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Festival Na Janela Reflexos: dias 23 e 24/04

O evento da editora Companhia das Letras retorna em mais um edição online, com conversas não mediadas entre grandes nomes da literatura nacional

Entre os dias 23 e 25 de abril, ocorreu o festival Na Janela Reflexos – Diálogos Literários, organizado pela editora Companhia das Letras. O evento — cujo início coincidiu com o Dia Mundial do Livro — foi composto por diversos encontros literários on-line, durante os quais autores da ficção contemporânea brasileira entrevistaram outros autores, em uma conversa livre sobre leitura, personagens, processos de escrita e carreiras. Nesta edição, ainda em tempos pandêmicos, o festival reforçou o compromisso social e incentivou o público a contribuir com os projetos Mães da Favela e Tem Gente Com Fome. Confira a cobertura realizada pelo Sala33.

 

Dia 23:  Diálogos literários com Luisa Geisler & Samir Machado de Machado

Por Luanne Caires

Foi dado o pontapé do festival com diálogo entre Luisa Geisler e Samir Machado. [Imagem: Reprodução/Youtube/Companhia das Letras]
Foi dado o pontapé do festival com diálogo entre Luisa Geisler e Samir Machado de Machado. [Imagem: Reprodução/Youtube/Companhia das Letras]
A mesa de abertura foi uma conversa entre Luisa Geisler e Samir Machado de Machado. Luisa é autora de Luzes de Emergência Se Acenderão Automaticamente (2014), de De Espaços Abandonados (2018) e de Enfim, Capivaras (2019). Em 2020, ela publicou Corpos Secos em coautoria com Samir, que também escreveu Quatro Soldados (2013), Homens Elegantes (2016), Tupinilândia (2018) e Piratas à Vista! (2019).

Os dois convidados se conhecem há tempos e se encontravam frequentemente para um café. Por isso, a mesa já começou com clima descontraído e conversas sobre a vida na pandemia. O diálogo seguiu de forma despretensiosa para as pressões do mercado editorial em relação a livros longos e experimentais e para as belezas e desafios de reproduzir a oralidade na escrita. 

Ao trocarem referências e inspirações, os autores discutiram também a influência de seus papéis como tradutores no ofício da escrita. Além disso, falaram sobre as diferentes jornadas que tiveram na carreira: enquanto Samir começou no mercado regional sulista, passou pela função de editor e aos poucos ampliou o alcance de suas obras, Luisa se inseriu desde o começo em grandes editoras do sudeste brasileiro. 

Após 40 minutos de diálogo livre, com algumas disrupções para responder a perguntas do chat on-line, a jornalista Stephanie Borges passou a mediar questões do público. Entre citações divertidas a fanfics e vídeos sobre a história do Universo, os autores abordaram a importância da leitura para o progresso do escritor e compartilharam detalhes de seus processos de escrita. Samir destacou que uma dificuldade recorrente na profissão é a preocupação com as finanças e que ser escritor(a) profissional não é apenas escrever, mas também traduzir, realizar oficinas, eventos e participar de tudo que envolve o meio literário. 

Assistir a essa mesa foi realmente acompanhar um encontro entre amigos. E o recado final dos autores para o público não pode ficar de fora, pois vale para todos nós: “Sejam bons, comam salada, façam exercício e se hidratem”. 

 

Dia 23:  Diálogos literários com Paulo Scott & Ferréz

Por Luanne Caires

Paulo Scott e Ferrézdiscutiram literatura marginal durante a segunda mesa do evento. [Imagem: Reprodução/YouTube/Companhia das Letras]
Paulo Scott e Ferréz discutiram literatura marginal durante a segunda mesa do evento. [Imagem: Reprodução/YouTube/Companhia das Letras]
A segunda mesa do evento começou com um clima de admiração mútua e se pautou pelo debate político e social. O diálogo foi entre Ferréz, autor de Capão Pecado (2000), Manual Prático do Ódio (2003), Ninguém é Inocente em São Paulo (2007) e outros livros, e o professor universitário Paulo Scott, que tem dez livros publicados, entre eles Marrom e Amarelo (2019) e Meu Mundo Versus Marta (2021). 

