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Observatório | Eleições 2022: Os resultados do 1º turno e desdobramentos para o 2º turno

Pesquisas mostram Lula na liderança no segundo turno. Um possível governo do candidato será marcado por dificuldades, apontam especialistas

As eleições de 2022 tiveram início no dia 02 de outubro e contaram com 11 candidatos na disputa para presidência. A votação começou às 8h, no horário de Brasília, e se estendeu até depois das 17h, horário previsto para o encerramento, pelo longo tempo de espera nas filas das seções. Muitos eleitores em várias regiões do país reclamaram da demora para conseguir votar. Em alguns estados, como em Belo Horizonte, a espera durou cerca de duas horas. 

As principais explicações para esse cenário foram as dificuldades com a biometria e o grande número de eleitores presentes. Outro fator que explica o tamanho das filas são os eleitores que não levaram um papel com o número dos candidatos e tiveram dificuldade na hora de votar. 

Eleições presidenciais 

Segundo Maria Tereza Sadek, professora pós-doutorada do programa de Ciência Política da USP, a corrida presidencial deste ano é uma das mais marcantes em toda a história da política brasileira:“ocorreu uma radicalização num grau muito superior àquele que já vinha ocorrendo há muito tempo no país”. A democracia nacional vem sendo pauta de debates em todo o território verde-amarelo e, para muitos, a eleição coloca em jogo importantes pontos da cidadania no Brasil. 

A disputa entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL) foram acirradas e provocaram grandes ondas de tensão entre os eleitores. Em pesquisas feitas pelo Datafolha, um dia antes das eleições (01/10), os resultados apontavam para uma possível vitória no 1º turno de Lula com 50% dos votos válidos, contra Bolsonaro que, segundo a coleta de dados, contaria com apenas 36%. 

O Ipec apresentou resultados semelhantes: o candidato petista contaria com 51% dos votos válidos, enquanto o candidato do PL apresentaria 37%. No dia 02 de outubro, os resultados das eleições foram divulgados e causaram surpresa em grande parte do eleitorado — Lula recebeu 48,4% dos votos válidos (57.259.504 votos), entrando para a margem de erro. Bolsonaro, no entanto, contou com 43,2% (51.072.345 votos), marcando 6 pontos de diferença em relação às pesquisas. 

Segundo os institutos de pesquisa, os erros apresentados se deram em razão de cidadãos que estavam indecisos no momento da coleta e de eleitores do Ciro Gomes (PDT), uma vez que ambos teriam mudado seus votos de última hora com medo de uma possível vitória de Lula. 

A professora Maria Sadek também destaca o uso e disseminação das fake news como arma política para manipular a votação, fator que havia sido observado nas eleições de 2018 e parecem ter sido reforçadas esse ano. “O controle das fake news é quase uma missão impossível”.

Um estudo feito pela Avast, empresa de cibersegurança, mostrou que 79% dos brasileiros receberam informações falsas sobre as eleições de 2022.  [Imagem: Reprodução/Instagram/@jessicaserrab]

Quando questionada sobre os possíveis desdobramentos da eleição de cada um dos candidatos no 2º turno, Sadek esclarece que haveria problemas de governabilidade em ambos os casos devido à falta de harmonia entre os poderes executivo e legislativo. 

“É importante que, na democracia, o governo seja impulsionado em alguns momentos pelo Congresso e freado em outros momentos. Esse balanço entre os poderes é necessário”, comenta Arthur Felipe Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

De acordo com Murta, em um possível governo Bolsonaro esse equilíbrio não existirá devido ao domínio conservador sob o Congresso, o que facilita a aprovação de medidas alinhadas com os seus interesses. No caso de um governo Lula, o internacionalista aponta que o mandato do ex-presidente será marcado por concessões e barganhas. “Vai ser um governo com muita dificuldade de passar grandes reformas. Dificilmente veremos grandes inflexões na política brasileira”, diz o professor.

