28 de maio de 1989. Há 30 anos, Emerson Fittipaldi conquistava as 500 milhas de Indianápolis. Pela primeira vez, a bandeira quadriculada hasteada não significava o fim, mas sim o início. O título da Fórmula Indy, conquistado pelo piloto posteriormente naquele ano, dava a largada para que brasileiros se aventurassem na categoria. O Arquibancada pega carona com Fred Sabino – comentarista do SporTV – e Gabriel Curty – editor do Blog Grande Prêmio – para contar essa história e pintar os ovais de verde e amarelo.
“Auto” biografia
Nascido em 1946, na cidade de São Paulo, Fittipaldi iniciou a carreira já aos 18 anos. Foi apressado. Pressa: necessidade de fazer ou obter algo com rapidez – a velocidade já corria em suas veias. Em 1967, com apenas 21 anos, conquistou a Fórmula Vê. Em 69, foi à Europa, onde venceu a Fórmula 3. Ele tinha pressa para ser o melhor. Então, em 1972, enquanto acelerava pela Lótus, cruzou a linha de chegada de seu sonho. Fittipaldi era o primeiro brasileiro campeão mundial da Fórmula 1.
Emerson não perdeu o gás e, em 74, repetiu o feito sagrando-se bicampeão da modalidade mais importante do automobilismo. Por pouco não foi tri em 75, quando ficou com o vice-campeonato. A partir daí, a carreira do paulista estacionou. Após fundar uma equipe de Fórmula 1 – a Copersucar-Fittipaldi – ele passou a disputar a categoria com seu próprio carro. Os resultados não foram dos melhores e, em 1980, a equipe se desfez.
Porém, Emerson ainda daria muitas voltas por cima. Pioneiro na Fórmula 1, o piloto arriscaria seu status de desbravador ao enfrentar um novo desafio em uma modalidade desconhecida no Brasil. Em 84, Emerson disputaria a Fórmula Indy. “Era uma categoria interessante, com circuitos de diversos tipos, mas fora da América do Norte não era conhecida. Com os mesmos predicados que o fizeram vencer na F1, Emerson começou a se destacar na Indy”, conta Fred Sabino.
Pioneiro e protagonista
Em 1984, então, Fittipaldi tirava a carreira da garagem e voltava a correr em uma grande categoria. Contudo, o piloto só voltaria a ganhar destaque em 85, quando conquistou as 500 milhas de Michigan e se tornou o primeiro brasileiro a vencer na Indy. Mais uma vez, Emerson provava seu pioneirismo e apresentava uma nova modalidade ao Brasil – como conta Gabriel Curty: “ele sempre esteve entre os caras que foram meio que descobrindo o esporte. Ele ajudou bastante a popularizar a F1 e a Indy entre os torcedores, mas também entre os pilotos. Provou que eram caminhos que poderiam ser seguidos por tantos outros.”
Entre 84 e 88, marcado por diversos acidentes e abandonos, Fittipaldi não passou de coadjuvante na categoria. Entretanto, algumas mudanças no carro da Patrick – equipe de Emerson – tornaram o carro mais confiável e deram bandeira verde para o brasileiro acelerar em 1989.
Enfim, 28 de maio de 1989. Chegada a tão aguardada etapa de Indianápolis, Emerson já havia vencido outras quatro corridas daquela edição da Fórmula Indy e era um dos postulantes a conquistar o circuito. Para isso, porém, teria que “bater o Al Unser”, tetracampeão do circuito e um dos maiores automobilistas da história da modalidade.
500 emoções de Indianápolis
O grid inicial da prova não se apresentava favorável a Fittipaldi. Na pole position estava Rick Mears, campeão da Indy 500 do ano anterior e algoz de Emerson, que ficou com o vice na ocasião. Na segunda colocação vinha o lendário Al Unser. Enquanto Emerson era somente o terceiro – entretanto situações desfavoráveis sempre foram as prediletas desse brasileiro sem freio.
Hasteada a bandeira verde, o piloto precisou de pouco tempo para assumir a liderança e colocar os rivais no seu retrovisor. Os carros adversários ficaram para trás e perderam a posição de “grande temor”. Isso porque o chassi usado por Fittipaldi apresentou problemas em outros carros que o utilizavam. Uma falha mecânica naquele momento era iminente e poderia colocar tudo a perder. Era dada a largada da apreensão.
As voltas se sucediam e o chassi aguentava firme, assim como o coração dos brasileiros. Mas outra derrapada da Patrick colocaria tudo a perder. Em uma das últimas paradas de Emerson nos boxes, a equipe errou no abastecimento: colocou combustível demais no carro, deixando-o pesado. Isso foi o bastante para que, nas últimas voltas, Al Unser Jr – filho de Al Unser, que havia se retirado da partida devido a problemas técnicos – ultrapassasse o brasileiro.
Apesar do momento de tensão, a virada viria na penúltima volta, quando, após uma intensa batalha lado a lado, Fittipaldi levou “little Al” ao muro com uma batida. A bandeira amarela, comemorada com emoção por Luciano do Valle na transmissão da Band, neste dia, poderia ter incluído o verde.
“Quando parecia impossível uma reviravolta, o Emerson aproveitou os retardatários para chegar no Al Unser Jr e ultrapassá-lo. Lembro que pulei bastante com o meu avô para comemorar. Um momento inesquecível”, relembra o jornalista Fred Sabino.
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Largada brasileira
O momento, tão emocionante, foi um marco na história do automobilismo brasileiro e mundial. “Isso vai muito do gosto pessoal, mas eu considero a Indy 500 a maior corrida do mundo. Sendo assim, teríamos 7 opções na lista [de maiores vitórias brasileiras no automobilismo], as 7 vitórias em Indianápolis. Essa do Emerson é uma das mais legais pelas circunstâncias, pela narração marcante do Luciano do Valle e, é claro, por ter sido a primeira“, declarou Gabriel Curty.
O fato é que a presença e, principalmente, o desempenho dos brasileiros na corrida e na modalidade cresceu bastante após o sucesso de Fittipaldi. O Arquibancada reuniu alguns dados a esse respeito na tabela a seguir:
A primeira vitória brasileira nas 500 milhas de Indianápolis incomodou os norte-americanos por se tratar de uma prova tradicional da competição automobilística mais importante do país. A derrota de pilotos famosos – como o próprio Al Unser e o Rick Mears – nessa corrida, aproxima-se do sentimento de um torcedor brasileiro ao ver o seu time perder um jogo em casa.
Já para o Brasil, a linha de chegada atravessada por Fittipaldi significou um ponto de partida. O piloto tornou-se exemplo, ídolo, meta e motivação para os futuros competidores, e, aos poucos, a Fórmula Indy passou a fazer parte da realidade do brasileiro. Como disse Fred Sabino, “É sem dúvida uma das maiores vitórias de um piloto brasileiro numa corrida internacional em todos os tempos.”