Desde os primeiros minutos, Ferréz deixa claro o tom da conversa ao compartilhar as dificuldades que encontrou no começo da carreira enquanto autor de periferia — na época, ele não tinha um computador para finalizar seu livro. O autor trouxe à tona os desafios da literatura marginal e destacou que esta é uma luta antiga ao citar escritores como Lima Barreto e Maria Carolina de Jesus. Scott, conhecido pelo engajamento social de suas produções, complementou ressaltando que a realidade exposta por Ferréz não está escondida, mas mesmo assim não é enxergada no Brasil. Para os dois autores, a literatura tem o papel de retratar e dar voz às realidades brasileiras que historicamente foram marginalizadas e invisibilizadas.

O diálogo prosseguiu com uma forte crítica em relação ao momento político do país e ao papel da educação no enfrentamento da ignorância e da miopia social. A partir de exemplos e obras pessoais, os autores discutiram a necessidade de escolas ressignificarem a literatura trabalhada com a juventude. Com tantos livros e autores contemporâneos que retratam a vivência das periferias, por que não aproveitá-los como instrumentos de identificação e reflexão sobre o mundo?

Na parte final, Scott lembrou a todos que a literatura é um espaço coletivo e de generosidade, assim como de atuação cidadã e compromisso social. A lição que fica do encontro pode ser resumida em uma das falas de Ferréz quando diz que a literatura vem para conversar e, às vezes, resgatar.

 

Dia 24: Diálogos literários com Marçal Aquino & Tony Belloto

Por Pedro Ferreira

Marçal Aquino e Tony Belloto em conversa amigável durante o Festival Na Janela Reflexos. [Imagem: Reprodução/YouTube/Companhia das Letras]
Marçal Aquino e Tony Belloto em conversa amigável durante o Festival Na Janela Reflexos. [Imagem: Reprodução/YouTube/Companhia das Letras]
Dando início às mesas do sábado, Marçal Aquino, escritor e roteirista de cinema e televisão, se juntou a Tony Belloto, compositor e guitarrista da banda Titãs, para uma conversa sobre o universo literário. A mesa foi apresentada por Adriana Couto e ainda contou com espaço para dúvidas do público ao final.

Em um clima de nostalgia, os dois convidados relembraram antigos encontros e trouxeram várias referências de escritores que os inspiram, como Rubem Fonseca. Aquino apontou o curioso momento em que ambos descobriram que estavam prestes a publicar livros com o mesmo nome: Faroeste. “[Tony], gentil e inteligentemente me disse ‘pode usar, você sacou primeiro””, contou.

Tony Belloto mencionou as obras dos dois escritores que se inserem nos romances policiais e comentou sobre as diferenças entre criar personagens fictícios e utilizar figuras da vida real durante seus processos de escrita. Ele também opinou sobre as preferências entre uma narrativa fiel à realidade e uma história com maior potencial literário. “Se tem uma coisa chata em um romance é descobrir as pesquisas que o autor fez, isso atrapalha o ritmo da narrativa”, afirmou.

Marçal também comentou seu mais recente trabalho, Baixo Esplendor (2021), que marca o retorno do autor após dezesseis anos desde seu lançamento anterior. Ele comparou a postura profissional nas áreas da literatura, do jornalismo e da publicidade e afirmou que se sente verdadeiramente livre com os livros.

 

Dia 24: Diálogos literários com Micheliny Verunschk & Stênio Gardel

Por Luisa Costa

Micheliny Verunschk e Stênio Gardel trocam elogios conversando sobre literatura, sociedade e suas obras mais recentes no festival Na Janela Reflexos [Imagem: Reprodução/YouTube/Companhia das Letras]
Micheliny Verunschk e Stênio Gardel trocam elogios conversando sobre literatura, sociedade e suas obras mais recentes no festival Na Janela Reflexos [Imagem: Reprodução/YouTube/Companhia das Letras]
A quarta mesa do festival Na Janela Reflexos começou às 17 e foi protagonizada pelos autores Micheliny Verunschk e Stênio Gardel, que conversaram sobre tópicos como suas obras mais recentes, influências literárias e visões de mundo. Micheliny Verunschk publicou recentemente o romance histórico O Som do Rugido da Onça (2021), que narra a trajetória de duas crianças indígenas raptadas por exploradores europeus no Brasil do século XIX. Já Stênio Gardel publicou seu primeiro romance, A Palavra que Resta (2021), no qual acompanhamos a trajetória de Raimundo, homem analfabeto que, tendo seu amor secreto brutalmente interrompido na juventude, guardou por cinquenta anos uma carta que nunca pôde ler.

