O meu dom da profecia: consigo distinguir pessoas num futuro próximo, daqui a uns cinco, seis anos, assistindo ao filme “Sem Saída”, com Taylor Lautner, sentadas no sofá de sua casa, num programa estilo Tela Quente. Posso ver também outras acomodadas num assento de ônibus para algum município do interior, procurando se distrair da viagem ao olhar para uma TV que também passa “Sem Saída”, dirigido por John Singleton. Essas últimas acabam dormindo. E elas entenderiam fácil a sinopse do filme caso acordassem no meio dos tiroteios.
Lautner, o menino-lobo de “Crepúsculo”, é Nathan Harper, um adolescente comum, freqüentador do colégio e de festas, que se sente às vezes meio deslocado. Entre um trabalho escolar e uma azaração com Karen (Lily Collins), o broto que mora em frente à sua residência, ele acha um site que mostra fotos de crianças desaparecidas e como seriam suas aparências atualmente. Tudo apenas um gancho para envolvê-los numa trama misteriosa que envolve Alfred Molina (o marido da Frida Kahlo ou o Dr. Octopus) e Sigourney Weaver.
Primeiro me veio à cabeça a história de “Controle Absoluto”, com Shia LaBeouf. Os dois filmes têm a reviravolta numa vida normal, uma moça que ajuda o herói e a dependência da boa atuação do protagonista. Lautner e LaBeouf foram atrás de roteiros para se descolar da personagem que os consagraram (o heroizinho de “Transformers” e o lobisomem de “Crespúsculo”). Mas aí reparei serem apenas semelhanças que se estendem à maioria dos filmes de ação. E não é culpa dos roteiristas seu enredo ser tão parecido com tantas histórias já exibidas nos cinemas…
O roteiro não é um mérito, mas o que seria então?, você me pergunta. As músicas, no começo principalmente. Conforme vai se desenrolando a trama, elas vão descambando pra cafonice típica de Hollywood: gritante a diferença entre a empolgante trilha de abertura e a canção final brega. Em colaboração com o acerto no som, as locações são muito interessantes, bonitas e adequadas. Somadas à boa mão do diretor, esses pontos positivos resultam num clima muito intenso do filme, que termina com uma história desinteressante, mas uma ótima condução.
Pode-se distrair da atmosfera “estamos fazendo isso por dinheiro” dos coadjuvantes mais ilustres com uma ou outra piada. O que não passa despercebido, porém, são os ângulos que tentam nos mostrar os músculos e o físico de Taylor Lautner. Quem tiver obsessões mais intensas pelo ator vai se divertir. As tomadas mais gratuitas são cômicas, as outras só patéticas mesmo. Parece inveja minha, mas não é. Ok, é um pouco. Da conta bancária, principalmente. Pelo menos não fiz um filme esquecível.
Não é ruim, na verdade. Dispensável, eu diria. Vai ser blockbuster de TV aberta e de ônibus pro interior, mas não há nada de inferior nisso. Onde o filme passará não interfere nos seus méritos, quem prejudica são as tentativas de emular a trilogia Bourne – com os produtores rezando por um retorno financeiro equivalente e Lautner pedindo ao Papai Noel que faça dele o próximo Matt Damon, que, vamos combinar, não era nada de mais também. Ambos inclusive partem da personagem sem conhecimento do seu passado para mascarar uma atuaçãozinha medíocre.
Paro de falar mal, não quero parecer cruel. Será uma boa diversão caso lhe faltem opções. As fãs mais obcecadas sonharão noites afora com o coadjuvante da cinessérie dos vampiros reluzentes. Estúdios, cinemas e produtores vão embolsar uma grana legal. Jornalistas vão criticar ou elogiar. O ego do Matt Damon vai subir quando ele ler esse texto e perceber que falei a verdade. Os motoristas de ônibus pro interior vão ficar felizes com mais uma opção para acalentar o sono dos passageiros. E quase ninguém vai se lembrar de como deu resultado tanta academia e suplementos para Taylor Lautner.
Henrique Balbi
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