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A Noviça Rebelde: lindo, luxuoso e inacessível

Imagem: Divulgação/Reprodução Baseado em fatos reais, o musical A Noviça Rebelde foi um sucesso desde seu lançamento. O filme, lançado em 1965 e protagonizado por Julie Andrews, foi reconhecido pela crítica mundial como um clássico e alcançou vitórias nas premiações mais importantes do cinema: o Oscar e o Globo de Ouro. Já o musical da Broadway, …

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Imagem: Divulgação/Reprodução

Baseado em fatos reais, o musical A Noviça Rebelde foi um sucesso desde seu lançamento. O filme, lançado em 1965 e protagonizado por Julie Andrews, foi reconhecido pela crítica mundial como um clássico e alcançou vitórias nas premiações mais importantes do cinema: o Oscar e o Globo de Ouro. Já o musical da Broadway, cuja estreia aconteceu em 1959, contou com mais de 1400 apresentações, além de ganhar 6 Tony Awards. Sendo assim, não é novidade que se trata de uma história emocionante, e, no Teatro Renault, não foi diferente.

Com um orçamento de 10 milhões de reais, a peça, desde os primeiros planejamentos, foi feita para ser uma superprodução. Artistas brasileiros e estrangeiros trabalharam em conjunto, sob a produção de Möeller e Botelho e Ateliê de Cultura. No elenco, a jovem Malu Rodrigues como Maria Von Trapp, Gabriel Braga Nunes como Capitão Von Trapp e Larissa Manoela como Liesl Von Trapp, a filha mais velha do Capitão, entre outros atores e atrizes muito capacitados. A cenografia estava impecável, misturando os elementos clássicos, típicos da época retratada, com muitos dos recursos que a modernidade nos propicia, incluindo um telão de alta qualidade que trouxe à cena “Eu Confio” uma harmonia, dinamicidade e perfeição visual invejáveis.

Outro destaque foi a atuação das crianças do elenco, que fizeram os papéis dos 7 filhos do Capitão Von Trapp. Muito profissionais, centradas e afinadas, elas arrancavam sorrisos da plateia em todas as cenas nas quais participavam, tendo sido aplaudidas com veemência durante e ao final do espetáculo. Na famosa cena “Dó Ré Mi”, a plateia nem ao menos foi capaz de esperar até a finalização do ato, tendo irrompido em palmas durante a apresentação da música, tamanha a comoção gerada. As cenas “Maria” e “Coisas Que Eu Amo” também foram executadas com perfeição e receberam o aval positivo, em forma de palmas entusiasmadas, dos ali presentes.

Sendo assim, em relação às tecnicidades e atuação, são poucas as críticas negativas que podem ser feitas. Em alguns momentos, alguns atores erraram suas falas, tendo gaguejado ou se confundido, porém, nada grande o suficiente para realmente influenciar no andamento do espetáculo. O musical começou pontualmente, teve um intervalo de 15 minutos, e terminou também no horário esperado. Ou seja, tudo ocorreu como o previsto. Porém, isso não indica que não existam críticas válidas e extremamente necessárias a serem feitas. Dentre elas está a inacessibilidade da produção. Os altos preços dos ingressos estão completamente fora do alcance da maioria da população paulistana.

A plateia, emocionada e imersa, pode também ser definida por meio de outro adjetivo: homogênea. Quem estava ali presente era, no mínimo, pertencente à classe média. Com ingressos que variam entre 75,00 a 310,00 reais, não é surpreendente que o trabalhador comum não frequente esses espaços. Em uma pequena comparação, se uma família de três pessoas, dois adultos e uma criança, quisessem assistir ao espetáculo, o preço total dos ingressos, no lugar de pior visualização, seria R$187,00, quase 10 por cento da renda familiar gerada por dois salários mínimos. Caso a intenção fosse assistir no melhor lugar, o preço total seria R$ 775,00, cerca de 40 por cento da renda familiar. Ou seja, este espetáculo, financiado também com o apoio do Ministério da Cultura e Governo Federal, não retorna ao povo e nem aumenta o contato do brasileiro com a arte. Isso levanta uma questão histórica: para quem é feita a arte no Brasil?

Para resolver essa questão, ou melhor, oferecer certo paliativo, o Teatro Renault costuma realizar algumas sessões populares, nas quais os preços ficam muitos mais acessíveis. Porém, o Ateliê de Cultura, um dos produtores do evento, não respondeu a nenhuma das tentativas de contato com a intenção de esclarecer e divulgar a data e/ou a existência ou inexistência desse tipo de sessões. O outro produtor, Möeller e Botelho, respondeu dizendo que tal questão deveria ser tratada só e diretamente com o Ateliê de Cultura. Sendo assim, as possíveis informações sobre esse tipo de sessão têm sido negadas, o que pode indicar que tão necessárias e inclusivas apresentações nem venham a acontecer.

É claro que uma produção de tal magnitude sai cara, cada detalhe é essencial e os atores merecem salários dignos. Porém, algumas escolhas podem sempre ser questionadas, afinal, tudo é uma questão de estabelecer prioridades. As dos produtores, certamente, não consideraram ampliar o público alvo e democratizar o acesso à arte. Vale ressaltar que este não é um problema único e específico do espetáculo aqui resenhado, porém, junto com cada novo título que entra em cartaz, surge também a possibilidade de fazer diferente. Possibilidade esta que, mais uma vez, não foi acatada.

Por fim, pode-se afirmar que o espetáculo A Noviça Rebelde é um musical lindo e luxuoso, contando com vários recursos que aumentam o valor da produção e fazem dela um programa bastante especial e divertido. Porém, por trás desse luxo, existe a inacessibilidade de uma peça que é feita sempre para o mesmo grupo de pessoas, elitizando ainda mais a arte ao desconsiderar a realidade brasileira e excluir a maioria da população.

Por Laura Scofield
lauradscofield@yahoo.com.br

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