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Invasão Campineira: a Briga de Vizinhos na Capital

Por Rafael Castino Pacaembu, domingo, dia 3 de junho de 1979. Um clássico entre alvinegros e alviverdes leva cerca de 40 mil torcedores ao mais popular estádio paulista. Não é um Corinthians e Palmeiras. Campinas, a cidade do futebol naquela época, chega a capital com o mais popular derby do interior: Guarani contra Ponte Preta. …

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Por Rafael Castino

Pacaembu, domingo, dia 3 de junho de 1979. Um clássico entre alvinegros e alviverdes leva cerca de 40 mil torcedores ao mais popular estádio paulista. Não é um Corinthians e Palmeiras. Campinas, a cidade do futebol naquela época, chega a capital com o mais popular derby do interior: Guarani contra Ponte Preta. Com o maior público já registrado no clássico, a Invasão Campineira virou história.

“O mais importante que precisamos lembrar é que naquela época Campinas era conhecida como a capital do futebol, os dois times eram espetaculares, ambos com diversos jogadores da seleção brasileira”ressalta Flávio Prado, jornalista esportivo, em entrevista sobre o clássico. “O Guarani era o atual campeão brasileiro e a Ponte, por sua vez, havia sido vice campeã do campeonato Paulista de 1977, as brigas entre esses times eram lá em cima”.

Todo clássico tem seu peso, é um campeonato à parte, diriam os especialistas e apaixonados por futebol. Mas naquele momento este peso era ainda maior, o Derby Campineiro havia virado atração. Além dos ótimos elencos que iriam se enfrentar, a rivalidade estava mais aflorada do que nunca, o Bugre não queria jogar no campo da Macaca e vice-versa. Por conta dessas discussões, a Federação Paulista de Futebol (FPF), contrariando a ordem do governo de economizar gasolina devido a uma crise no abastecimento, optou pelo Pacaembu, um campo neutro onde se disputaria a partida.

(Foto: Gazeta Esportiva)
(Foto: Gazeta Esportiva)

Em princípio, ambas as torcidas não concordaram com tal escolha e durante a semana que antecedeu o confronto ouviu-se muito falar de boicote. O que aconteceu realmente foi o contrário, com medo de seu rival não aderir ao movimento proposto, dias antes do jogo houve uma enorme procura por vans e fretados que pudessem levar ambas as torcidas até o Pacaembu,como conta o jornal O Estado de São Paulo em sua edição no dia do jogo.

Odair Alonso, jornalista, conselheiro e torcedor do Bugre presente no jogo fala sobre essa mobilização: “O departamento social do Guarani organizou uma das maiores caravanas da história do clube. Saíram ônibus, centenas de ônibus em direção a São Paulo. Mas eles não davam conta. Muitas peruas também foram alugadas, táxis e carros particulares também seguiram para a Capital paulista.”

Para evitar possíveis confrontos, a Polícia Militar armou uma operação onde as caravanas iriam sair respectivamente de seus estádios, algo que não acontecia normalmente, já que a concentração antes de partir para jogos fora da cidade era no centro de Campinas. Além disso, cada torcida percorreu um trajeto distinto – os Bugrinos foram pela Anhanguera e os torcedores da Macaca  pela recém inaugurada rodovia dos Bandeirantes.

“Uma das coisas mais marcantes foi no trajeto entre Campinas e São Paulo, olhando até onde se poderia enxergar os ônibus enfileirados e as bandeiras na janela. Dentro, aquela festa com muito samba e músicas de incentivo a Macaquinha”, destaca Abílio Carlos Silva, ilustre torcedor da Ponte e assíduo frequentador das caravanas, que estava presente naquele e em outros diversos jogos.

O bugrino Odair ainda completa sobre a chegada ao Pacaembu: “Foi apoteótica. Mais parecia um jogo entre Palmeiras e Corinthians, pois muita gente de São Paulo se interessou pela partida e também compareceu, afinal se tratava de um grande clássico, um dos maiores jogos da época. Eu mesmo vi muita gente com camisa de Palmeiras, São Paulo, Portuguesa, Santos e Corinthians misturada entre as duas torcidas campineiras. Parecia mentira… Era definitivamente a glória para Guarani e Ponte, numa fase de ouro para o futebol campineiro”.

O Jogo de Cinco Torcidas, assim denominado pela  Folha de S.Paulo do dia 3 de junho daquele ano, terminou com um placar de 2×0 para o Guarani, com gols de Capitão e Zenon. “Infelizmente saímos derrotados – conta o ponte pretano Abílio – mas a alegria da massa era contagiante”.

“Não havia o censo nacional, o campeonato brasileiro era recente. Não tinha globalização ou internet, eram poucas as televisões e o deslocamento era difícil […] Por isso, o regional era o que havia mesmo, a referência dos times era literalmente a do seu vizinho, os estádios do Guarani e da Ponte, na cidade de Campinas, distam coisa de dois quilômetros um do outro. Então, era necessário vencer, ainda mais quando essa briga de vizinhos estava ocorrendo na capital”, conta o jornalista Flávio Prado.

“Muitos desses jogadores que disputaram o clássico foram para grandes equipes. Muitos para a Seleção Brasileira. Ficou para os torcedores a lembrança de um dia inesquecível, um derby no Pacaembu!”, concluiu Odair Alonso, o vitorioso torcedor do Guarani.

Após a partida, a comemoração dos alviverdes de Campinas pendurou por toda a viagem de volta, as mesmas caravanas que invadiram a capital e tomaram o Pacaembu agora retornavam para sua cidade, onde iriam se concentrar no popular Largo do Rosário e dar início a festa que se estenderia por toda aquela noite de domingo.

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