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O teatro musical em terras brasileiras

Do teatro de revista às superproduções, o teatro musical no Brasil vem se desenvolvendo nos últimos tempos com peças aclamadas pelo público e enredos sobre artistas nacionais

No início de sua jornada no Brasil, no século 19, o teatro musical era visto como um gênero que não passava tanta seriedade como as óperas que existiam no momento. A análise é dos pesquisadores Adriana Barea Cardoso, Angelo José Fernandes e Cassio Cardoso Filho em seu trabalho Breve história do teatro musical no Brasil e compilação de seus títulos. Ainda sim, o Teatro de Revista — como era conhecido em seus primórdios — foi se desenvolvendo cada vez mais nas terras brasileiras, desde sua primeira produção no ano de 1859, com o título As Surpresas do Sr. José da Piedade.

Desde então, as obras disponíveis no Brasil não se limitam à reprodução de peças estrangeiras. Grandes nomes já se aventuraram pela dramaturgia musical e trouxeram espetáculos icônicos, como Chico Buarque e seu Roda Viva, além de diversos musicais biográficos de artistas que marcaram o cenário nacional, como Elis Regina, Tim Maia e Cássia Eller. 

Mas Roda Viva também é um exemplo de como a censura atrapalhou a crescente das produções teatrais no Brasil. O elenco do musical, que conta a história de Benedito Silva, foi alvo de agressões por funcionários do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) logo após o final da encenação, no período da ditadura civil-militar brasileira. O elenco estava no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, que foi depredado também pelo CCC.

Fotografia de rua na Broadway. Vários carros amarelos e pretos transitam pela via em frente à fachada de prédio e letreiros luminoso
A Broadway contém cerca de 41 teatros profissionais que abrigam musicais de alto prestígio junto à crítica e ao público. [Imagem: jimmy teoh/ Pexels]

Apesar de enfrentar tempos difíceis à livre expressão cultural, os musicais brasileiros seguiram sua jornada para o sucesso e não deixam a desejar, mesmo quando comparados às peças da Broadway — conhecida por suas grandes produções teatrais na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. “As produções brasileiras estão em um nível tão profissional ou até melhor quanto os da Broadway e de West End [em Londres]. Somos o terceiro país do mundo a produzir e consumir teatro musical, segundo a Music Theatre International (MTI)”, conta
Adriana Barea, especialista em Teatro Musical e técnica de canto Belting em Nova Iorque.

Neste sentido, além de textos escritos por brasileiros, não se pode deixar de fora os clássicos que foram encenados em palcos nacionais. Títulos como A  Noviça Rebelde (2018) e Os Miseráveis (2017) ganharam versões em português e cenários grandiosos, com boas críticas pelo público.

 

 

Mas qual o impacto do teatro musical no Brasil?

O teatro musical movimentou, somente na cidade de São Paulo, R$1 bilhão em 2018, como indica pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Os dados apontam ainda que cada R$1,00 investido no gênero gera o retorno de R$8,25 na economia local. Além da movimentação direta, também aparecem os impactos em alimentação, hospedagem, transporte e outros setores que ganham com as atividades dos espectadores.

Com a crescente do teatro musical no Brasil, o cenário se expande para aqueles que têm interesse em ingressar profissionalmente no setor. “Cada vez mais estão aparecendo oportunidades para os aspirantes a artistas do teatro musical no Brasil, bem como cursos profissionalizantes que até pouco tempo atrás eram escassos”, declara Adriana. 

Mas o teatro musical ainda encontra dificuldades para expandir os espetáculos fora do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Um dos desafios para as produtoras é a interiorização dos espetáculos de modo a abranger não somente o eixo Rio-São Paulo dadas as dimensões continentais do nosso país, o que favoreceria o acesso e o surgimento de novos mercados, tematizando inclusive as culturas locais”, afirma a pesquisadora.

 


Desafios para ocupar outras regiões

Marilia Di Dio, uma das fundadoras do site Cena Musical — que divulga os espetáculos no eixo Rio-São Paulo —, conta as dificuldades de levar uma peça para outras cidades e como, muitas vezes, a expansão geográfica não é viável por falta de espaços que comportem a estrutura técnica: “É muito dinheiro que se gasta para se deslocar ou você vai ter que levar a peça muito menor”. Ela relata que para fazer a mudança da peça na qual está trabalhando no momento, de um teatro para o outro, sendo os dois localizados em São Paulo, foram utilizados 18 caminhões. Apesar disso, Marília afirma que existe público para os espetáculos em cidades do interior e que o desafio maior é a logística.

Marília atualmente trabalha com o espetáculo Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate, que não é uma réplica, mas sim uma produção montada totalmente em solo nacional.

 


Em cerca de 20 anos de cobertura, Marília viu de perto a evolução dos espetáculos no Brasil e a consolidação do cenário do teatro musical.
“O brasileiro ainda tem que ser convencido a ir ao teatro, tem que ser uma peça que seja muito famosa, ou um ator que seja famoso para convencer”, narra ela sobre a questão cultural no país. Apesar disso, a fundadora do Cena Musical acredita que essa postura tem mudado e que, ao longo do tempo, o teatro musical conseguiu criar um mercado mais consolidado, que movimenta os espectadores para muito além de sentar na poltrona e assistir ao espetáculo.

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