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O Quarto Desnudo: Comovente, apesar de decepcionante

por Vitor de Andrade vitortheandrade@gmail.com Psiquiatra: Você pode me garantir que não vai tentar se matar quando sair daqui? Haydé: Não sei. “O Quarto Desnudo”(El Cuarto Desnudo, 2013) é um documentário mexicano que se propõe a mostrar um universo sem sair de um único espaço: uma sala de psiquiatria infantil na Cidade do México. O …

O Quarto Desnudo: Comovente, apesar de decepcionante Leia mais »

por Vitor de Andrade
vitortheandrade@gmail.com

Psiquiatra: Você pode me garantir que não vai tentar se matar quando sair daqui?
Haydé: Não sei.

“O Quarto Desnudo”(El Cuarto Desnudo, 2013) é um documentário mexicano que se propõe a mostrar um universo sem sair de um único espaço: uma sala de psiquiatria infantil na Cidade do México. O título não mente: lá são revelados os traumas, os problemas e os distúrbios de crianças e adolescentes atormentados psicologicamente. São variadas as adversidades que estes jovens enfrentam: depressão, agressividade, esquizofrenia, abuso sexual e outros casos, que rendem depoimentos comoventes e que envolvem o espectador em uma reflexão sobre a fragilidade da natureza humana. Desnudas e sem nenhuma limitação, são expostas as tramas de meninos e meninas aflingidos pela realidade social do México.

http://www.reconoce.mx/wp-content/uploads/cuarto-desnudo-gb.pngPsiquiatra: Quando você foi estuprado?
Giovanni: Aos 8 anos.
Psiquiatra: Você falou com alguém?
Giovanni: Não.

O filme é eficaz em sensibilizar o espectador, apesar de não possuir enredo, desenvolvimento ou objetivo esclarecido. Está aí um aspecto que pode significar tanto uma fraqueza dramática ou uma força poética: durante todo o longa, vemos o mesmo enquadramento, no mesmo ambiente, ouvimos as mesmas perguntas, respondidas pelas mesmas pessoas, em volta de um único tema, o que torna a estrutura do documentário um pouco fria e morosa. Porém esta morosidade parece ter intenção de rodear de ainda mais mistério a situação dos entrevistados, cujo estado mental já é uma incógnita. Uma qualidade forte de O Quarto Desnudo é encher a mente do espectador de pensamentos e reflexões sem o uso de roteiro, efeitos especiais, diálogos desenvolvidos, recursos visuais fantásticos, sem sequer trilha sonora ou qualquer outra coisa que um filme blockbuster lança mão para atrair o público.

Psiquiatra: Porquê você foi expulso da escola?
Adrian: Porque batia nos meus colegas.
Psiquiatra: Porquê você batia neles?
Adrian: …
Psiquiatra: Adrian, porquê você batia neles?
Adrian: [olha pro outro lado] …

Este longa cheio de lágrimas expostas e gotas de sangue ocultadas mostra uma realidade que queremos ignorar: a sociedade urbanizada está nos maltratando psicologicamente, e a coerção societária pressiona os mais instáveis desde os primeiros anos de vida. A imposição de uma necessidade de inserção social torna os seres humanos, principalmente os jovens, angustiados psicologicamente. E é neste quarto que ouvimos a história das piores vítimas deste problema, crianças e adolescentes tão abalados por esta realidade que sua única porta de fuga é a violência, contra seus próximos ou a si mesmos.

Caros leitores, eu recomendaria sem nenhuma hesitação que os senhores e senhoritas corressem para ver este documentário se não fosse um detalhe. Aliás não um detalhe, um pecado grave que simplesmente me torna desmotivado a aconselhá-los “O Quarto Desnudo”. E vou lhe dizer o defeito: o filme acaba muito antes do que deveria, sem apresentar ao público sequer uma sombra de resolução. Meu choque com a falta de um “final” apropriado foi tão grande que esperei que todos os créditos passassem na tela, para garantir que aquilo era o fim mesmo. Pesquisei a existência de um “O Quarto Desnudo 2”, porém, não achei, e aquilo era tudo mesmo que a obra tinha a me oferecer, uma exposição de ótimas histórias sem a dignidade de ter um fechamento. E assim ficou abandonada uma profunda lacuna em minha mente e dos que assistiam junto a mim, que como eu esperavam um desfecho a todos aqueles dramas. Provavelmente nunca saberemos onde e como estão aqueles jovens atormentados.

Ainda, porém, recomendo o filme, apesar de minha forte hesitação. As histórias são capazes de amolecer os corações mais sólidos e levar à reflexão as mentes mais rígidas. Apenas peço que se conforme com o fato de que você será deixado à deriva após 1 hora e 8 minutos de sensibilidade.

O documentário será exibido na Cinemateca – Sala Petrobrás (24/10,17:00) e no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca (26/10, 21:00).

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