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Retrospectiva dos anos 2000 na Disney: como o 3D transformou o estúdio

A era pós-renascentista da produtora marcou uma fase de autoconhecimento diante o mercado
Por Regina Lemmi (regina_lemmi@usp.br)

As últimas animações tradicionais, isto é, em 2D, produzidas pela Walt Disney Animation Studios foram lançadas na década de 2000. A era pós-renascentista do estúdio é caracterizada por um recorrente fracasso nas bilheterias, considerando o sucesso dos filmes da década de 1990, tais como A Pequena Sereia (The Little Mermaid, 1989), Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991) e O Rei Leão (Lion King, 1994). A notoriedade do estúdio diante o novo milênio era incerta, pois havia muitos filmes com temas e recepções diferentes. Esse período foi marcado por diversas experimentações do estúdio.

As animações 2D e 3D: entenda a diferença

As técnicas de produção tradicional, ou 2D, consistem na produção com base em duas dimensões: a largura e comprimento. A partir de diversos mecanismos à mão ou por software, há cenas estáticas com muitos movimentos. A animação 3D, por sua vez, consiste em utilizar, também, a profundidade como terceira dimensão para criar os modelos para criar a exibição de um longa.

“O verdadeiro desafio talvez passe por compreender de que modo a utilização de ferramentas digitais no processo criativo e a deflagração do 3D no meio cinematográfico vieram alterar a relação do animador com a sua criação e a do espectador com o cinema de animação”

Catarina Gil em O Advento da Animação Digital

Ao analisar as bilheterias das animações 2D e 3D, nota-se que o aumento de preço era muito perceptível no início. Os longas metragens tridimensionais recebiam percentualmente mais do que aqueles bidimensionais. Naquela década, o interesse do público estava nas produções cinematográficas que criavam a ilusão de saltar das telonas, assim como um acompanhamento das empresas de animação em entregar um entretenimento lucrativo.

A Família do Futuro (Meet the Robinsons, 2007) foi a segunda animação produzida pela Disney em 3D [Imagem: Reprodução / Youtube / MeetTheRobinsonsFilm]

As últimas animações 2D

A década de 2000 iniciou-se com uma das animações do estúdio: A Nova Onda do Imperador (The Emperor ‘s New Groove, 2000). Neste filme a respeito de virtude, o protagonista Kuzco é um rei egocêntrico e arrogante que, após ser transformado em lhama por Yzma, precisa da ajuda de Pacha para recuperar o trono. O longa propõe um tom de comédia irônica, completamente destoante de tudo que a Disney já produziu. Isso auxiliou que se tornasse uma das animações da empresa na época com maior aprovação do público e crítica, segundo o Rotten Tomatoes.

Outro longa menos popular da empresa, lançado em 2003, é Irmão Urso (Brother Bear). Com a produção musical de Phil Collins e belos visuais, o filme aborda o clássico tema da família escolhida, a fraternidade e a superação das diferenças. Kenai é um jovem pertencente a uma tribo indígena norte-americana que recebe o totem do urso do amor, o que ele não compreende a princípio. Após a geleira quebrar-se ao meio durante a luta entre Sitka, seu irmão, e um urso, ele  se vinga: mata o urso. O que faz com que os espíritos ancestrais o transformem em um urso. Em sua jornada ao local onde as luzes tocam o chão para retornar a ser humano, ele encontra Koda, um filhote órfão que adora salmão. A bilheteria da obra chegou a apenas US$250,4 milhões, um valor baixo comparado a outras criações. 

A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog, 2009) foi o último grande projeto da franquia das Princesas que utilizava as técnicas 2D. Narrativamente, a obra compromete-se a trazer uma princesa concentrada em seu trabalho para abrir um restaurante, incentivada pelo sonho de seu pai. A história se desenrola assim que Tiana conhece o príncipe Naveen, já transformado em sapo por Dr. Facilier. As técnicas de animação utilizadas neste sucesso parecem ultrapassadas quando analisadas hoje.

Nota-se que a maior parte das narrativas criadas nesse período usufruem da personificação, figura de linguagem relacionada a humanização de elementos não pertencentes à espécie humana. Esse é o caso de filmes como Lilo & Stitch (2002),  Nem que a Vaca Tussa! (Home on the Range, 2004) e Bolt – Supercão (2008). Todos eles transmitem mensagens importantes para as crianças sobre laços afetivos;no entanto, a maior parte foi rechaçada pelo público e crítica. 

O longa mais mal avaliado nessa época foi O Galinho Chicken Little (Chicken Little, 2005), a primeira animação da Disney em 3D. Ela sucumbe a uma trama banal em um cliché entediante sobre o fim do mundo. Todos os personagens deixam o espectador mais do que irritado com seus diálogos monótonos e ridículos. O consenso da crítica no Rotten Tomatoes é que os produtores se atentaram mais às técnicas utilizadas do que em entregar ao público uma história interessante. 