Os autores conversaram trocando experiências e palavras gentis que denunciavam admiração mútua. Um dos temas de destaque na mesa foi a linguagem e a origem das narrativas recém-lançadas pelos autores. Stênio observa que a obra de Micheliny se destaca pela delicadeza da linguagem e pela força dos significados; enquanto a autora elogia a “feliz transcrição” da oralidade e do dialeto nordestino em A Palavra que Resta. Os autores refletem sobre o trabalho que empreenderam para alcançar certo equilíbrio em ambas as obras — equilíbrio entre história e ficção, por Micheliny, e para a construção da oralidade na narrativa, por Stênio.

Micheliny conta que, conforme fazia as escolhas narrativas para seu romance histórico, percebia que toda violência e exploração dos povos originários estava permanentemente em aberto. “Os atos violentos acontecem em determinado tempo e espaço, mas se lançam adiante, como uma onda. E esse é o problema da violência; ela não acaba”, afirma. Para Stênio, o roubo das crianças da história pode ser lido como uma metonímia de tudo que é roubado dos indígenas até hoje, em questão de direitos sociais.

Sobre A Palavra que Resta, Stênio afirma que uma das origens de sua narrativa foi sua experiência lidando com pessoas analfabetas em seu trabalho, no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. O autor afirma que procurou destacar, a partir da figura do analfabetismo, a potência da educação e da palavra para a emancipação e a libertação, a partir da diminuição das distâncias. Também partindo do romance, Micheliny e Stênio discutiram a possibilidade do encontro de personagens LGBTQIA+ em cenários que não sejam marcados pela violência e pelo preconceito. Stênio deseja ler obras que tratem as diferentes formas de amor da mesma forma que os relacionamentos heteronormativos. Já sobre a realidade, ele afirma: “principalmente no momento de hoje, é difícil procurar janelas em que se alcance essa plenitude [de viver os relacionamentos e ter representatividade]. A gente avança em passos lentos, mas isso não significa que não possamos sonhar com um momento em que todas as pessoas se sintam livres para ser”.

 

Dia 24: Diálogos literários com Marcelo Vicintin & Rodrigo Lacerda

Por Pedro Ferreira

Os autores Marcelo Vicintin e Rodrigo Lacerda na quinta mesa do Festival Na Janela Reflexos. [Imagem: Reprodução/YouTube]
Os autores Marcelo Vicintin e Rodrigo Lacerda na quinta mesa do Festival Na Janela Reflexos. [Imagem: Reprodução/YouTube]
Na quinta mesa do Festival Na Janela Reflexos, os autores Marcelo Vicintin e Rodrigo Lacerda promoveram uma conversa sobre suas obras e suas construções narrativas. A mesa foi apresentada por Adriana Couto e teve espaço para perguntas do público ao final da conversa.

Marcelo Vicintin abordou seu primeiro romance, As Sobras de Ontem (2020), que será adaptado para o cinema. Ele comentou que escolheu utilizar duas vozes narrativas em seu livro para destacar duas versões diferentes de corrupções de valores para tecer um retrato social polivalente. “Eu tinha muito essa vontade de narrar um recorte de Brasil que eu não sinto que é tão abordado na literatura contemporânea, que é dessa elite privilegiada do sudeste”, contou.

Rodrigo Lacerda comentou sobre sua preferência por uma literatura mais atrelada à psicanálise do que à sociologia. “Os personagens são tipos sociais ou são pessoas de carne e osso? Eu considero que a psicanálise me ajuda a ler os livros buscando essa irredutível individualidade do personagem, sem deixar que a leitura sociológica sufoque esse plano”, afirmou.

A íntegra do Na Janela Reflexos – Diálogos Literários está disponível no canal da Companhia das Letras no YouTube.

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