“Somos guerreiros da floresta, mas não para brigar, para proteger”, esclarece o líder indígena Ninawa Inu Huni Kuin, na coletiva de lançamento da série documental “Guerreiros da Floresta”. Produzida em parceria pelo Canal Futura e pela Santa Rita Filmes, o seriado conta a luta de três lideranças indígenas e seus povos. Ameaçados por um desenvolvimentismo excludente, eles são tratados como estrangeiros dentro de seu próprio país.
Ao longo de 13 episódios de 25 minutos cada, o seriado acompanha o dia a dia de luta das lideranças indígenas; mostra como lidam com as constantes ameaças a suas vidas e territórios, além de falarem pouco sobre o cotidiano de cada povo e suas peculiaridades culturais. Tudo isso com uma qualidade técnica inegável e uma fotografia muito bem trabalhada. Os cinegrafistas se preocuparam em mostrar, além da visão geral, os pequenos detalhes do cotidiano da aldeia. As imagens mais sérias e informativas convivem com o dia a dia dos indígenas de forma orgânica e natural, o que faz com que, para o público, a empatia surja como a única resposta possível. A produção é sensível e retrata os indígenas de forma a incluí-los e humanizá-los, não de maneira a afastá-los ou ressaltar suas peculiaridades no formato sensacionalista de espetáculo.
Trazendo uma temática importante, que necessita de reconhecimento e visibilidade, o projeto foi escolhido dentre 400 propostas. O modo como foi selecionada a produtora parceira, a Santa Rita Filmes, também é interessante. Por entender a necessidade de incentivar o audiovisual fora do Sudeste, o Canal Futura, em iniciativa inédita, abriu um edital limitado à produtores das regiões Norte e Nordeste, para projetos relacionados à educação ambiental. Dez foram escolhidos e “Guerreiros da Floresta” é o primeiro deles. Débora Garcia, gerente de conteúdo do canal, explica: “Tem tudo a ver com o canal. Nossa missão é dar outras perspectivas de histórias reais, seguindo o lema de ‘não deixar ninguém para trás’. Queremos amplificar vozes e gerar empatia. E é isso que a série faz.”
A diretora e autora do argumento Andrea Pilar Marranquiel falou sobre a escolha das lideranças: “Fomos atrás dos que estão no front e sendo ameaçados. O que está ali não foi pautado ou roteirizado, o que está ali foi dito e é a verdade de povos perseguidos, povos que ainda estão na linha de extermínio.” Ela também comenta sobre a importância da produção no momento atual: “A gente está errando de novo, estamos referendando um modelo anti-indigenista que pode acabar com uma história que é nossa, que é a verdadeira história brasileira”.
A equipe de produção ficou 3 meses imersa nas aldeias retratadas em tela: “A ideia era criar uma relação de confiança mútua com as lideranças indígenas. Queríamos que eles fossem os protagonistas, a voz da série.”, explica Andrea. De fato, o protagonismo dos líderes Davi Kopenawa, Almir Surí e Ninawa Inu Huni Kuin é parte essencial da qualidade do seriado. Eles usam sua própria voz para contar sobre a luta diária que travam pela defesa da sustentabilidade, preservação das florestas, direitos indígenas e herança cultural de seus povos. Eles não precisam que ninguém fale por eles. O seriado entende e impulsiona este fato.
Almir e Ninawa, duas lideranças indígenas presentes na coletiva de lançamento, reforçam a importância da produção: “Vivemos um momento crucial para conscientização humana, para estagnar tudo de ruim que já aconteceu. A série mostra a nossa realidade da aldeia, e a importância da defesa de nosso território. Esse momento é de muito orgulho para nós”, comenta Ninawa.
Almir, que começou a ser líder aos 14 anos, complementa que a luta dos povos indígenas , apesar das distâncias geográficas e culturais, se une no compromisso único de preservação da natureza e da herança dos povos originários: “Nós, lideranças indígenas, defendemos o Brasil. Queremos que ele seja um exemplo de país que respeita seu povo. (…) Não quero o índio como vítima. Temos propostas ao Brasil. Também queremos sentar na mesa com outras lideranças para discutir. Hoje, minha principal arma é o diálogo, a comunicação e propósitos”.
Assim, a série trata um tema delicado e de extrema importância com todo o cuidado que ele merece. Já começa acertando quando privilegia produtoras de fora do circuito comum, formado pelo Rio e São Paulo. Acerta novamente em apostar no caráter educativo do audiovisual e, por fim, também o faz na concretização do projeto. Tudo parece ter sido pensado detalhadamente, e o resultado foi uma produção de qualidade inegável.
O seriado estará disponível na plataforma online Futura Play e tem sua estreia, na televisão, marcada para o dia 20 de fevereiro, às 22:30.