Na Ucrânia, no final de 2013, parte da população civil entrou em conflito com o governo. Os manifestantes exigiam a integração do país ao bloco da União Europeia, ao mesmo tempo que pediam o fim das intervenções russas na política local. O objetivo era depor o então presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, que combatia o movimento com violência. O filme Olga (2021), de Elie Grappe, parte dessa premissa real, do Euromaidan, para contar a história da protagonista.
Olga (Anastasia Budiashkina) é uma adolescente prodígio na ginástica ucraniana. No tempo do longa, ela se prepara para a disputa do campeonato europeu, no entanto, por sua mãe (Tanya Mikhina) ser uma jornalista de oposição ao governo, existia um risco iminente de atentados a familia. Antecipando a tragédia, a mãe fez com que a filha se refugiasse na Suíça.
O que desperta atenção inicial é a boa seleção visual. Existe uma decisão acertada do diretor de mesclar a ficção com fatos da realidade. A trajetória encenada mostra a própria jornada de Olga, que compartilha o espaço de tela com imagens e vídeos das manifestações nacionalistas que ocorreram na época. Isso resulta em mais credibilidade e veracidade à trama.
Aproveitando as fontes reais, o longa Olga explicita bem as cobranças internas e externas de atletas de alto rendimento. Ambas as cobranças são representadas em cenas angustiantes, que contextualizam todo o cotidiano árduo de disciplina dessas pessoas, esses momentos geram complacência à profissão e auxiliam a compreender a gravidade dos casos notórios de atletas com prejuízos à saúde mental.
Como o título já diz, o roteiro apresenta enfoque total na personagem principal, Olga. Para a estratégia funcionar, a história dela deve ser contada de maneira eficaz e interessante. Boa parte disso é atendido pela atuação brilhante da atriz Anastasia Budiashkina, que aparenta sentir os dramas da persona.
A outra parte está contida no bom desenvolvimento da própria personagem. Olga está totalmente pressionada. Além de ter a pressão pelo desempenho esportivo, ela tem que se adaptar, se incluir e se integrar a uma nova cultura. E ainda continuar lidando com as preocupações geradas pelo conflito ucraniano. Todos esses fatores oferecem ao público um sentimento de extrema aproximação e empatia com a ginasta.
A complexidade dela é acrescentada por um dilema interessante e pertinente para reflexões: diante de todas as adversidades, Olga deve priorizar o seu lado coletivo ou individual, isso é a sua nação ou o esporte. É instigante saber como ela vai conseguir representar a seleção da Suíça durante o europeu, no momento mais nacionalista do seu país natal.
Esse filme faz parte da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação / Point Prod