Não me levem a mal, eu gosto de astrologia, mas foi bem difícil engolir esse livro. Mesmo eu sendo do tipo que, vez ou outra, passa o olho pelo horóscopo para saber se vale mesmo a pena levantar da cama. A temática é levada à exaustão com uma protagonista pra lá de problemática, fazendo de Guia Astrológico Para Corações Partidos (Silvia Zucca, 2016) minha maior decepção literária dos últimos tempos.
Alice é a famosa personagem que precisa a qualquer custo estar num relacionamento para se considerar feliz, meio a linha de Bridget Jones, mas sem sua graça. Longe de mim condenar a busca pelo amor, mas não precisa ser exatamente um contestador para refutar logo de cara o perfil machista construído aqui. Um livro voltado para o público infanto-juvenil não precisa necessariamente ter um engajamento social, mas seria importante não reafirmar antigos discursos hoje amplamente contestados, como a insegurança da solteirice.
Durante a maior parte do livro, tudo que ela faz é culpar os astros pelo seu insucesso, seja na vida pessoal, no trabalho ou na tentativa de estabelecer relacionamentos. A trama já começa com a clássica crise ao descobrir que o ex vai se casar. Seu total desagrado pouco tem a ver com sentimentos remanescentes, mas, principalmente, por se recusar a aceitar a felicidade alheia, enquanto ela permanece capengando no amor.
Como não poderia faltar um cerne do romance, o príncipe encantado logo aparece na figura do novo consultor da empresa em que ela trabalha, David Nardi. Um homem forçosamente misterioso, o que não o faz atraente ou coisa assim, mas um mero canalha que esconde outro relacionamento, enquanto ora insiste, ora resiste em flertar com a moça. Ignorando a combinação desastrosa de seus quadros astrológicos – e o fato dele ser comprometido – é justamente por ele que Alice escolhe se apaixonar.
Antes disso, já havia se envolvido com Alejandro, outro homem de pouco caráter. O ex que bate a porta de sua casa pedindo por abrigo, Giorgio, também não é exatamente um adepto da monogamia. Delineia-se aí um tipo clássico e o que temos é uma personagem capaz de fazer as piores escolhas, auxiliada ou não por seu guia astrológico, Tito.
A reiteração constante da influência dos astros pode ser cansativa, mas dá para se aprender um pouquinho sobre signos, principalmente o dela, Libra. Signo da indecisão e da ilusão, é assim que ela justifica sua capacidade de construir castelos ao menor sinal de interesse do outro.
“Nós olhamos para Paris; a torre, Montmartre, as luzes, e penso que tudo nesse momento poderia ser definido assim: uma mentira. Inclusive nossas mãos, os dedos se tocando, entrelaçando-se por apenas um instante, enquanto observamos a cidade em silêncio. Uma belíssima e cintilante mentira”.
Com um final já esperado e todo um desenvolvimento clichê, é um livro que reforça estereótipos decadentes e cuja solução apresentada para a insegurança não é o amor próprio, mas o já batido, pra não dizer surrado, “amor verdadeiro”. A leitura que tinha tudo pra ser fácil, acabou se tornando um pouco maçante pela visão ultrapassada e um pouco infantil da obra, cujo título realmente prometia.
Por Aline Melo
alinemartimmelo@gmail.com
Entao, eu sou doido por Astrologia. E concordo com vc em genero, numero e grau: o livro da Zucca é uma b****. Principalmente se comparado a outro livro de 2016 que vocês têm aí e que me fez pasar vergonha em público de tanto rir: é O SIGNO DA ESTRELA da jornalista Luciana Meireles. Não entendo por que o Brasil anda celebrando tanto o livro mais porcaria, e segue ignorando o livro inteligente e com humor mais fino (inclusive é dificil de conseguir o livro, editoras esnobam). Se bem que ouvi na comunidade brazuca aqui em LOndres que a visão peculiar dos signos da Meireles vai virar série na Amazon.