Por Letícia Flávia Guedes
leticiaflavia@usp.br
O vão livre do MASP, Museu de Arte de São Paulo, permaneceu ainda mais agitado durante a primeira semana da exposição Tarsila Popular. Iniciada no dia 5 de abril, ela reúne grandes obras de Tarsila do Amaral e integra Histórias de mulheres, histórias feministas, tema do museu para o ano de 2019. A exposição levou cerca de 2 anos para ser organizada, segundo um dos curadores Fernando Oliva em entrevista ao Huffpost Brasil, e conta, pela primeira vez na crítica de Tarsila, com duas pesquisadoras negras no catálogo da exposição: Amanda Carneiro e Renata Bittencourt.
Logo na entrada da exposição, no primeiro andar, o texto de apresentação contextualiza o visitante da vida e obra da artista. Ele menciona a origem de Tarsila a partir de uma família inserida na oligarquia paulista, seu contato e influência com grandes nomes da arte europeia no período, bem como sua forte participação e destaque no Movimento Modernista brasileiro, juntamente com Oswald e Mário de Andrade. Além disso, o texto também questiona o caráter “popular” de Tarsila. Afinal, suas obras, realmente, refletem a brasilidade e a identidade nacional? Carregam a representatividade de um povo e de um país diverso? Por fim, o que faz com que Tarsila seja uma das mais conhecidas artistas brasileiras?

Quadro O Pescador, 1925. [Créditos: Letícia Flávia Guedes/Jornalismo Jr.]

Mulher observando um dos vários autorretratos de Tarsila [Créditos: Letícia Flávia Guedes/Jornalismo Jr.]

Exposição com o quadro A Negra ao centro [Créditos: Letícia Flávia Guedes / Jornalismo Jr.]

Quadro O Porto, 1953. “Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto e a arte dos nossos caipiras” diz Tarsila em relação a sua identidade e arte.
[Créditos: Letícia Flávia Guedes / Jornalismo Jr.]

Quadro Segunda Classe, 1928. [Créditos: Letícia Flávia Guedes/Jornalismo Jr.]

Quadro O batizado de Macunaíma, 1956 [Créditos: Letícia Flávia Guedes/Jornalismo Jr.]
É importante considerar, sim, que a construção desse posto se deve também ao fato de Tarsila fazer parte da elite cultural paulistana, dotada de grande visibilidade e influência. Além disso, suas pinturas não carregam a total representatividade de um povo e país, até porque ambos são diversos. No entanto, a artista, embora venha de ambientes “de poucos”, busca construir a brasilidade em sua obra, direcionando seu olhar tanto para a paisagem brasileira, quanto para a realidade social do país. Sendo assim, Tarsila deixou sua marca não só com a utilização de cores e formas próprias, que garantem a sua singularidade no Brasil e no mundo, mas também por conseguir ser uma artista de poucos e de todos ao mesmo tempo.