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Lisbela e o Prisioneiro: A prova de que nem todo clichê decepciona

Um filme nacional que tem como gênero comédia romântica. Parece ser o combo do cúmulo do clichê, e talvez Lisbela e o Prisioneiro (2003) até seja um pouco disso, mas com particularidades que o tornam um dos filmes mais marcantes do cinema brasileiro. O filme é uma adaptação do livro de Osman Lins, de título …

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Um filme nacional que tem como gênero comédia romântica. Parece ser o combo do cúmulo do clichê, e talvez Lisbela e o Prisioneiro (2003) até seja um pouco disso, mas com particularidades que o tornam um dos filmes mais marcantes do cinema brasileiro.

O filme é uma adaptação do livro de Osman Lins, de título homônimo, escrito em 1964. Existem várias diferenças entre um e outro: No livro, a história se ambienta quase que totalmente dentro da cadeia, ao passo que no filme são vários os cenários, sendo o cinema um dos principais. Como é comum em adaptações para o cinema, alguns personagens foram cortados do filme e há alterações bastante significativas, como o fato da personagem Inaura, que originalmente foi retratada como irmã do matador Frederico Evandro, passar a ser sua esposa no longa.

A história gira em torno do casal protagonista, Lisbela (Débora Falabella) e Leléu (Selton Mello). O palco do romance é Vitória de Santo Antão, cidade pequena do nordeste pernambucano. Leléu é o típico galanteador que conquistou várias mulheres em todos os lugares que já passou e nunca se apegou de fato a nenhuma, enquanto Lisbela é a típica protagonista pura, moça de família, até certo ponto boba, fascinada por cinema, com uma vida já pré-determinada: de casamento marcado, seu destino é ter filhos e ser dona de casa, sem fugir muito do padrão. Outros personagens importantes são: Frederico Evandro (Marco Nanini), que jura Leléu de morte ao encontrá-lo com sua esposa, Inaura (Virgínia Cavendish), Douglas (Bruno Garcia), noivo de Lisbela, que acaba sendo um personagem cômico justamente por tentar ser levado a sério, o Tenente Guedes (André Mattos), pai de Lisbela, e o Cabo Citonho (Tadeu Mello), atrapalhado, acaba ajudando Leléu muitas vezes sem querer, levando várias broncas do Tenente Guedes ao longo da trama, é o responsável por grande parte dos momentos hilariantes do filme. Aqui instaura-se o clichê do gênero, os personagens e o roteiro não fogem ao senso comum.

Porém, uma das características que torna o filme memorável é a metalinguagem presente durante todo o longa. Lisbela, deslumbrada com cinema, sabe de cor qual a sequência que ocorre nas comédias românticas e sempre explica para o telespectador o que vai acontecer. Em uma das cenas, ela diz para Douglas que a melhor parte do filme (que eles estão assistindo no cinema) ainda está por vir, que é quando o “mocinho” conhece a “mocinha”. Ela explica que cada um desses personagens já foi apresentado, agora o que falta, é que sejam mostrados juntos. Pouco depois dessa fala, de modo inusitado, Lisbela e Leléu se conhecem. Essa ferramenta, que poderia, em exagero, ser maçante ou causar estranhamento em quem assiste, é usada na medida certa e aproxima o espectador das personagens, criando expectativa pelo que vai acontecer.

Além disso, os atores brilharam em seus papéis. Com todos os seus atributos de protagonista romântica (lê-se aqui, a escola literária), Lisbela teria de tudo para ser uma personagem puramente tola. Suas características permitem compará-la com uma personagem conhecida desse movimento: Luísa, de O Primo Basílio, livro de Eça de Queiroz. As histórias aparentam ter o mesmo rumo: Luísa também é apaixonada por romances e leva uma vida tranquila até se envolver com seu primo. O que diferencia uma personagem da outra, tornando Lisbela uma personagem irreverente, é a sua coragem. Ela enfrenta seu noivo, seu pai e toda a sociedade, mesmo sabendo os riscos que corre ao se jogar numa paixão tão avassaladora. Os créditos, claramente, são de Débora Falabella, por conseguir passar tanta verdade aos sentimentos da personagem. Em várias cenas, é possível ver o brilho no olho de Lisbela e sentir a veracidade das suas emoções.

