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A arte de JR e sua galeria mundial a céu aberto

(Imagem: Reprodução / CBS) *As imagens das galerias são reproduções de divulgação oficial, disponíveis no site do fotógrafo Sempre vestindo chapéus e óculos escuros, o artista de rua e fotógrafo francês Jean Réné, mais conhecido pelo pseudônimo JR tem grande apreço pelo mistério. A imagem cool do jovem misterioso é só um extra, já que a real …

A arte de JR e sua galeria mundial a céu aberto Leia mais »

(Imagem: Reprodução / CBS)

*As imagens das galerias são reproduções de divulgação oficial, disponíveis no site do fotógrafo

Sempre vestindo chapéus e óculos escuros, o artista de rua e fotógrafo francês Jean Réné, mais conhecido pelo pseudônimo JR tem grande apreço pelo mistério. A imagem cool do jovem misterioso é só um extra, já que a real motivação por trás do suspense que o envolve foi sua segurança e garantia de exercer suas atividades ilegais pelo mundo. Não estamos falando de tráfico de nenhum tipo, mas sim da exibição de fotografias em dimensões gigantes coladas nas diversas superfícies das cidades, em estilo lambe-lambe.

Seus primeiros passos na arte foram através do grafite, até que um dia encontrou uma câmera no metrô de Paris. Desenvolveu seu olhar fotográfico e, hoje, costuma clicar o rosto de seus modelos — em sua maioria, pessoas socialmente vulneráveis — com uma lente 28mm, que resulta em retratos, de certa forma, engraçados, mas sempre cheios de alma. Acreditando no papel crítico e social da arte e, mais ainda, em seu grande poder de mudar o mundo, JR começou a fotografar e deu início a sua vasta coleção de exposições artísticas; a maior do mundo, segundo ele. A afirmação é certíssima, considerando que o francês exibe suas fotografias nas ruas e prédios de cidades espalhadas por todo o globo.

Como exemplo de sua arte extremamente engajada, temos a instalação de uma fotografia (com mais de 20 metros de altura) de um bebê, olhando por cima do muro que separa os Estados Unidos do México. De forma ilegal, o artista instalou um andaime em plena fronteira para pendurar a fotografia.

(Imagem: Reprodução)

Dessa forma, ele realmente possui uma das maiores galerias de arte do mundo, mas não apenas geograficamente. Ao optar exibir suas obras fora das salas fechadas e elitizadas de museus, JR leva sua arte à um número muito maior e mais diverso de pessoas, já que qualquer um pode contemplá-la simplesmente andando nas ruas, e assim, sentir o impacto de uma reflexão trazida pela arte. Através de suas intervenções, JR nos conta histórias de desconhecidos e direciona o holofote em pessoas que normalmente são ignoradas.

Conheça mais sobre o artista através de alguns de seus principais projetos:

Portrait of a Generation (2006)

Em seu primeiro projeto, realizado entre 2004 e 2006, JR fotografou retratos de jovens que vivem em bairros carentes de Paris, a maioria descendentes de africanos. Posteriormente, colou as fotos, impressas em grandes proporções e preto e branco, nas superfícies dos bairros mais ricos de Paris. O projeto começou como ilegal, mas quando a prefeitura da cidade colou uma das fotos em sua fachada, o artista saiu da ilegalidade e ganhou muita fama. As fotografias foram feitas um pouco depois de uma série de conflitos que aconteceram nessas regiões mais pobres e distantes do centro. Na época, a morte de dois jovens durante uma perseguição da polícia gerou uma onda de violência que durou 16 dias e resultou em cerca de oito mil carros queimados. As imagens não podem ser ignoradas pelos passantes que, enxergando a humanidade escancarada nos olhares presentes nas fotografias — como de costume do artista, feitas com lentes 28mm — com certeza irão refletir sobre as injustiças, desigualdades e a invisibilidade de alguns habitantes da cidade luz.

Face 2 Face

Em 2005, JR decidiu viajar até o Oriente Médio, com o objetivo de entender o porquê palestinos e israelenses se odiavam tanto. Após um tempo apenas observando o território e seus habitantes, o artista concluiu que essas pessoas eram muito parecidas: falavam sobre os mesmos assuntos, usando a mesma língua, mas como irmãos gêmeos que foram separados e viviam com famílias diferentes. A partir dessa ideia de que todo israelense tem um “irmão” do outro lado, JR decidiu colocá-los cara a cara (FACE 2 FACE). Fotografou retratos de palestinos e israelenses que, sem saber, fizeram poses similares e exibiu as fotografias em proporções gigantescas, em ambos os lados. Foi a maior exibição artística ilegal da história. O artista afirma que num contexto tão sensível, é preciso ser claro, e ele torce para que os dois povos possam viver pacificamente em dois países reconhecidos com suas fronteiras. Acreditando no poder da arte, JR quis escancarar a humanidade presente na face do irmão que mora ao lado. Essa exibição fotográfica prova que a leveza de ser humano está presente igualmente no olhar e nas caretas divertidas de palestinos e israelenses.