O Datafolha divulgou nesta sexta (07/10) uma nova pesquisa para o 2º turno presidencial que mostra o candidato do PT com 53% dos votos válidos, ganhando as eleições, e o atual presidente com 47% dos votos.  Na contagem dos votos válidos não são considerados os votos brancos, nulos e eleitores indecisos.

Nesta semana, alguns candidatos que não avançaram para o 2º turno passaram a se posicionar a respeito dos candidatos que disputam as eleições. A professora de Ciência Política comenta a relevância desses posicionamentos: “É importante do ponto de vista simbólico, mas não há garantia que o eleitorado obedeça àqueles em quem votaram.”

Disputa para governador em São Paulo

A última pesquisa feita pelo Ipec antes das eleições, divulgada no dia 1° de outubro, indicava que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) estaria na frente da disputa para o governo de São Paulo. O candidato do PT aparecia à frente, com 41% dos votos válidos, enquanto seu principal opositor, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), estaria com 31%. O DataFolha veiculou resultados similares: instituto de pesquisa mostrou Haddad na liderança com 39% dos votos válidos e Tarcísio com 31%. 

A realidade se mostrou diferente. A apuração das urnas revelou que o ex-ministro recebeu a maioria dos votos válidos, com 42,3% (9.881.995 votos). Já o ex-prefeito terminou o 1° turno com 35,7% (8.337.139 votos). O resultado colocou os dois candidatos no segundo turno e gerou dúvidas em parte da população quanto à confiabilidade das pesquisas eleitorais.

[Imagem: Reprodução/Instagram/@gabriela.bilo] 

Pela primeira vez em 28 anos, o PSDB está fora do segundo turno para governador em São Paulo. Com isso, o partido Republicanos tomou uma força enorme. Arthur Murta aponta que não vê uma possível vitória de Haddad no segundo turno, pois “o Tarcísio já se saiu muito bem no primeiro turno e agora ele tem o apoio da base do Rodrigo Garcia do PSDB”.

Apesar do partido não ter grandes experiências no Executivo e de Tarcísio não ser do estado de São Paulo, o candidato possui grandes chances de se eleger. Caso isso aconteça, o conservadorismo irá se fortalecer no estado cuja capital votou majoritariamente por Lula no primeiro turno. Murta enxerga essa movimentação de forma negativa, pois a vitória de Tarcísio pode significar um retrocesso para as instituições de pesquisas e universidades estaduais. 

“A Fapesp, fundação para pesquisa do Estado de São Paulo, já vem aprovando muito mais projetos de Ciência e Tecnologia do que de Humanidades. Então, existe uma tendência de aparelhagem da maior instituição de pesquisa estadual do Brasil, ou seja, determinados temas que não convêm ao bolsonarismo não estão sendo pesquisados. Soma-se a isso o corte das federais, haverá um golpe muito violento nas universidades federais e estaduais de São Paulo”, explica o professor.

O novo rosto do Congresso 

Também no dia 02, aconteceram as eleições para a formação do novo Congresso Nacional (que é formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado). Os resultados das eleições para esses cargos surpreendeu grande parte da população com a formação de um Congresso mais conservador do que o esperado quando considerado o fato de Lula, representante progressista, estar na frente na corrida presidencial. 

O gráfico indica a quantidade de votos que cada partido recebeu na eleição para deputado federal neste ano. O PL foi o partido que elegeu a maior bancada, com 99 deputados, na Câmara. [Imagem: Reprodução/TSE] 

A professora Maria Sadek comenta que o eleitorado brasileiro dificilmente apresenta coerência na escolha de seus candidatos. Dessa forma, não é surpresa, para a especialista, um senado com ideologias políticas distantes do candidato que se encontra na frente das eleições presidenciais. “Esse voto, que não é um voto que nós poderíamos chamar de coerente, entre Executivo e Legislativo sempre existiu, não é a primeira vez”, diz a especialista. 

O professor menciona que os partidos de centro, como é o caso do PL, do PP e MDB, têm uma tradição de ocupar os cargos do Legislativo, deixando as posições do Executivo para partidos maiores.

