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‘O Homem do Norte’: uma escorregada no percurso de Robert Eggers como diretor

O terceiro longa-metragem do Robert Eggers é decepcionante e não parece simbolizar sua capacidade como diretor, apenas reforça um caminho comercial comum do cinema contemporâneo

Hoje, 12 de Maio de 2022, estreia o novo filme do jovem e aclamado diretor Robert Eggers, O homem do norte (The Northman, 2022). Caso você vá ao cinema buscando a excentricidade, os takes nada comuns e os roteiros inovadores que o diretor estadunidense demonstrou nos outros dois longas-metragem que levam seu nome, A Bruxa (The Witch, 2015) e O Farol (The Lighthouse, 2019), dê meia volta e vá fazer outra coisa. Apesar da reciclagem de atores de sucesso que já atuaram nos outros filmes de Eggers, como Willem Dafoe ou Anya-Taylor Joy, ou de atores de grandes nomes, como Nicole Kidman, o filme O Homem do Norte (2022) não representa nada do seu potencial como diretor.

O início do filme é instigante e promissor. O enredo, baseado em uma lenda mitológica nórdica que inspirou Shakespeare na peça Hamlet, conta a história de Amleth (Oscar Novak), filho do Rei Aurvandill (Ethan Hawke) e sucessor do trono no reino onde moram. O Rei Aurvandill acaba de voltar de um longo período fora, por conta de guerras e receoso por estar ferido gravemente, chama seu filho para um ritual de passagem, que torna Amleth capaz de assumir o trono. Neste mesmo momento, ocorre uma promessa em que Amleth se compromete a proteger o rei a qualquer custo, vingando qualquer um que tente machucá-lo. O ritual de passagem é um dos pontos altos do filme, posto que os três atores que contracenam, Ethan Hawke, Oscar Novak e Willem Dafoe, representando o mediador do ritual, conseguem retratar muito bem uma situação sagrada e de extrema importância para os personagens. Logo após esta cena, o Rei Aurvandill é morto pelo próprio irmão, Fjölnir (Claes Bang), na frente de seu filho. A partir daí, o sentimento de vingança de Amleth com quem assassinou seu pai se torna motor do enredo.

Rei montado em seu cavalo branco, sob a neve, acompanhado por guerreiros.
Rei Aurvandill (Ethan Hawke) chegando em seu reino após um longo tempo distante em O Homem do Norte. [imagem: Divulgação/Universal]
O desenrolar do filme apresenta um enredo mal desenvolvido e construções de personagens rápidas e rasas. Passam-se anos e o pequeno Amleth, por crescer sem pais e sozinho, se torna um homem bruto, violento e destemido, interpretado agora por Alexander Skårsgard. O ator sueco também é outro destaque do filme, pois consegue representar bem a ferocidade que o filho do rei adquiriu durante tempos solitários. 

Todo o enredo baseado em destino, linha exotérica que o diretor escolhe como fio condutor, faz com que eventos extraordinários ocorram de uma hora para outra, sem qualquer explicação ou razão. De repente, uma bruxa, interpretada pela cantora Björk, relembra toda raiva que Amleth nutre por seu tio, sentimento que aparentemente ele tinha “esquecido”, posto que fazia anos da morte de seu pai. E, subitamente, uma história de “amor verdadeiro” se inicia entre Amleth e Olga (Anya-Taylor Joy) sem nenhum contexto ou esclarecimento.

Um aspecto interessante do roteiro, escrito por Robert Eggers, é a forma como a vingança e o que é “certo” a se fazer são questionados. Amleth, por um lado, busca vingar o que fizeram com seu pai na mesma moeda, ou seja, matando seu assassino. Porém, no final do filme, descobrimos pela voz da Rainha Gudrún (Nicole Kidman), mãe de Amleth, que o Rei Aurvandill, seu ex-marido, era um homem abusador e nada fiel, informação que não sabemos se é verdadeira. Esta cena é bem marcante, pois Nicole Kidman faz um discurso emocionante e convincente, que condiz com a sua atuação de grande notoriedade no resto do filme, apesar de sua personagem ser secundária. A partir dessa descoberta, por outro lado, Amleth estaria defendendo alguém que fazia mal à sua mãe, deste modo não seria o mais correto. Infelizmente, este questionamento é pouco desenvolvido no filme e a decisão de Amleth é baseada apenas em seu destino.

Do ponto de vista técnico, o filme não apresenta nada de inovador como  outros filmes de Robert Eggers. Não existem takes inesperados como em O Farol, efeitos especiais muito bem trabalhados ou um enredo cativante que se diferencie de qualquer outro filme de herói. Por outro lado, dois aspectos surpreendem: a escolha dos cenários foi feliz, pois se tratam de lugares que acrescentam esteticamente à história e ao seu contexto, além de serem muito bonitos. Outro aspecto positivo é a trilha sonora composta por Robin Carolan e Sebastian Gainsborough, que contribui para a atmosfera mórbida e tensa do filme, de maneira semelhante às trilhas dos outros longa-metragens do diretor, compostas pelo talentoso Mark Korven.

Considerando todos os pontos, o filme O Homem do Norte traz certa decepção aos apreciadores de cinema e, principalmente, aos admiradores do diretor Robert Eggers. Fica a impressão, comparando aos seus outros longa-metragens, que o diretor não quis se arriscar e, mesmo com um orçamento muito maior disponível, escolheu ir para um lado mais comercial.

O filme estreou dia 12 de maio nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:

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