“Um urso negro de 79 quilos morreu, aparentemente, de uma overdose de cocaína, depois de descobrir um lote da droga. Aparentemente, a cocaína foi lançada de um avião pilotado por Andrew Thornton, um traficante de drogas condenado, que morreu em 11 de setembro em Knoxville, Tennessee (EUA), porque carregava uma carga muito pesada durante o paraquedismo”.
O que poderia ser a sinopse de uma série de suspense ou a contracapa de um livro de ficção é, na verdade, uma nota nas páginas do New York Times, um dos jornais mais relevantes dos Estados Unidos. Por mais absurdo que pareça, sim, um urso morreu de overdose em um parque nacional no condado de Fannin, na Geórgia. Seu corpo foi encontrado junto com 40 recipientes de plástico abertos e vestígios de cocaína e seu estômago estava repleto de drogas. Essa história aconteceu em 1985, época em que os Estados Unidos viviam uma epidemia de drogas.
Se a história não virou uma série ou um livro, agora ela ganhou contornos de um bom roteiro de filme em O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear, 2023), que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 30 de março. Com roteiro de Jimmy Warden e direção de Elizabeth Banks, conhecida por seus trabalhos como atriz em filmes como Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012) e que tem investido na carreira de diretora, a história ganha novos rumos. Ao invés de morrer, o urso – ou melhor, a ursa – fica viciada na droga e ataca violentamente turistas do parque na busca por mais pacotes.
Apesar do tema amedrontador, o slasher está mais para uma boa comédia graças ao seu elenco, fiel à proposta do filme. Personagens caricatas, como um trilheiro hippie, um traficante sensível e adolescentes revoltados, todos em meio a situações inusitadas e tentativas de sobrevivência frustradas, são rasos o suficiente para não lamentarmos quando são atacados pela ursa, mas ingênuos na medida certa para render boas risadas.
A exceção é uma mãe (Keri Russell) e o amigo de sua filha (Christian Convery) na saga para encontrar e salvar a menina, interpretada por Brooklynn Prince, dando um ar de aventura e reconciliação familiar que muitos filmes norte-americanos se propõem a ter. Convery tem uma atuação carismática e se destaca, assim como Aaron Holliday, que interpreta Stache, um dos adolescentes. Vale também a menção a Ray Liotta, em um de seus últimos papéis no cinema. O ator faleceu em maio de 2022.
Os assassinatos em série e o banho de sangue não assustam. A maquiagem para os ferimentos e os efeitos para reproduzir a ursa convencem e em nada lembram os estragos arrepiantes e a sensação angustiante causados também por um urso em O Regresso (The Revenant, 2016), que rendeu o Oscar de melhor ator a Leonardo Di Caprio. A proposta de O Urso do Pó Branco é ser leve, bobo e esquecível, aproximando-se de um besteirol. E ele cumpre bem sua função.
Se uma ursa viciada atacando pessoas em busca de drogas parece bizarro, também não o deixa de ser o destino da ursa no mundo real – sempre superando a arte. A necropsia da ursa detectou hemorragia cerebral, insuficiência renal, cardíaca e respiratória e muito mais. Mas isso não foi suficiente para comover a população. A ursa foi empalhada e está exposta em um shopping, o Kentucky for Kentucky Fun Mall, e se tornou um atrativo para turistas da região, além do apelido de Pablo Eskobear, em referência ao famoso traficante colombiano. Se o mais bizarro é o filme ou as atitudes dos humanos, você que decide.
O filme já está disponível nos cinemas. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Universal Studios