Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Observatório | Joe Biden e Kamala Harris: um novo futuro para os Estados Unidos?

As últimas semanas foram de grande movimentação no território estadunidense. Com todos os holofotes da mídia mundial voltados para si, a maior potência econômica do planeta teve que decidir se confiava mais quatro anos de sua gestão ao republicano Donald Trump, ou se ela era passada para as mãos do democrata Joe Biden. Após quatro …

Observatório | Joe Biden e Kamala Harris: um novo futuro para os Estados Unidos? Leia mais »

As últimas semanas foram de grande movimentação no território estadunidense. Com todos os holofotes da mídia mundial voltados para si, a maior potência econômica do planeta teve que decidir se confiava mais quatro anos de sua gestão ao republicano Donald Trump, ou se ela era passada para as mãos do democrata Joe Biden.

Após quatro anos de um mandato polêmico, o resultado da eleição presidencial de 2020 não havia como ser diferente disso. Com 290 contra 232 votos eleitorais válidos, Joe Biden e Kamala Harris se consagraram os novos presidente e vice-presidente dos Estados Unidos, respectivamente. Com propostas muito distintas das que até então eram aplicadas pelo republicano, o Observatório explora o que deve-se esperar dessa nova fase política no país.

 

O cenário atípico de 2020

As eleições presidenciais estadunidenses seguem padrões atípicos comparados ao restante do mundo. A população participa com o voto indireto, escolhendo os integrantes de cada colégio eleitoral que, por sua vez, se reunirão no dia 14 de dezembro para oficializar Biden como a nova autoridade máxima do país.

Cada um dos 50 estados possui regras e prazos diferentes para a coleta dos votos, fator bastante caótico para a sua finalização. Somado a isso, as medidas protetivas para conter a pandemia de Covid-19 provocaram um salto quantitativo no número de votos entregues via correio, o que atrasou ainda mais a contagem. 

Todos esses contratempos tornaram a decisão mais demorada do que o habitual, principalmente nos estados-chave. Eles possuem maior número de delegados eleitorais, portanto são  extremamente influentes para a eleição. No entanto, todas as complicações com os prazos fizeram com que os resultados fossem imprevisíveis, dado que esses sete estados mantinham disputas acirradas.

Por fim, no dia 7 de novembro, os resultados finalmente apontaram Joe Biden como o 59º presidente dos Estados Unidos. Ao passo que a maioria da população eleitora comemorou euforicamente a vitória do democrata, Trump mostra-se intransigente em não reconhecê-la. Diante da acusação de fraude eleitoral sem provas, ele busca a recontagem de votos em cada condado, cujo prazo máximo para ocorrer é o dia 30 deste mês. Porém, tudo indica que a nova presidência não será anulada. 

Mapa dos resultados das Eleições dos EUA em 2020
Resultado das eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos por estado [Imagem: Reprodução/Google via The Associated Press]

Eleição histórica

Mesmo em ano de pandemia e com os votos não sendo obrigatórios no país, os EUA contaram com uma participação recorde nas eleições de 2020. Conforme a US Elections Project, pelo menos 160 milhões de pessoas participaram na votação e isso representa a maior adesão ao voto em 120 anos. 

Em entrevista à equipe do Observatório, Camilla Silva Geraldello, doutoranda em Ciência Política pelo Departamento de Ciência Política (DCP) da USP, explica que pela não obrigatoriedade do voto, é exigido dos candidatos e partidos grande investimento nas campanhas para convencer aqueles que são aptos a votar, votarem. Essas campanhas são direcionadas há muitos anos nos EUA aos perfis de eleitores e cidadãos diferentes. “Os democratas focam em afro-americanos, latinos e moradores das periferias, enquanto os republicanos focam em minar estes votos e conquistar novos eleitores em áreas rurais”, completa. 

Além disso, para ela, o motivo para essa mobilização expressiva que pôde ser vista nas eleições presidenciais dos EUA neste ano, pode ser explicado por meio da própria pandemia e no aumento da polarização. “Desde que assumiu a presidência, Donald Trump polarizava e buscava manter uma polarização ativa como parte de sua estratégia de comunicação. Com a pandemia, o negacionismo e a inação diante da quantidade de doentes e mortos, aqueles que não se importavam em votar decidiram participar, ao mesmo tempo, em que aqueles que acreditavam e gostavam do trabalho de Trump, conseguiram convencer outros a irem votar”, explica.

