No sábado (14), autoridades da Suécia e da Finlândia reuniram-se para discutir a possível adesão dos dois países à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A decisão veio no dia seguinte (15) quando a Finlândia confirmou sua entrada no bloco militar e o partido em vigência na Suécia aprovou a candidatura do país ao bloco. A Rússia prontamente se posicionou contra a entrada dessas nações na aliança.
O que é a OTAN e quais os seus principais objetivos
A OTAN é uma aliança formada no cenário pós Segunda Guerra Mundial, em 1949, quando as nações temiam o surgimento de novos conflitos em grande escala. Inicialmente, seus objetivos visavam a segurança militar dos membros do grupo, com uma política de ajuda mútua entre eles, e a integração do continente europeu.
Durante a Guerra Fria, com a oposição crescente entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, a OTAN passou a ter outras finalidades, como conter o avanço comunista oriental e oferecer ajuda aos países integrantes em caso de ataques.
Guerra da Ucrânia e OTAN
Após o fim da União Soviética em 1991 e, em seguida, da Guerra Fria, a OTAN não deixou de ser uma ameaça para a Rússia. Exemplo disso foi quando o grupo incorporou três países próximos ao território russo: Estônia, Lituânia e Letônia. Para a Rússia, o fato dessas três ex-repúblicas soviéticas estarem presentes nessa organização é uma maneira de cercamento do seu território pelos países europeus e pelos Estados Unidos. De acordo com Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), essa expansão é vista pelos governos russos como um risco geopolítico para seu próprio território.
Para Vladimir Putin, presidente russo, a melhor maneira de resolver essa questão foi a partir da invasão do território ucraniano. Ao longo dos anos, o governante já exigiu muitas vezes, que a OTAN não incorporasse mais países no leste europeu e fornecesse a garantia de que a Ucrânia não seria aceita na organização.

Na guerra da Ucrânia, o papel da OTAN tem sido de oferecer ajuda financeira e militar para os ucranianos a fim de que o país possa defender seu território. Apesar desse auxílio, a Organização frisa que não enviará soldados para participar do conflito.
Antes do confronto eclodir, os Estados Unidos enviaram cerca de 2.000 soldados para a Romênia e Polônia, nações próximas à Ucrânia, além de outros soldados alocados em diferentes países europeus. Embora a OTAN não planeje atacar a Rússia, já existe um posicionamento estratégico e militar contra possíveis ameaças russas.
Além disso, há a aplicação de sanções econômicas contra a Rússia por países membros da Otan, que visa enfraquecer a economia russa e isolá-la no cenário internacional.
Santoro afirma, inclusive, que uma das causas da Guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, é a preocupação da Rússia com a expansão da OTAN e a possibilidade de que a Ucrânia possa se juntar à aliança.
OTAN e Rússia
Em 1997, foi assinado o “Ato Fundador OTAN-Rússia”, tratado que visava maior colaboração entre os envolvidos e garantiu um assento russo permanente no bloco, em Bruxelas. Nesse período, guerras russas estavam acontecendo na Chechênia e os membros da OTAN não concordavam com a postura da Rússia nesse conflito, evidenciando a diferença de modelos políticos, já que alguns países membros da organização acusam o presidente russo de sufocar a democracia.
Segundo o presidente russo, a OTAN é apenas um instrumento de política externa dos Estados Unidos, que tem uma forte disputa com a Rússia e seu poderio militar. Por isso, existe um medo, por parte da Rússia, de que os países membros da aliança possam invadir o seu país, devido à política anti-Rússia destes. Assim, Putin se sente ameaçado pelo avanço da OTAN em países próximos ao seu território, como os casos mais recentes, Suécia e Finlândia.

Suécia e Finlândia na OTAN
Do ponto de vista da aliança militar ocidental, a adesão dos países nórdicos é fator de fortalecimento, dado o aumento da fronteira do ocidente com a Rússia. Já acerca das nações sueca e finlandesa, fazer parte da OTAN é uma garantia de proteção contra os ataques de Vladimir Putin.
O posicionamento russo, por se sentir ameaçado pela adesão de dois novos países à aliança, é de retaliação imediata. Após declaração de interesse da Finlândia, no sábado (14), em fazer parte da OTAN, o país deixou de receber energia elétrica da Rússia, que vinha da empresa RAO Nordic, filial da estatal russa InterRAO.

A posição da Turquia
Embora seja um dos trinta países integrantes da OTAN, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, tem uma aproximação com o líder russo Vladimir Putin, o que a coloca numa posição delicada em relação à Guerra da Ucrânia.
Nas discussões sobre a entrada da Suécia e Finlândia para a aliança, por exemplo, a Turquia se posicionou contra. Para Santoro, “a Turquia se opõe à entrada da Suécia porque esse país recebeu como exilados militantes políticos curdos que lutam por sua independência da república turca, o que o governo turco considera como terroristas. Além disso, a Turquia tem, de fato, uma relação mais próxima com a Rússia, uma vez que ambas foram aliadas na guerra da Síria, apoiando o governo Assad contra diversos grupos rebeldes”, explica o professor.
Segundo o Artigo 10 do Tratado da OTAN, deve haver um acordo unânime entre os países membros no que diz respeito à integração de novos membros ao bloco. Nesse sentido, a Turquia representa uma oposição aos interesses do grupo em admitir a Suécia e a Finlândia, por conta de conflitos étnicos internos que ultrapassam as motivações da Guerra da Ucrânia.
Uma possível imparcialidade da OTAN
No cenário atual, a organização tem como principal objetivo defender os interesses dos países que fazem parte dela, como os Estados Unidos e grande parte do continente europeu, uma vez que, segundo Santoro, a OTAN é uma aliança militar que representa uma coalizão de países nas Américas e na Europa, lideradas pelos EUA.
É possível afirmar que pode não existir uma certa neutralidade por parte da OTAN pelo seu envolvimento com as potências líderes da aliança, como os Estados Unidos e o Reino Unido, os quais, por meio de seus posicionamentos ideológicos, influenciam nas interferências geopolíticas do grupo. Assim, embora tenha surgido com o intuito de integrar o continente europeu, os últimos passos da aliança têm causado certa instabilidade entre tais nações, que veem o avanço da OTAN como um comportamento imperialista.
[Imagem: Julia Magalhães – Jornalismo Júnior]
Muito bom!