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Sexy por Acidente deixa no espectador tanto reflexões positivas quanto preconceitos

ATENÇÃO: A resenha a seguir contém spoilers. Clique no trecho borrado para revelá-lo. À primeira vista, Sexy por Acidente (I Feel Pretty, 2018) é uma comédia. Uma mulher chamada Renee (Amy Schumer), que é gorda e insegura por causa de seu corpo, e no desenrolar do filme passa por situações que a fazem ganhar autoconfiança – …

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ATENÇÃO: A resenha a seguir contém spoilers. Clique no trecho borrado para revelá-lo.

À primeira vista, Sexy por Acidente (I Feel Pretty, 2018) é uma comédia. Uma mulher chamada Renee (Amy Schumer), que é gorda e insegura por causa de seu corpo, e no desenrolar do filme passa por situações que a fazem ganhar autoconfiança – todo esse enredo contado com um clima de humor, cheio de piadas. Com roteiro e direção de Abby Kohn e Marc Silverstein, o filme na realidade traz questões muito maiores do que aparenta, e deixa, quando tem oportunidade, de fazer críticas muito importantes.

Renee Bennett é uma nova-iorquina insatisfeita com o seu trabalho e sua aparência. Trabalha em um setor periférico da sua empresa de cosméticos favorita, LeClaire, e seu maior sonho é, além de conseguir um emprego em que estivesse mais próxima de seus ídolos, ser tão bonita quanto acha que eles são. Descobre, um dia, que há uma vaga na empresa para ser a nova recepcionista, mas não tem coragem de se candidatar por se achar inferior às mulheres que trabalham lá. Timidamente, começa a ir a uma academia em que só há pessoas magras, e em suas primeiras tentativas cai da bicicleta, batendo fortemente a cabeça. É a partir daí que tudo muda para ela: quando volta a se olhar no espelho, tudo o que consegue ver é uma mulher magra e dentro dos padrões de beleza – embora todas as outras pessoas a vissem como antes.

Renee torna-se uma recepcionista tão adorada quanto requisitada (Imagem: Divulgação)

Vendo-se então como uma mulher bonita, Renee passa a ter autoconfiança e acaba conquistando, com o seu jeito espontâneo, vários dos lugares que ela via antes como inatingíveis – inclusive a vaga de recepcionista na empresa LeClaire. Ali, ela fica amiga de uma das comandantes da empresa e passa a lhe dar várias dicas de como fazer os produtos da segunda linha (produtos mais baratos) venderem mais. Subindo na empresa e fazendo novas amizades, Renee descobre enfim os poderes que têm dentro de si (mesmo que inicialmente ela dê todo o crédito ao seu novo corpo).

Renee vai a um concurso de biquínis e atrai aplausos de todos por sua apresentação (Imagem: Divulgação)

Sem falar (mas já falando) da terrível cena dela caindo da bicicleta duas vezes (contribuindo para o estereótipo de que pessoas gordas são desastradas e, de alguma forma, inaptas para exercícios), o filme traz reflexões que parecem se encaminhar para algo positivo, mas no fundo ainda trazem alguns preconceitos. O fato, por exemplo, de ela crescer na empresa unicamente por sua personalidade é um tópico problemático, porque está reafirmando a mulheres gordas que elas crescerão apenas se tiverem autoconfiança: ou seja, não existe possibilidade de que elas cresçam por serem bonitas, como acontece às mulheres magras. É como se o filme dissesse: “Você não precisa ser linda para alcançar certos lugares: é só ter autoconfiança”. Mas não  seria ruim partir do pressuposto de que mulheres gordas não são bonitas? O foco do filme não deveria ser desconstruir o padrão de beleza, ao invés de deixar subentendido que há como sobreviver sem se encaixar nele?

Assim, o principal questionamento do filme não é o fato de a indústria vender maquiagens e produtos para mulheres magras e isso criar um padrão de beleza que prejudica a autoestima de mulheres gordas. Questiona mais o fato de as mulheres gordas não verem beleza em si e, por isso, não terem a autoconfiança necessária para crescerem na vida.

Ainda há um outro problema. No final do filme, [spoiler] Renee torna-se modelo da segunda linha de cosméticos da empresa LeClaire. Ela diz, discursando sobre seu novo cargo, que os produtos deveriam ter propagandas coerentes com os seus consumidores. Portanto, disse sem querer que a segunda linha (lembrando, de produtos mais baratos) deve ter diversidades para representá-la, mas a primeira linha não – [/spoiler]não houve nenhuma crítica sobre as modelos magras da linha mais cara de produtos. É como se estivesse tudo bem que as mulheres mais ricas fossem representadas apenas por modelos dentro dos padrões de beleza.

O filme é, por esses motivos, uma tentativa de certo modo frustrada de lidar com a gordofobia. Embora traga algumas mensagens de empoderamento, elas acabam se afundando nos implícitos preconceitos que o filme ainda possui. É interessante como experiência e como forma de entrar um pouco nessa questão, mas, infelizmente, ainda não cumpre completamente o seu papel.

 

Sexy por Acidente estreia dia  28 de junho de 2018 nos cinemas. Confira o trailer:

por Lígia de Castro
ligiaadecastro@gmail.com

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