A eleição da vice-presidente Kamala Harris também é uma característica que confere às eleições presidenciais estadunidenses o caráter histórico. Seu nome entra para história como a da primeira mulher a ocupar a vice-presidência no país, além de ser a primeira pessoa negra e de descendência indiana a ocupar o cargo. Em seu primeiro discurso como vice, Kamala falou sobre a participação política das mulheres. Uma de suas frases mais emblemáticas foi: “embora eu possa ser a primeira mulher neste escritório, não serei a última”. 

A doutoranda e mestra em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) Beatriz Rodrigues Sanchez, disse em entrevista ao Observatório que assim como apontam as teorias feministas da representação política, é muito importante que se tenham mais mulheres e pessoas de grupos marginalizados ocupando espaços de poder. 

Beatriz ressalta que a “dimensão simbólica do que se convencionou chamar de ‘representatividade’ é fundamental. No entanto, ela não é suficiente. Por isso, precisamos adotar uma perspectiva crítica sobre seus limites. Não somente a presença de mulheres e pessoas não brancas importa, mas também o conteúdo da representação política, as pautas defendidas por elas”. 

Ela coloca que as perspectivas sociais de todas as mulheres devem ser representadas e pontua que além de Kamala, o Legislativo contou com a eleição diversa de mulheres, entre trans, negras e latinas. Apesar disso, há um longo caminho a ser percorrido até que se alcance a  igualdade. 

 

Por trás das propostas: política externa e ambiental

Apesar de todas as mudanças propostas por Biden, em relação à conduta Trump, como a condução da pandemia, medidas sobre imigração e mudanças climáticas, alguns temas não devem sofrer uma mudança tão drástica. 

“Embora a composição demográfica da população dos EUA esteja mudando, ainda há muitos estadunidenses que assumem o discurso do ‘estrangeiro invasor’. Assim, no tocante à política migratória não me parece que ocorrerá uma mudança radical (como uma forte abertura de fronteiras), basta ver a política migratória de Obama que tinha construído muitos Centros de Detenção para Imigrantes”, diz Camilla. 

Joe Biden
O presidente eleito Joe Biden. [Imagem: Reprodução/Flickr]
A respeito da situação da política externa do Brasil com os EUA, agora com a eleição de Biden, Camilla especula dois cenários possíveis. No primeiro, Bolsonaro haveria de trocar de ministro das Relações Exteriores com a intenção de manter as boas relações, “o que com Araújo pode ser difícil, haja vista a preferência pessoal por Trump”.

No segundo, “Bolsonaro mantém Araújo e seu discurso contra a globalização, o globalismo e a esquerda (representada por Biden), levando a um afastamento e estagnação das relações entre Brasil e EUA”. Considerando esses cenários, ela explica que caso Biden de fato concretize sua promessa de retornar ao Acordo de Paris e recoloque os EUA  no caminho das ações para mitigar o aquecimento global, a questão ambiental será um fator de embate entre os países. 

As propostas de Biden para o meio ambiente também se destacaram nessas eleições, uma vez que sua postura em relação ao tema é completamente diferente da adotada por Trump. Políticas elaboradas por Barack Obama que implementavam o investimento temporal e financeiro pelas empresas para cumprir normas ambientais eram, aos olhos do republicano, “políticas anti crescimento”. A maioria delas foi rapidamente revista e revogada. 

Trump também foi o responsável por retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris logo no início de seu mandato, em 2017. Sem o comprometimento com o tratado que visa o controle do aquecimento global a partir da redução da emissão de gases estufa, os anos seguintes só acumularam medidas prejudiciais à pauta ambiental.

O novo presidente, ainda em período de campanha, fez questão de se posicionar contra as iniciativas de seu oponente. Em debate transmitido pela CNN, o republicano chegou a citar as queimadas recentes na Amazônia insinuando que o adversário era conivente com a situação. “A primeira coisa que vou fazer é readerir ao Acordo de Paris. As florestas no Brasil, por exemplo, estão desmoronando”, afirma.

Além disso, Biden também promete introduzir iniciativas que levem os Estados Unidos a uma produção energética totalmente limpa e que zerem emissão de carbono na atmosfera até 2050. 

 

Próximos passos

Considerando a possibilidade de Trump não se reeleger, desde meados de maio a Administração de Donald Trump começou os preparativos para a possível transição. Com os resultados postos, em 20 de janeiro de 2021 ao meio dia, tal como está previsto na Constituição norte-americana, Joseph Robinett Biden assumirá o cargo de presidente dos Estados Unidos. 

A respeito dessa nova etapa, Camilla enfatiza que “apesar da vitória, Biden ainda terá de lidar com o extremismo do trumpismo e dar respostas políticas, o que algumas vezes pode significar concessões. Nesse sentido, uma política de conciliação doméstica é importante para evitar novos Trumps em 2024. Todavia, não será algo fácil”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima