Com o seu oitavo álbum, folklore (2020), no primeiro lugar da Billboard pela oitava semana, Taylor Swift segue sendo comentada e relembrada nas redes sociais e nas grandes mídias.
Depois da era mais sombria de sua carreira em 2017 — marcada pelo álbum reputation e os escândalos envolvendo Kim Kardashian e Kanye West — a cantora retornou em 2019 com Lover. Em folklore, Taylor conseguiu se reinventar mais uma vez, e trouxe à tona as bagagens de sua extensa carreira musical que marca uma geração.
Origem e descoberta
Aos 14 anos se mudou para Nashville, onde assinou um contrato com a gravadora RCA Records. No entanto, deixou a gravadora um ano depois pelas limitações impostas e o desejo de lançar um álbum próprio. Em 2005, aos 15 anos, chamou a atenção de um executivo da Dreamworks Records, Scott Borchetta, que estava prestes a sair da empresa para lançar sua própria produtora independente, a Big Machine Records. Taylor se tornou uma das primeiras afiliadas.
Em outubro de 2006, aos 16 anos, Swift lançou seu primeiro álbum, Taylor Swift. O álbum — considerado um sucesso no meio musical e até mesmo elogiado pelo The New York Times — vendeu 39 mil cópias durante a primeira semana. Tim Mcgraw, single e primeira faixa do álbum, marca a estreia oficial da cantora na indústria e foi lançada anteriormente no mesmo ano.
Do country ao pop
A transição do country ao pop ocorreu de maneira lenta e progressiva com Taylor: em Red (2012) já é possível encontrar algumas músicas que se encaixam nessa categoria, como 22, We Are Never Ever Getting Back Together, e I Knew You Were Trouble. Foi somente em 2014, com o álbum 1989, que a cantora mudou completamente para o pop.
A mudança de gênero musical veio como surpresa para os fãs, apesar de alguns indícios da nova sonoridade, como relembra Maria Eloisa Barbosa, newsposter do Taylor Swift Brasil (maior fã site da cantora no país). “Ela havia se mudado para Nova York, perdido o Grammy de álbum do ano com Red, estava tirando um tempo para ela mesma, e isso refletiu muito na música que fez.”
Ana Clara, fã há quatro anos, conta que gosta da cantora pela sua habilidade de colocar verdade no que escreve. “As pessoas acham clichê, ela escrever sobre as experiências de vida dela. Isso é clichê porque muitas pessoas se identificam. Eu como fã também me identifico. São experiências de vida, por mais que eu não tenha passado pela mesma situação, são coisas com as quais eu convivo, que eu já vi, ou que aconteceram comigo de uma certa forma. É por isso que eu gosto, ela coloca verdade nas coisas que escreve”.
Recentemente Taylor se aventurou mais uma vez na transição. Menos de um ano depois do lançamento de seu penúltimo álbum, Lover, ela lançou em julho de 2020 um novo álbum com temática e sonoridade puxadas para o indie-folk, folklore. A surpresa dessa vez não veio só pela mudança do som — já que a cantora deu indícios dessa possível transição com a música The Archer, de seu penúltimo álbum —, mas pelo lançamento do novo disco sem qualquer aviso prévio.
Um caminho pelos álbuns
No álbum Red a cantora começa sua transição para o pop, com algumas músicas de sonografia bem típica, como o hino para qualquer jovem adulto completando vinte e dois anos, 22. A era pop da cantora tem como marca de início o álbum 1989, que recebeu cinco prêmios — entre eles dois Grammys: Álbum do Ano e Melhor Álbum Pop — pela sua incrível coerência musical. Apesar disso, reputation é o álbum que mais possui o som típico do estilo musical.
Em Lover as sementes indies começam a ser plantadas por meio das músicas The Archer, Daylight e Afterglow. Já em folklore, Taylor remete às suas origens countries algumas vezes, como com o uso da gaita, marco do gênero, no início de betty. Além de trazer o passado por meio da sonoridade, a cantora também o fazem letras, como quando fala da Pensilvânia — o estado em que nasceu — na música seven.
