Lady Jane mostra que a vingança nem sempre é a melhor saída
Ricky Hiraoka
Era para ser mais um dia comum na vida de Muriel (Ariane Ascaride). Ela acordou, olhou-se no espelho e procurou seu filho Martin, que não estava em casa. Muriel foi para sua loja e lá recebeu uma ligação. Era o celular de Martin. Mas quem estava do outro lado da linha não era seu filho. O interlocutor de Muriel exigia 200 mil euros em troca do garoto. Mais do que anunciar o seqüestro de Martin, o telefonema vai trazer à tona feridas do passado que Muriel julgava estarem cicatrizadas bem como revelar a obscura história que a logista esconde.
Lady Jane é um thriller incomum.Não se vê o costumeiro corre-corre, os silêncios são longos e incômodos e a tensão está centrada nos detalhes. Nunca fumar foi tão desesperador. Os perturbadores olhares conseguem ser mais significativo do qualquer diálogo. Graças às inspiradíssimas e contidas atuações do trio de protagonistas, tudo é explicitado nos pequenos gestos.
Apesar de possuir uma narrativa um tanto lenta, o filme de Robert Guédiguian oferece ao espectador momentos de tirar o fôlego. Lady Jane, em sua metade, nos surpreende com uma virada e a tensão constante se dissolve, ficando-se com a sensação que o fio da meada foi perdido. O que acontece, na verdade, é uma mudança de gênero. Cessa-se o suspense e abre-se espaço ao drama. O drama de quem tem que enfrentar as conseqüências dos próprios atos. O drama de quem percebe que a vingança é incapaz de sanar o mais profundo dos sofrimentos.