Jornalismo Júnior

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Projeto Redigir: há 25 anos transformando para além da sala de aula

Em evento na ECA-USP, educadores e educandos celebram a data com várias atividades durante semana de cultura e extensão
Por Catarina Bacci (cbmedeiros@usp.br) e Fernanda Franco (fernanda.francoxavier@usp.br)

O Projeto Redigir, em comemoração aos seus 25 anos de criação, promoveu uma série de atividades ao longo do dia 21 de maio no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e Artes da USP. O evento integrou a 2ª semana de Cultura e Extensão da ECA e contou com a presença de professores do departamento, ex-educadores, educadores e educandos ligados ao projeto.

Fundado em 1999, o Redigir é um curso gratuito de comunicação e cidadania aberto para todos os públicos que ocorre no CJE. As aulas são organizadas e ministradas por alunos da USP com foco em conteúdos de língua portuguesa e em repertórios socioculturais que propiciam a reflexão conjunta e dinâmica — seguindo um modelo que foge da educação tradicional. Todos que compõem o projeto — da parte administrativa à pedagógica — são voluntários.

A programação foi dividida em dois períodos: durante a tarde, na sala 38 do CJE, em que houve a simulação de uma aula do projeto, e pela noite, no Auditório Freitas Nobre do mesmo prédio, com mesas de debate, honrarias e compartilhamento de vivências entre os educadores e educandos reunidos. 

Aula experimental: todos são educandos e educadores 

A simulação de uma aula do grupo começou com uma roda de apresentação. Nela, estavam ex-participantes do Redigir, membros atuais, estudantes da ECA e Rodrigo Ratier — um dos fundadores do projeto, jornalista e atual professor do CJE. Ratier deu início ao evento compartilhando um pouco da história de como o Redigir começou e se desenvolveu, bem como suas experiências pessoais no projeto.

Baseando-se em pesquisas da área de pedagogia e em educadores como Paulo Freire, o grupo moldou as aulas para romperem com o modelo tradicional e serem acessíveis. Em todas as aulas, as carteiras são organizadas em círculos com o educador inserido nele, em contraste com o formato costumeiro de fileiras e o professor à frente. Rodrigo descreve este último modelo como individualizante por estabelecer uma hierarquia de conhecimentos em que o instrutor está acima. Ele explica que no Redigir as aulas são diferentes justamente para inverter essa lógica, já que colocar a sala de aula em roda sugere o debate e a troca de visões de mundo de forma mais horizontal, resgatando ideias de Freire.

Em seguida, os participantes assistiram a uma cena de O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker, 1962), longa metragem baseado na história real de Helen Keller. Nascida cega e surda, Helen era considerada incapaz de se comunicar e aprender até conhecer a professora Anne Sullivan, também deficiente visual. A educadora adaptou métodos de diálogo e educação às necessidades de Helen para poder ensiná-la, como na cena em que, através do tato da menina, Anne a colocou em contato com a água, terra e outros objetos, e mostrou elementos de língua de sinais.

A partir da cena do filme, os participantes debateram e refletiram em conjunto sobre os aspectos centrais da aula demonstrativa: “o que é ensinar?” e “o que é aprender?”. Com os depoimentos e as ideias de cada um, os presentes desenvolveram suas concepções sobre as escolas brasileiras e o papel da educação em ambientes diferentes da sociedade. A variedade de opiniões e a postura dos educadores criaram uma abertura para que o público se pronunciasse e se expressasse livremente, promovendo aprendizado através das trocas.

O professor Rodrigo utilizou as deixas de quem compareceu ao evento para guiar a aula e os assuntos abordados, discutindo o Projeto Redigir, o ensino e o ensinar. Foram tratados tópicos como alfabetização, formas de corrigir erros, didática e o modelo de escola ideal para cada um. O debate trouxe um misto das colocações dos educandos e de informações novas e específicas explicadas pelo docente. A tarde finalizou com novos olhares acerca do projeto e do ensino, além de um convite para fazer parte do grupo de voluntários.

História e transformação social

No período da noite, a proposta foi continuar a apresentação do projeto de forma mais completa a partir de olhares do passado, com ex-membros convidados, e do presente, por meio de membros atuais. Com duração de quase três horas, o encontro foi dividido em duas partes principais: introdução e discussão. 