Essa ocorrência é comum na América Latina. Murta conta que “vários países dessa região, como Honduras, Paraguai, Peru e Chile elegiam os presidentes de um local de esquerda progressista, mas tinham um legislativo alinhado a uma pauta mais de direita conservadora”.

A principal explicação para esse contraste entre Executivo e Legislativo é, segundo Murta, o fato de que “a população deposita no Executivo toda a ideia de projeto de país”. Além disso, a troca de favores também é comum. O professor explica que quando o cargo é de um nível baixo, a população se sente mais próxima do candidato. Com isso, os votos são motivados pelo ganho direto, isto é,  privilégios que o eleitor pode receber ao votar em determinado candidato. “Esse voto pelo ganho direto é muito mais próximo da prefeitura do que do governo e é muito distante na presidência da república. Agora, para o legislativo, a troca de favores é muito mais próxima, tanto para a Assembleia Legislativa Estadual quanto para a Câmara Federal.”

Nessas eleições apenas ⅓ do senado brasileiro foi eleito, a banca possui 81 cadeiras e foram escolhidos 27, a escolha dos outros dois representantes para cada estado será feita apenas em 2026. Alguns nomes causaram comoção nas redes sociais entre os eleitores de camadas mais progressistas quando foram divulgados, como: Damares Alves (Republicanos), eleita no Distrito Federal com mais de 600 mil votos;  Sérgio Moro (União), eleito no Paraná com quase 2 milhões de votos; e Marcos Pontes (PL), eleito em São Paulo com quase 10 milhões de votos – todos ex-ministros de Bolsonaro. 

Chegada das urnas para as eleições.  [Imagem: Reprodução/Instagram/@gabriela.bilo] 

Após as eleições, o PL passou a contar com o maior número de cadeiras no senado com 13 representantes, seguido pelo União que conta com 12 dessas cadeiras. É importante lembrar que os candidatos que ganharam no Senado permanecem nessa cadeira pelos próximos 8 anos, diferentemente dos cargos de presidente, governador e deputado (todos possuem a cadeira por 4 anos). 

Os eleitos para Câmara de Deputados também chamaram a atenção do eleitorado. O deputado estadual com o maior número de votos foi Eduardo Suplicy (PT), que recebeu mais de 800 mil votos, e era o candidato com idade mais avançada (81 anos). No Rio de Janeiro, o deputado estadual com o maior número de votos foi Márcio Canella (União). Também foi destaque em São Paulo a candidatura da Bancada Feminista (Psol) que contou com mais de 250 mil votos. 

Para o cargo de deputado federal, o candidato Nikolas Ferreira (PL),  bolsonarista que iniciou sua carreira política por meio das redes sociais, recebeu o maior número de votos para o cargo no país. Nikolas, além de ser o deputado mais votado neste ano, também bateu o recorde do estado de Minas Gerais (1,47 milhão de votos), tornando-se o deputado com o maior número de votos no estado. 

Em São Paulo, Guilherme Boulos (Psol) foi o candidato que apresentou o maior número de votos (1 milhão) e foi marcante a vitória da candidata Erika Hilton (Psol), sendo a primeira travesti a ser eleita deputada federal no país, com mais de 250 mil votos. Sônia Guajajara (Psol) também se sobressai ao ser a primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal. 

https://www.instagram.com/p/CjOsyX8u-Db
Com 256 mil votos, Erika Hilton foi eleita deputada federal em São Paulo. A candidata é a primeira travesti a ocupar o Congresso Nacional

O segundo turno das eleições irá acontecer no dia 30 de outubro, último domingo do mês. Os cargos em disputa são o da presidência da República e o de governador (apenas para os estados em que a decisão não foi realizada no dia 02). O voto é obrigatório para brasileiros entre 18 e 69 anos e, para votar, um documento de identificação com foto é a única exigência.

Foto de capa: Roberto Jayme/TSE.

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