Lilo e Stitch foi considerado um dos longas mais bem avaliados desse período, com 87% de aprovação da crítica [Imagem: Reprodução / Youtube / Disney]

As continuações

Tornou-se piada dizer que as continuações nunca são melhores que os originais que as antecedem. A Disney favoreceu tal ideia ao produzir sequências, concomitantemente a produções originais. A era pós-renascentista da empresa foi marcada pela produção de diversas continuações de filmes clássicos, tal como o conto de fadas Cinderela. Entretanto, estes estavam apenas disponíveis em locadoras, o que contribuiu para que tivessem pouca popularidade e vendas. 

Os VHS e DVDs foram a alternativa criada para direcionar esses lançamentos. A distribuição dos longas era realizada pela divisão Walt Disney Studios Home Entertainment. A produção, por sua vez, era realizada, muitas vezes em conjunto à Walt Disney Pictures, pela DisneyToon Studios, fundada em 1990, era o terceiro maior estúdio de animação da companhia. Entretanto, essa seção foi encerrada em 2018 por motivos desconhecidos pelo público, provavelmente por uma reestruturação da administração. 

A qualidade das continuações eram conhecidas por serem inferiores ao dos originais, mediante um limite orçamentário. Erros nas animações e furos na narrativa são comuns nesses filmes. A Disney se preocupou em utilizar os nomes das franquias clássicas que os fãs conheciam para explorar a sua capitalização. Nesse sentido, monetizar a partir de histórias já existentes — sem novidade até aí — foi a estratégia formulada por trás destes DVDs, de maneira que possibilitou que a Disney acompanhasse a mais recente tecnologia da época.

Cinderela III: Uma Volta no Tempo (Cinderella III: A Twist in Time, 2007) foi uma das continuações mais populares na internet e na crítica [Imagem: Reprodução/Youtube/Variety]

O futuro da Disney no mercado

Durante a década de 2000, o estúdio Pixar Animation Studios faturou expressiva relevância nas bilheterias. Em contrapartida, a Disney produziu filmes com péssima recepção do público. A maior parte dos longas possuem notas abaixo dos 60% no Rotten Tomatoes e no IMDb.

Em 2006, a Disney comprou a Pixar por aproximadamente 7,4 bilhões de dólares. Antes, o estúdio enfrentava dificuldades financeiras que vinham sendo circundadas pelos gastos de Steve Jobs, um dos fundadores. O longas Toy Story 3 (2010), Toy Story 4 (2019) e Os Incríveis 2 (Incredibles 2, 2018) são os de maior bilheteria do estúdio até a atualidade. Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003) foi capaz de arrecadar, por si só, US$941,6 milhões, algo que nenhuma das animações da Disney na época foi capaz de alcançar.

Procurando Nemo foi um dos longas mais bem avaliados na história [Imagem: Reprodução/Youtube/Walt Disney Studios BR]

A partir da década de 2010, com Enrolados (Tangled, 2010), a Disney apenas produziu animações em técnica 3D. Filmes tais como Frozen – uma aventura congelante (2013), Moana – Um Mar de Aventuras (2016) e Encanto (2021) proporcionaram um faturamento maior em comparação com as animações dos anos 2000. O que influenciou mudanças trágicas na corporação: a substituição de estúdios, direções e administrações reconfiguraram a empresa. 

Sem dúvidas, as animações 3D eram mais rentáveis à empresa. Em uma lista das cinco maiores bilheterias do conglomerado, todas elas eram produções tridimensionais — três delas feitas pela Pixar e as outras duas de 2013 e 2019. Então, era de se esperar que com relação aos filmes animados, ela iria mudar sua fórmula.

A animação, no entanto, não se tornou a principal preocupação da Disney. Para além dos parques temáticos e o seu serviço de streaming Disney+, o conglomerado expandiu-se comprando outros estúdios e franquias já existentes, de forma a se tornar uma das empresas mais rentáveis do mundo até 2023, quando registrou prejuízo de US$460 milhões. Empresas como a Lucasfilm e Marvel Entertainment são clássicos exemplos de aquisições atuais. 

A empresa também começou a financiar outra forma de fazer os seus filmes: o live-action. Projetos de reformulação das histórias originalmente em desenho animado, trazidos à vida real por atores e efeitos de CGI. Essa tendência de produções iniciou-se com o sucesso das bilheterias, Malévola (Maleficent, 2014), seguido pelo live-action Cinderela (2015). 

A Disney revelou, em 2022, os live-actions em andamento das seguintes animações dos anos 2000: Lilo & Stitch e Tinker Bell.

*Imagem de capa: Wikipédia

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