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3ª Semana da Jornalismo Júnior | 2º dia: A mulher no jornalismo

Com todos os presentes possuindo o livro “Sejamos Todos Feministas” em mãos, teve inicio, na noite de terça-feira, a mesa mais empoderada da semana. Contando com Jéssica Moreira na mediação, Nana Soares, Clara Browne e Ana Paula Souza discutiram a situação da mulher dentro das redações e como são representadas na mídia. Na introdução do …

3ª Semana da Jornalismo Júnior | 2º dia: A mulher no jornalismo Leia mais »

Com todos os presentes possuindo o livro “Sejamos Todos Feministas” em mãos, teve inicio, na noite de terça-feira, a mesa mais empoderada da semana. Contando com Jéssica Moreira na mediação, Nana Soares, Clara Browne e Ana Paula Souza discutiram a situação da mulher dentro das redações e como são representadas na mídia.

Na introdução do debate, Jéssica Moreira, co-fundadora do coletivo Nós, mulheres da periferia, construiu uma linha do tempo do jornalismo voltado para o público feminino. Destacou que no século XIX as publicações eram muito segmentadas em moda e beleza e voltadas para a dona de casa, excluindo a mulher de ser leitora dos temas que ela quisesse. Mais para frente, por volta de 1980, observamos o movimento feminista em alta e a aparição de publicações como “Nós, mulheres” e “Mulherio”, representando a mulher com mais relevância e fugindo do esteriótipo de que assuntos femininos são fúteis e superficiais. Em 2000, com a Internet, vemos muitas mulheres ocupando espaços nos blogs e no Youtube, tentando mudar a sociedade machista em que vivemos e mobilizando milhares de pessoas em campanhas como o “Chega de Fiu-Fiu” e “Meu Amigo Secreto”.

Nana Soares, blogueira do Estadão, continuou e disse que acredita que houve mudanças, mas não no ritmo necessário. A representação da mulher ainda é muito falha. Em uma pesquisa de 2010, por exemplo, foi constatado que apenas 23% das fontes utilizadas nas matérias da revista Superinteressante eram mulheres. Em outra, de 2013, verificou-se que só 19% das manchetes da primeira página do The New York Times tinham mulheres como fontes. Mas ela também ressaltou que representatividade não é só quem aparece no jornal ou revista, mas também quem faz. E aí está um outro problema. Além da precarização da profissão, as jornalista sofrem com o fato de que são maioria nos cursos, mas minoria nos cargos de poder e também há a questão de assédio moral e sexual: cerca de 78% das jornalistas já sofreram algum tipo de perseguição de chefes. Nana ainda citou o caso recente do cantor Biel, que assediou uma jornalista, e esta foi demitida, assim como sua editora.

Em seguida, Clara Browne, editora geral da Capitolina, salientou que se é difícil para a mulher branca, classe média e heterossexual, maioria na área jornalística, é ainda mais complicado para as mulheres negras, bissexuais, lésbicas e transsexuais. Disse que se você não se sente representada, sente que falta algo no mercado ou na mídia, o melhor a fazer é ocupar os espaços, assim como foi a criação da Capitolina. E falou mais: “Se você tem o seu espaço, você pode compartilhar com outras pessoas”. Além disso, destacou que não basta utilizar a mulher como fonte, é preciso perguntar para as mulheres as mesmas questões que você faria para um homem. Ficar somente no “ser mulher e como isso é difícil” desvaloriza o fato de que sabemos muito mais do que isso.

Ana Paula Souza, fundadora do site Lado M, disse que o profissional jornalista, muitas vezes, não se coloca no lugar do leitor, retratando apenas o que ele próprio vive. Mas é importante lembrar que cada mulher tem uma vivência diferente e é preciso ter generosidade ao retratar estas mulheres. Além disso, acentuou que o homem tem muita voz e espaço na sociedade e é preciso de iniciativas como o Lado M, onde só escrevem mulheres, para que elas tenham um lugar só seu. “Nós somos constantemente silenciadas”, destacou ela logo após de falar sobre como um homem nunca poderá dizer como uma mulher se sente depois de um abuso, por exemplo, porque ele não teve a vivência. É preciso saber o seu lugar de fala.

Jéssica ainda destacou os desafios enfrentados pelas mulheres negras da periferia e lançou o seguinte questionamento: “Será que ninguém, de fato, quer produzir mídia na periferia ou será que é falta de oportunidade?”. Evidenciou como é difícil viver numa sociedade onde o esteriótipo é a mulher branca e magra e como o jornalismo pode ser um lugar de ressignificação da memória, ou seja, fazer da memória futura diferente daquela que vivemos hoje.

Logo depois o debate foi aberto para perguntas do público. Questionada se houve mudanças na situação da mulher negra da senzala até os dias de hoje, Jéssica disse que acredita que houve avanços, como a entrada da mulher negra na universidade, mas ainda há muita coisa para acontecer. Segundo ela, não foi pago nem um terço do que é dos negros por direito e se tivessem tidos avanços reais ela não precisaria estar discutindo aquele assunto ali. As palestrantes também responderam como mudar a situação da mulher sendo jornalista, destacando que o fato de trazer uma mulher para falar já é uma contribuição muito importante. Além de sugerir pautas transformadoras e resistir nos seus ideais. “Precisa ter gente na grande mídia para falar sobre isso”, frisou Nana Soares.

A última pergunta questionava o papel do homem no feminismo. As opiniões foram unânimes. Para as palestrantes, o homem pode ajudar escutando e abrindo espaço para a mulher falar. Ana relembrou que os personagens mais conhecidos da história são homens e os momentos em que as mulheres foram protagonistas são raros, portanto, o movimento feminista é um dos poucos lugares que a mulher pode ocupar. Nana ainda sugeriu que ao invés de colocar um homem para escrever na Capitolina ou no Lado M, o melhor a fazer é deixar que eles leiam as matérias.

No fim, foram sorteados dois kits de livros escritos por mulheres da Companhia das Letras. O segundo dia terminou com muito girl power e com grandes expectativas para os próximos dias do evento.

Por Beatriz Arruda
beatriz.arruda12@gmail.com

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