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Por trás do Museu Nacional há uma nação sem passado

Por Letícia Camargo camargoleticia@usp.br Cerca de 7 meses se passaram desde o incêndio que destruiu parte de 200 anos de história brasileira. No dia 2 de setembro, o Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro e administrado pela Universidade Federal do estado (UFRJ), perdeu cerca de 90% de seu acervo consumido pelo fogo. Além de …

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Por Letícia Camargo

camargoleticia@usp.br

Cerca de 7 meses se passaram desde o incêndio que destruiu parte de 200 anos de história brasileira. No dia 2 de setembro, o Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro e administrado pela Universidade Federal do estado (UFRJ), perdeu cerca de 90% de seu acervo consumido pelo fogo. Além de ter sido residência da família real durante o Brasil imperial, o museu foi o primeiro aparato intelectual que tivemos.

Criado em 6 de junho de 1808, tinha a função de “estimular os estudos de botânica e zoologia.” Começou com uma pequena coleção, doada por D.João VI e depois foi aumentada por seu neto, D. Pedro II. O Museu foi apenas um dos instrumentos civilizatórios usados pela Família Real. Além dele, havia instituições como a Biblioteca Nacional, Jardim Botânico, Imprensa Régia, Casa de Suplicação (que mais tarde se tornaria o Supremo Tribunal Federal), Banco do Brasil e tantas outras que marcaram a formação cultural brasileira.

Porém, o acontecimento que em um primeiro momento chocou o Brasil e o mundo, vai caindo no esquecimento na memória da maioria das pessoas. Mas, não podemos nos deixar enganar: não se trata apenas de um museu que foi tomado por chamas, e sim sobre a nossa identidade nacional que está se esvaindo. Para além de fósseis, cerâmicas e espécimes raros que talvez jamais voltemos a ver, estamos tratando de nossa cultura, sobre quem somos.

O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), define a função de um museu como um lugar onde “a vida social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa da hora”. É onde damos espaço para que sensações, ideias e imagens irradiadas por elementos ali presentes nos iluminem e recordem valores essenciais para nós, seres humanos. Estar em contato com o que fomos e o que construímos, com a nossa história e nossos ancestrais, nos afasta do turbilhão cotidiano e nos faz recordar o que somos e o que queremos ser.

Apesar de sua notória importância, o Museu Nacional, como tantos outros museus e seus derivados, vêm perdendo a credibilidade e o conhecimento da população. Não visitamos, não damos a devida valorização para a história do nosso país, muitas vezes sequer sabemos sobre ela.

Assim, o Brasil ganha o título de um país “futurístico”, no qual se pensa muito no que está por vir, mas pouco nos importamos com o que já houve. Pensa-se muito sobre o que queremos ser, o que queremos para o futuro, mas não olhamos para trás. O fato do passado nos parecer distante não significa que ele não nos importe. É crucial saber por onde passamos para ter consciência de para onde vamos.

Além da desvalorização do passado, ainda presenciamos uma recorrente desvalorização do que é nosso, da cultura brasileira. No ano passado [2017], mais brasileiros visitaram o Louvre, em Paris, do que o Museu Nacional, de acordo com reportagem do El País. Ou pior que isso, muitos brasileiros não sabiam da existência do Museu antes do incêndio. Nós estamos deixando de valorizar nossa própria cultura, para valorizar culturas exteriores. Se não olharmos e zelarmos pelo nosso, quem o fará?

O incêndio que aparentemente pode não ter significado nada para muitas pessoas, diz muito: nos diz respeito a como estamos tratando nós mesmos e a nossa cultura. Um país que não preza pelo seu passado, que não o recorda e não zela por ele, apenas pensando no futuro, está correndo o sério risco de cometer os mesmos erros de seus antepassados. A história é a peça-chave da evolução.

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