Selton Mello não fica para trás. O ator, que também interpreta um personagem com início, meio e fim já pré-estabelecidos, consegue surpreender e construí-lo de forma a cativar o espectador. As razões para isso não são exatamente o fato do personagem fugir do que lhe era esperado – ele realmente é o típico conquistador barato que muda ao conhecer uma moça por quem se apaixona – mas o não ser piegas nessas características. Todos os diálogos entre Leléu e Lisbela são muito bem elaborados, ricos. Tudo isso culmina numa simpatia grande não apenas pelo personagem como para o casal, digno de uma química invejável. Provavelmente, esses foram alguns dos motivos para garantir o prêmio de melhor ator no Grande Prêmio Cinema Brasil a Selton Mello em 2003.

Outro que merece ter sua atuação destacada é Bruno Garcia. Douglas, seu personagem, é pernambucano assim como todos os outros, mas passou pouco tempo no Rio de Janeiro e tem um sotaque fortíssimo – e claro, forçado. Ele tenta, ao mesmo tempo, se adequar ao lugar que vive, tentando ser um “cabra macho”, mas falha em diversas tentativas. Seu personagem arranca boas risadas e, apesar de não ser protagonista, é marcante em diversos momentos.

Há ainda de se destacar a excelente trilha sonora do longa, também vencedora do Grande Prêmio Brasil daquele ano. Composta por treze músicas, todas nacionais, alguns dos intérpretes são: Caetano Veloso, Elza Soares, Zé Ramalho e a banda Los Hermanos. Esse último, inclusive, tem uma canção composta exclusivamente para o filme, nomeada Lisbela. Outra curiosidade é que uma das músicas tocadas numa cena de clímax, Para o Diabo Os Conselhos de Vocês, foi executada pela banda Os Condenados, que é fictícia e foi criada especialmente para o longa. As músicas casam perfeitamente com as cenas, o que auxilia no desenrolar da trama e aproxima, mais uma vez, quem assiste, se não pelo enredo, ao menos pelo sentido auditivo.

A produção foi bem recebida pela crítica da época, sendo considerado “digno exemplar do cinema popular brasileiro, que deve encantar a grande maioria dos espectadores.” Além dos prêmios já mencionados ao longo desta crítica, também foram várias as indicações: a melhor filme, melhor diretor, melhor ator coadjuvante para Bruno Garcia e para Tadeu Mello, melhor atriz coadjuvante para Virginia Cavendish, melhor roteiro adaptado, melhor figurino, melhor maquiagem, melhor montagem e melhor som.

Lisbela e o Prisioneiro é um costumeiro filme de sessão da tarde. Serve muito para entreter, mas é memorável por cativar o público com personagens tão singulares do cinema nacional, que, apesar de todo o investimento, ainda não é tão forte quanto poderia e deveria ser. Mesmo com todo o clichê envolvido e esperado do longa, ele ainda consegue surpreender e marcar quem o assiste como um filme bom. Até para quem não é muito fã de comédia romântica, não vai ser penoso gastar aproximadamente duas horas para conhecer (e se apaixonar com) a história de Lisbela e Leléu. A trama cumpre o que promete: é leve mas encantadora, e é uma delícia dar de cara com algo tão tipicamente brasileiro, sem ser caricato ou forçado. Sem margem para dúvidas, é um filme que vale a pena.

Por Ane Cristina
anecristina34@gmail.com

1 comentário em “Lisbela e o Prisioneiro: A prova de que nem todo clichê decepciona”

  1. Alexandre Alves de Oliveira

    Boa crítica pena que falha um pouco em não comentar sobre a atuação magnífica de Marco Nanini com sua personagem, Frederico Evandro.

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