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Devíamos prestar mais atenção na M.I.A. (enquanto há tempo)

“Live fast die young, bad girls do it well”  Provavelmente você já viu ou ouviu essa frase em algum lugar. Aliás, talvez essa seja a primeira coisa que venha a mente da maioria das pessoas quando se fala em M.I.A.. O verso de Bad Girls, faixa do álbum “Mathangi”, virou quase um mantra e, depois …

Devíamos prestar mais atenção na M.I.A. (enquanto há tempo) Leia mais »

“Live fast die young, bad girls do it well”  Provavelmente você já viu ou ouviu essa frase em algum lugar. Aliás, talvez essa seja a primeira coisa que venha a mente da maioria das pessoas quando se fala em M.I.A.. O verso de Bad Girls, faixa do álbum “Mathangi”, virou quase um mantra e, depois de Paper Planes, é sem dúvidas um de seus maiores sucessos.

O estilo totalmente fora do comum de Mathangi Maya Arulpragasam se traduz tanto nas suas roupas quanto nas suas músicas e, ao mesmo tempo que atrai, também afasta parte do público. Poucos são os que percebem as mensagens por trás de suas letras e clipes, e por maior que seja a repercussão do trabalho da cantora, seu alcance ainda é um tanto restrito, principalmente fora do eixo EUA – Europa.

Para entender o que a rapper fala em suas músicas você precisa conhecer um pouco sobre as origens dela. M.I.A. nasceu no Sri Lanka e lá passou boa parte de sua infância. Seu pai era membro de um grupo de guerrilha tâmil (designação dada aos povos que habitam aquela região) e por esse motivo, a garota e sua família tiveram que viver escondidos por muito tempo, fugindo das tropas do exército. Após dez anos vivendo nessa situação, ela foi pra Inglaterra com sua mãe e irmãos, numa tentativa de fugir da pobreza e violência que a Guerra Civil havia causado em sua terra natal. Só que no novo país os problemas apenas continuaram. Lá ela era mais uma refugiada estigmatizada pela sociedade.

Essa infância conturbada teve forte influência na sua música. Não é à toa que a violência é algo recorrente em seus trabalhos. Um bom exemplo disso é o clipe de Born Free (2010). O vídeo começa com agentes da S.W.A.T. invadindo apartamentos de um prédio em Los Angeles. Os capturados são levados para uma espécie de campo de concentração e lá são obrigados a correr enquanto são atacados por tiros e bombas. O curioso é que esses indivíduos foram raptados pelo simples fato de serem ruivos. As cenas do clipe, que mostram até uma criança levando um tiro na cabeça, são tão fortes que ele foi banido do YouTube nos EUA e no Reino Unido. Essa violência sem limites é uma crítica mais que explícita a forma com que são tratados os imigrantes e, mais que isso, é também fruto das experiências da própria M.I.A. tendo que se esconder com sua família durante a Guerra Civil do Sri Lanka, além da sua revolta com a matança envolvendo os Tamil Tigers – grupo rebelde do qual seu pai fazia parte. A canção foi eleita uma das musicas de protesto mais fortes do século.

M.I.A. já havia abordado o tema imigração  anteriormente – aliás, o assunto está presente em praticamente todos seus álbuns. Em Paper Planes (2007), a cantora fez uma crítica a visão estereotipada e rotulada que a sociedade e as autoridades governamentais tem dos imigrantes árabes, além da forma violenta com que são tratados. O teor crítico da canção passou despercebido por muitos já que tudo foi feito de um jeito menos explícito e até um pouco irônico.

“Política / O que há com isso? / Tiros da polícia / O que há com isso? / Identidades / O que há com isso? / Seu privilégio / O que há com isso? / Pessoas pobres / O que há com isso? / Barco de pessoas / O que há com isso?”

A atual crise migratória não foi ignorada pela artista e mais uma vez ela não perdeu a oportunidade de fazer de sua música um ato de protesto. Borders é uma crítica a postura de líderes políticos europeus e a criação de cercas nas fronteiras para impedir a entrada de imigrantes na Europa.

Cena do clipe de Borders. Imagem: Youtube

Dirigido pela própria rapper, o clipe mostra barcos lotados de pessoas saindo de seus países fugindo de guerras e perseguições religiosas. Em seu perfil no Twitter, ela escreveu que o vídeo foi dedicado a seu tio, já que ele foi quem ajudou a família da artista a deixar o Sri Lanka:

“Eu quero dedicar este vídeo ao meu tio Bala, meu ídolo e modelo. Um dos primeiros imigrantes tâmil  (quem é do Sri Lanka) no Reino Unido, na década de 60, inspirando muitas pessoas por ser um homem ousado e criativo, com tanto estilo que tudo o que eu fizer nem chega a seus pés. Obrigada por ajudar a minha família a vir para a Inglaterra e tirar a gente do Sri Lanka e nos salvar.
Tudo o que eu queria era te agradecer.”

Capa do novo álbum AIM. Imagem: Divulgação

Contendo 17 faixas em sua versão Deluxe, AIM é recheado de influências dos mais variados estilos musicais, mesmo assim, consegue manter a essência hip-hop de M.I.A.. Como já era esperado, a temática política também marcou presença no novo álbum, principalmente nas canções Jump In, Foreign Friend e Visa. Porém, ao que tudo indica, a genialidade da artista pode estar com os dias contados. A cantora declarou que este será o último álbum de sua carreira. Entretanto, esse afastamento não é definitivo. Mesmo não gravando novos discos, M.I.A. continuará trabalhando com música, só que como compositora.

Não é todo dia que alguém com a influência de M.I.A. sai a público em defesa de causas humanitárias ou coisas do gênero. Poucos são os que têm coragem de dar a cara a tapa na mídia e levantar bandeiras defendendo grupos historicamente marginalizados pela sociedade. Tocar em feridas como a questão imigratória torna-se algo ainda mais problemático – e ao mesmo tempo necessário – num momento em que uma onda de conservadorismo invade a Europa e discursos xenofóbicos ganham cada vez mais força, até mesmo das próprias autoridades. Assumindo esse tipo de postura M.I.A. incomoda e prova que é uma verdadeira artista.

Por Igor Soares
digorsoares@gmail.com

1 comentário em “Devíamos prestar mais atenção na M.I.A. (enquanto há tempo)”

  1. Só procurando a fundo pra saber quem é a M.I.A de verdade. Uma mulher incrível, talentosa, ativista, mãe etc. Tenho orgulho dela. E aposto que muita gente tem também.

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