Por José Paulo Mendes
Todo derby começa com um grito uníssono do lado alviverde: “Em 93, nós ganhamos o paulistão”, aquele título que foi o primeiro da gloriosa Era Parmalat do Palmeiras. Se não o título mais vistoso, com certeza o mais comemorado dessa década dourada para os palestrinos.
A campanha era perfeita, tudo levava a crer que o título viria ao som de música em dois jogos no Morumbi contra o maior rival. O jejum de quase vinte anos iria acabar e todos os alviverdes poderiam gritar “é campeão” após 180 minutos. Quando em meio a orquestra palmeirense, uma Viola surge e faz o único tento dos primeiros 90 minutos.
Não bastasse ter balançado a rede e os corações confiantes dos palmeirenses, Viola resolveu provocar o rival numa atitude típica de seu tempo. O camisa 9 corintiano comemorou o gol imitando um porco, o que mexeria com a cabeça dos alviverdes pelo resto do primeiro embate da final.
A semana seguinte ao primeiro clássico e precedente a finalíssima foi uma das mais noventistas, com provocação entre os rivais da década de 90. A cada novo comentário corintiano, a cada nova provocação alvinegra, só aumentava a vontade palmeirense de quem estava há quase 20 anos faminto por um estadual.
Quem via o rosto dos jogadores no Morumbi em 12 de junho de 1993 não teria dúvidas, o Palmeiras sairia campeão daquele jogo, e a vitória seria dura de se engolir para os corintianos, que perderam seus dentes deixando o rival mordido para a finalíssima.
Foram 36 minutos de tensão, os mais de 100 mil expectadores estavam todos tensos, sobretudo do lado verde, que viam o título escapar pela mãos. Até que Zinho, um dos símbolos daquela era alviverde, balançou as redes para o Verdão, que já dominava as ações do jogo há muito tempo. Ainda no primeiro tempo Henrique não aguentou o baque e foi expulso.
A trave e Ronaldo evitavam que as redes fossem balançadas novamente pelos palmeirenses, mas Edmundo, o animal, tratou de resolver a situação a sua maneira. Mais uma vez, Ronaldo evitaria um gol do 7 alviverde, mas isso custou a sua presença em campo, falta do último homem, cartão vermelho para o arqueiro alvinegro. Tonhão acompanharia o rival na saída de campo, em uma expulsão até hoje difícil de entender.
O resto do jogo foi apenas para ver a arte da orquestra alviverde, dali em diante foram mais dois gols até a prorrogação, ambos dos alviverdes. No primeiro, Mazinho fez linda jogada e só serviu Evair e o segundo de Edílson, o capetinha que anos mais tarde trocaria de manto e que provocaria muito os palmeirenses.
Terminada a contagem regulamentar, viria a prorrogação. Eram tempos diferentes, em que o saldo de gol ainda não era um critério de desempate, ao menos nos campeonatos mais românticos como os estaduais.
O Corinthians voltava ao campo fechado, sem deixar passar uma agulha por sua defesa, durante 8 minutos deu certo, mas Edmundo costurou a defesa e se encaminhava para o gol quando Ezequiel o derrubou na área. Pênalti! Seguido de uma confusão generalizada e cenas lamentáveis que marcaram o confronto entre os rivais por toda a década.
Evair vai para a cobrança do penal. Preciso! Bola para um lado, goleiro para o outro. Não tinha mais jeito, a vitória seria alviverde, assim como previsto antes de a bola rolar. O resto do tempo serviu apenas para os jogadores do Palmeiras devolveram as provocações de Viola com futebol arte até o apito final de José Aparecido de Oliveira.
Para os palmeirenses era a redenção depois de quase vinte anos sem ganhar o estadual, era a vingança pelas provocações de Viola, era o início de uma era de ouro há muito esperada pelo torcedor alviverde. Foi assim que aquela conquista marcou na história do palmeirense e bastou apenas tempo para a história virar provocação com os rivais e a provocação virar música, que se tornou o arrepiante hino palestrino antes de cada derby.