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‘Para o Trono’: A Rainha Neve apresenta a outra metade do todo

A conclusão da duologia expande o universo com novos personagens e aprofundamento dos antigos
ATENÇÃO: Esse texto contém spoilers do primeiro livro da duologia, Para o Lobo

“Ninguém era totalmente uma coisa ou outra. A bondade era uma escolha diária, uma possibilidade infinita, uma decisão em cada encruzilhada”

Para o Trono, Hannah Whitten p. 384

Ainda mais sombrio e profundo, Para o Trono (Suma, 2023), mergulha no universo fantástico do reino de Valleyda e explora muito bem a relação de opostos entre as irmãs Redarys e Nevarah, mais frequentemente chamadas de Red e Neve. No primeiro livro, Para o Lobo (Suma, 2022), Red cumpre a profecia e se entrega à floresta de Wilderwood. Mesmo com o aparente controle da situação com os Cinco Reis, Neve precisa da ajuda da irmã após mudanças que aconteceram desde sua partida, a rainha segue sua jornada para salvar a si e ao mundo.

Red e Eammon tem uma história melhor desenvolvida, mas esse não é o foco da narrativa [Reprodução/Jaria Rambaran via ArtStation]

Uma inversão de papéis e maior pluralidade

O primeiro livro narra a história da profecia de Valleyda que dita que, enquanto a primeira filha da rainha deve subir ao trono, a segunda, nesse caso Red, que recebe o foco principal, é enviada para a floresta de Wilderwood. Já em Para o Trono, a proposta é assistir àquela cujo destino estava na regência: Neve, a Rainha de Valleyda. Acompanhada de Solmir na Terra das Sombras, Neve ganha um brilho especial por conseguir demonstrar com maior clareza sua personalidade. Em suas primeiras aparições, ainda em Para o Lobo, a rainha parecia muito crua e inocente, mas o destaque a faz florescer e demonstrar a personalidade forte e decidida que carrega. 

O mesmo acontece com Solmir, polêmico personagem que se revela ao final de Para o Lobo e com quem Neve divide a maioria dos momentos neste novo livro. O mistério de seu passado e de suas atuais motivações o transformam em um personagem interessante, que faz um contraponto muito charmoso com a protagonista. Solmir é enigmático e as expectativas para descobrir suas intenções e próximos passos são altas durante a leitura. 

Para a composição de universos fantásticos, geralmente são utilizados muitos livros, que introduzem diversos personagens e os aprimoram ao longo de muitas edições, como é o caso dos livros de Rick Riordan. Hannah Whitten, em dois livros, consegue criar uma história consistente e despertar identificação pelos seus personagens. A construção da narrativa se preocupa com motivações coerentes para todos aqueles que fazem parte do enredo. 

Além de um maior destaque para Neve, este livro também tem um número maior de pontos de vista. Por meio de um o narrador onisciente neutro, assim como em Para o Lobo, personagens como Eammon, Raffe e até Solmir tem alguns capítulos destinados a acompanhar seus percursos. Isso enriquece a leitura por permitir ao leitor analisar as situações de diversos ângulos, uma vez que o ponto de vista não está estagnado.

Neve e Solmir tem uma dinâmica única, o que levanta questões sobre o futuro deles [Reprodução/Jaria Rambaran via ArtStation]

O amor e a união

O grande fio condutor da duologia está nos dilemas da Primeira e da Segunda Filha de Valleyda, o que se intensifica neste livro. Em Para o Trono, fica ainda mais clara a relação de amor entre Red e Neve, que pautam suas ações no objetivo de se encontrarem. Apostando em um clichê, mas sem perder suas características próprias, assim como no primeiro livro, a relação das gêmeas se comporta como um duplo,  conexão de duas metades de um todo, de maneira opositiva. 

“Luz e escuridão. Era assim que sempre tinha sido entre elas. Uma dança de inversões, reflexos de um espelho”

Para o Trono, Hannah Whitten p. 64

Desde o livro anterior era possível imaginar muitos caminhos dentro do enredo que se baseassem em trabalhar a relação de dualidade, mas a autora soube trazer isso à história de maneira emocionante e que se encaixa nesse mundo fantástico. Por ser uma duologia, é compreensível que o foco esteja muito mais centrado nas gêmeas e suas jornadas do que qualquer outro aspecto, inclusive o romance. Por isso, a parte política no funcionamento desse universo é um pouco negligenciada.

As irmãs são opostas até mesmo em aparência [Reprodução/Hillary Bardin via ArtStation]

Questões da edição

Assim como no outro volume, a edição segue o modelo original da capa, um design de Lisa Marie Pompilio. O papel usado e a impressão são de alta qualidade. A fonte utilizada é menor que o padrão de livros do gênero, o que, somado às 411 páginas do volume, o torna quase um calhamaço. Contudo, não é preciso se assustar pelo tamanho: a história apresenta fluidez , o que faz com que todas essas páginas passem como se fossem muito menos. 

Um problema apontado por alguns leitores é a qualidade da revisão feita pela editora Suma. Não é difícil encontrar erros ortográficos no livro, o que pode ser corrigido em uma nova edição. Apesar dos apontamentos, nem esses deslizes conseguem afetar o ritmo de leitura e a qualidade técnica da escrita de Hannah Whitten. 

No fim, a autora demonstrou seu talento ao fechar a história sem pontas soltas, justificando as estratégias utilizadas no enredo. Ainda assim, alguns detalhes tornam possível a expansão do universo por meio de novos personagens, um método muito comum que poderia ser utilizado na história de Valleyda. Esses são os únicos livros de Hannah Whitten lançados no Brasil, mas a autora já produziu duas obras da série The Nightshade Crown (traduzido livremente como A Coroa de Beladona), que tem sido elogiada pelos leitores

Nota final: 4

*Capa: Reprodução/Editora Suma via Instagram

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