(da esquerda para a direita) Rodrigo Ratier, Mônica Nunes e Murilo Yamassita abrem a mesa de comemoração do projeto Redigir.
[Imagem: Fernanda Franco]

A mesa de abertura foi composta por Rodrigo Ratier, Mônica Nunes, ex-educadora, e Murilo Yamassita, coordenador do Redigir há dois anos. Juntos, eles ressaltaram a importância do evento como um marco simbólico da USP ao desenvolver uma extensão dialógica que cria pontes entre a universidade e o público externo há tantos anos. Para Mônica, o principal destaque das salas de aula do Redigir é que “o conhecimento científico e o conhecimento popular são importantes na mesma medida, gerando os melhores resultados possíveis”. 

“Redigir é muito mais do que só aula sobre cidadania, gramática, redação e comunicação. É também sobre trazer as pessoas e mostrar as potencialidades que elas podem atingir. E nesses 25 anos, a gente atingiu e foi atingido por muita gente.”

Murilo Yamassita 

Murilo, que encerra a sua gestão neste semestre, falou também das dificuldades que o projeto passou para manter vivo o seu propósito de democratização do conhecimento. A falta de voluntários é um problema recorrente, que já ameaçou a existência do Redigir diversas vezes.

Após a transmissão do novo vídeo institucional do projeto, houve a apresentação dos novos cinco coordenadores, agora divididos entre três núcleos. Arthur Reis, com o institucional, é responsável pela infraestrutura e pela manutenção dos relacionamentos com outras entidades. Já Maria Eduarda Nóbrega e Beatriz Ohanna, com o pedagógico, são responsáveis pela preparação e aplicação das aulas. Por fim, Nicole Camargo e Victor Monfil, com o núcleo de comunicação, cuidam das parcerias e divulgação.

A segunda mesa abordou a exposição da história do projeto contada por Thaís Ilhéu, ex-educadora formada em Jornalismo pela ECA , que fez da vivência e admiração pelo Redigir o seu Trabalho de Conclusão de Curso. Seu livro-reportagem Sala de Sonhos narra a história do Redigir desde sua fundação em 1999, como um curso de cultura e extensão voltado para o vestibular. A partir de 2002, o projeto se tornou um curso de cidadania e, em 2009, chegou a ganhar prêmios e reconhecimento na área de educação e cidadania. Assim, o Redigir passou a promover, além das aulas, palestras, visitas a museus e vivência universitária. 

Para Thaís, “ter sido voluntária da organização foi a melhor experiência que poderia ter tido dentro da ECA e da USP. Me ajudou a ter um olhar mais plural para as pessoas e para o mundo. Foi um processo de desconstrução e de reconstrução da sociedade”. Ela ainda afirma que qualquer pessoa pode se encaixar como educador. “Não precisa ter medo de ser voluntário. O Redigir é uma construção que vem da sala de aula, então tenho certeza que todos que entrarem vão se adequar, aprender e ensinar”, complementa. 

Thaís Ilhéu conta a história do Redigir e sua experiência como voluntária [Imagem: Nicole Camargo]

Outros educadores também compartilharam as suas experiências dentro da sala de aula, incluindo a insegurança que sentiam no início em relação à qualidade das aulas. Esse sentimento foi rapidamente superado pelo retorno dos próprios alunos no trabalho final do curso, que saíram transformados pelo aprendizado adquirido e pelos laços construídos dentro da universidade. “O Redigir é tão recompensador que nem parece um trabalho”, disse Thaís. 

Na segunda parte do evento noturno, alguns ex-educadores presentes no evento foram homenageados com menções honrosas, entre eles Rodrigo Ratier, Thaís Ilhéu e Alice Mitika, professora do CJE. Em seguida, ocorreu a mesa “Entrevista com os ex-Rediamigues”, em que os ex-educadores Neide Resende, Paula Takada, Chico Moura e Alice Mitika debateram sobre o papel do projeto e as expectativas para os próximos anos.

Educadores discutem o futuro e os desafios do projeto. [Imagem: Fernanda Franco]

De modo geral, em relação ao papel do Redigir, os antigos membros reforçaram a relevância social do projeto e como ele mudou suas próprias vidas, já que todos, inspirados pelo poder da educação, seguiram na área acadêmica. Sobre o futuro do projeto, a maioria apontou o desafio de lidar com a Inteligência Artificial (IA) e as Fake News na educação e no exercício da cidadania.
O período de inscrições para ser voluntário do Projeto Redigir abrem semestralmente e podem ser conferidas através do perfil do instagram @projetoredigir.

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