Women Are Heroes (2008)

Após realizar o projeto na Libéria e no Quênia, JR desembarcou no Rio de Janeiro. Carregando as marcas de uma história repleta de medo e violência, os moradores do morro da Providência certamente não imaginavam que seu lar poderia ser palco de uma exposição artística. Mas foi. Com o objetivo de homenagear aquelas que tem papel essencial na sociedade e, ao mesmo tempo, são submetidas a inúmeras violências físicas e psicológicas diariamente, JR fotografou as mulheres do Morro e exibiu os retratos em proporções gigantescas.

Dentre essas mulheres, estavam as mães, amigas e avós de três meninos do bairro que, semanas antes da visita de JR, haviam sido sequestrados por militares e entregues como troféus aos traficantes de uma favela rival, onde foram torturados e mortos. JR cobriu a enorme escada que atravessa a parte alta da favela com a foto da avó de um desses meninos. Até mesmo os traficantes respeitaram a importância do projeto, permitindo que o artista passasse quase um mês colando suas fotografias no local.

As fotografias — em sua maioria, focando nos olhos das mulheres — podem ser vistas de muito longe, inclusive do asfalto quente da rodovia que passa ao lado da comunidade, que tem como destino uma área nobre da cidade maravilhosa. Além disso, o morro ganhou novos olhares e manchetes, que foram além dos dois únicos assuntos antes associado a comunidade: o tráfico de drogas e a violência. A essa altura, JR já estava longe, afirmando que o poder da arte é mudar a percepção das coisas; não oferecendo respostas, mas despertando muitas perguntas. O projeto não parou no Rio. JR também fotografou e homenageou mulheres de diversos cantos do mundo, como Serra Leoa, Índia e Camboja.

The Wrinkles of the City (2010)

Sendo uma das maiores cidades dos Estados Unidos, Los Angeles é de longe a mais glamurosa, abrigando estrelas e o conceito de Hollywood, que faz da perfeição estética e do glamour um estilo de vida. Com o projeto The Wrinkles of the City, JR pretendia contrapor as faces mais velhas e singelas da cidade que, entre rugas e linhas de expressão, destoam da perfeição comprada dos botoxs e cirurgias plásticas. As fotografias trazem também a transformação das facetas das cidades e bairros com suas antigas gerações, tão diferentes destas últimas. O projeto também alcançou cidades como Cartagena, Xangai, Havana, Berlim e Istambul.

Unframed

No projeto Unframed, JR utiliza imagens que não são de sua autoria, mas sim, de fotógrafos renomados ou anônimos, e as espalhou em lugares e contextos diferentes, dando a elas um novo significado. O projeto passou por cidades como São Paulo, Baden Baden e Washington, até chegar onde ganharia mais destaque: Ellis Island.

Em agosto de 2014, JR foi convidado para trabalhar na área abandonada da ilha, um local muito simbólico por ter sido a porta de entrada de muitos imigrantes que partiram de seus países com destino aos Estados Unidos. Com o intuito de preservar a memória e a história da ilha e dos imigrantes que lá desembarcaram, JR acessou os arquivos do local e, com fotografias antigas, realizou diversas instalações artísticas pelos prédios que abrigaram tanta história.

Visages, Villages (2017)

Em parceria com a cineasta renomada Agnès Varda, JR explorou também o mundo da sétima arte. No estilo road movie, os artistas saíram juntos viajando pela França. Nesse filme extremamente sensível, podemos conhecer mais sobre quatro vilarejos franceses, seus habitantes e suas histórias.

Para saber mais, leia a resenha completa no site do Cinéfilos clicando aqui.

Casa Amarela

A Casa Amarela é um projeto social que JR mantém no bairro do morro da Providência desde 2009, financiado por doações anônimas de particulares e com o dinheiro que o artista ganha com suas intervenções legais. Na casa, crianças podem receber aulas de artes, música, fotografia, música, leitura e inglês. Recebendo visitas um tanto quanto especiais, como a cantora Madonna, a casa alegremente pintada inteiramente de amarelo ainda possui uma estrutura em formato de lua crescente o ponto mais alto da favela —, onde é possível ter uma vista incrível da cidade.  

Inside Out

Em 2011, o francês de projetos ousados ganhou o prêmio TED, rendendo a ele a quantia de cem mil dólares. Com o dinheiro, JR lançou o projeto Inside Out, que permite a qualquer pessoa ao redor de todo o mundo enviar sua foto para que o artista a devolva impressa em tamanho grande e pronta para ser colada em qualquer lugar. Dessa forma, é um projeto de participação internacional, sendo considerado o maior projeto artístico e participativo do mundo. Mais de 400 mil fotografias, vindas de 129 países, foram enviadas. Além de presentear o artista com o prêmio em dinheiro, a organização do prêmio exige que o homenageado formule um desejo para mudar o mundo. A resposta de JR? Usar a arte para virar o mundo pelo avesso.

Para saber mais sobre o artista e seus projetos, acesse: https://www.jr-art.net/ 

Por Giovanna Stael
giovannastael@usp.br

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