempos do presente.    

Em cena de O Castelo Animado, Howl em sua forma não-humana carrega Sophie no colo
Howl em sua forma não-humana. [Imagem: Divulgação/Studio Ghibli]
 A forma com que Hayao Miyazaki aborda questões mundanas entrelaçadas com a fantasia é única, de tal maneira que ao comparar um longa-metragem com o outro é possível ver detalhes que se repetem, gerando uma identificação quase que imediata com a autoria. A profundidade de seus filmes certamente é um diferencial que consolida o diretor no mercado cinematográfico e faz com que o Studio Ghibli seja referência internacional no ramo das animações. 

Por fim, a trilha sonora e a fotografia nos abraçam de tal jeito que é difícil desgrudar os olhos da tela e não se sentir mergulhado na história. Indicado ao Oscar pela categoria de melhor animação, O Castelo Animado é uma dessas obras que marcam quem as assiste, uma produção que vale a pena ser contemplada pelo menos uma vez em vida.  

O longa O Castelo Animado está disponível para todos os assinantes da Netflix Brasil. Confira o trailer dublado em português:

*Imagem da capa: Divulgação/Studio Ghibli

2 comentários em “ ‘O Castelo Animado’: quando as dificuldades nos fazem amadurecer ”

  1. Amei a crítica! Quanto mais eu lia, mais vontade deu de assistir, haha. Me senti muito envolvida ao longo do texto e com certeza vou colocar o longa na minha lista após ler suas considerações sobre ele :))

  2. Que delicioso foi relembrar desse filmaço lendo essa crítica, a trilha sonora já estava até tocando na minha cabeça no final hahaha

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