Todas as eras da cantora foram marcadas e determinadas por um som específico e distinguível para os fãs e seguidores. Ela faz referência à essa constante necessidade e capacidade de se reinventar na música mirrorball. A crítica da inevitabilidade de reinvenção da persona por artistas femininas também foi feita em seu documentário Miss Americana (2020).
“‘Se reinvente, mas somente do jeito que achamos igualmente reconfortante e um desafio para você. Viva uma narrativa que achamos interessante o suficiente para nos entreter, mas não louca demais de forma que nos deixe desconfortáveis’. As artistas femininas que conheço tiveram que se reinventar vinte vezes mais que os artistas masculinos, ou você não tem mais emprego”, diz Taylor no filme.
De american sweetheart para cobra da indústria musical
Taylor e sua carreira mudaram a partir do VMA (MTV Video Music Awards) de 2009, com o infame interrompimento de Kanye West enquanto a cantora recebia o prêmio de Melhor Clipe Musical (Best Music Video). Em seu documentário, Taylor fala sobre os problemas psicológicos que se desencadearam daquele acontecimento, por achar que as vaias se direcionavam à ela, e não a Kanye.
Swift conta que até aquele momento sua ética na carreira e na vida era “ser boa e trabalhar duro”, já que ela cresceu baseando sua felicidade no reconhecimento e adoração que recebia. Apesar de ter sido um episódio de aprendizado em sua vida, o público tomou seu lado no conflito, inclusive diversas figuras públicas, como Dr. Phil e Jimmy Kimmel. Consideravam um absurdo o fato de West, na época em seus 31 anos, ter feito isso com uma garota de 19.
A polêmica se aprofundou quando Taylor afirmou nunca ter dado permissão à Kanye e não ter gostado da letra, o que levou Kim Kardashian a postar o vídeo de uma ligação na qual West fala para Swift sobre a música e ela agradece o aviso prévio. A internet se virou contra a cantora, foi chamada de falsa e cobra. Levantaram a hashtag #TaylorIsOverParty, que entrou nos trendings topics (assuntos do momento) do Twitter.
Depois da imensa comoção nas redes sociais, sua ética de “ser boa e as pessoas gostaram de você” estava completamente acabada. Ela afirma, ainda em Miss Americana, nunca ter estado em um ponto tão baixo, tanto na sua carreira quanto psicologicamente. Então, desapareceu por um ano, por acreditar que era isso que todos queriam.
A retornada folclórica de Taylor Swift
O álbum, repleto de mensagens de vingança e superação na quebra de expectativas, também contou com as típicas músicas de amor já famosas em álbuns anteriores, mas desta vez de forma diferente. Durante o ano longe da mídia Taylor conheceu seu atual namorado, Joe Alwyn — com quem mantinha o relacionamento em segredo até então —, e pela primeira vez afirmava ter achado a felicidade de uma outra maneira, em que não dependia da aprovação do público.
“Com uma estética tão forte, uma mensagem tão definida e uma turnê tão grandiosa, completamente esgotada e que bateu recordes, foi legal ver o que a crítica e as pessoas de fora do fandom estavam achando. Sinto que ela mobilizou todo mundo no final das contas. Todos queriam saber o que Taylor Swift faria daquela vez”, conta Maria.
Desde então, a cantora continua se manifestando sobre suas visões políticas e sobre acontecimentos da indústria musical, como a saída e denúncia de sua produtora de longa data, a Big Machine Records. A briga, que começou em 2019 entre Taylor Swift e os empresários Scooter Braun e Scott Borchetta — donos da Big Machine Records — continua até hoje. Já a confusão com Kanye West foi resolvida em março de 2020, quando a ligação completa daquela que originou a polêmica foi vazada na internet e confirmou que, de fato, Swift estava falando a verdade.
Taylor Swift comprovou sua capacidade de se reinventar diversas vezes ao longo da sua carreira, e mais recentemente com o lançamento de folklore. Mas, sua maior reinvenção ainda está na quebra com os ideais e regras impostos pela antiga produtora quanto à sua manifestação política. Hoje a cantora advoca abertamente em suas redes sociais a favor dos direitos das mulheres, da comunidade LGBQIA+, em assuntos como o Black Lives Matter, e mostrando seu apoio para o partido democrata nas eleições norte-americanas de 2020.