Se o cinema sul-coreano tem de fato conquistado o Brasil recentemente, A Vilã (The Villainess, 2017) talvez não seja o filme que vai confirmar essa tendência. O longa trata da história de Sook-hee (Kim Ok‑bin), uma mulher que foi treinada desde criança para ser uma grande assassina. Capaz de derrotar o melhor matador profissional, Sook-hee é forçada a trabalhar como agente secreta na Agência de Inteligência coreana, que promete acabar com seu trabalho árduo depois que prestasse dez anos de serviço. Para manter-se viva durante esse tempo, ela só precisa matar quem a chefe Kwon (Kim Seo‑hyung) mandar – apesar do maior desejo da assassina ser, na verdade, vingar-se de quem matou seu pai e seu marido.
Quando volta à “vida normal” prometida, ela é obrigada a encarar uma nova identidade. Dali em diante ela seria Chae Yeon-soo, de 27 anos e atriz de teatro. Ao realizar sua mudança para o novo apartamento, conhece Hyun-soo (Sung Joon), um agente secreto mandado pela “chefe” para manter Sook-hee sobre controle. No entanto, o casal acaba se apaixonando (ou, pelo menos, é o que parece). Na realidade, trata-se de uma romance totalmente forçado e que parece que foi encaixado no filme apenas para que ele entrasse nos moldes dos filmes que são exportados para o resto do mundo, ao mesmo tempo que tenta não perder as características do cinema coreano.
Apesar da premissa aparentemente interessante, o filme é confuso em diversos aspectos. Início, meio e fim são totalmente embaralhados e a qualquer momento você pode confundir uma lembrança de alguma personagem com uma cena que está seguindo a sequência narrativa (se é que podemos falar de sequência narrativa em A Vilã). As quebras são forçadas e, por vezes, não fazem nenhum sentido. A mudança repentina de cenas e a narrativa desconexa deixa o espectador até mesmo com vertigem. Às vezes é preciso parar e pensar: “Essa cena é sobre o passado ou sobre o presente?” ou “Quando esse personagem apareceu mesmo?”
Não bastasse a confusão narrativa, as filmagens deixam o longa mais confuso ainda. A câmera, por vezes, faz tomadas que tornam a cena difícil de ser decifrada, com imagens de ponta cabeça e com muito movimento. Por outro lado, o filme também trás alguns enquadramentos inovadores e transições de câmera impressionantes – e talvez esse seja um dos únicos aspectos positivos do longa. É como se quisesse mostrar algo “diferentão”, mas acabasse passando um pouco do limite.
Além disso, se você não é o maior fã de sangue e mortes violentas, é melhor passar longe desse longa. São raras as cenas em que não há sangue jorrando, pessoas sendo mortas a tiros e facadas ou rostos sendo desfigurados. E é possível que você até se sinta dentro de um vídeo game em determinadas partes do filme – principalmente quando há o uso da câmera subjetiva, ou seja, quando a filmagem se torna a visão da personagem principal.
No final, nada fica realmente claro. Terminar A Vilã com algumas dúvidas é algo bem natural. O que fica para quem assiste é que, basicamente, se trata de um filme sanguinário, em que você deve matar para não ser morto. É até sem graça a ideia de “Quem morre no final?”, já que parece que todos os personagens vão morrer em algum momento. E uma dica, se você quiser entender (ou tentar) o que está acontecendo, é melhor acompanhar o figurino dos personagens, porque esse parece ser o único jeito de seguir a narrativa confusa.
A Vilã é um grande compilado de exageros que tenta suprir a demanda comercial e o que se espera de um filme coreano ao mesmo tempo. Pena que isso não dá muito certo.
O longa tem direção de Jung Byung-gil (de Confissão de Assassinato) e distribuição nacional Paris Filmes. A estreia do filme acontece dia 23 de novembro. Confira o trailer aqui:
por Fernanda Teles
fernanda.teles@usp.br
Tem a vida apagada. O que significa isso ? Não entendi o final . Alguém pode me explicar ?