Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

O fim de uma era para The 1975

Notes On A Conditional Form é o quarto álbum de estúdio da banda britânica The 1975, e marca o fim de uma “trilogia”. A proposta inicial era encerrá-la com um projeto nomeado Music for Cars, porém os membros – motivados por uma incessante aspiração em produzir novas músicas – decidiram dividi-lo em duas partes: A …

O fim de uma era para The 1975 Leia mais »

Notes On A Conditional Form é o quarto álbum de estúdio da banda britânica The 1975, e marca o fim de uma “trilogia”. A proposta inicial era encerrá-la com um projeto nomeado Music for Cars, porém os membros – motivados por uma incessante aspiração em produzir novas músicas – decidiram dividi-lo em duas partes: A Brief Inquiry Into Online Relationships, de 2018, e o novo lançamento.

O álbum é uma interessante conclusão do trabalho que Adam, George, Matthew e Ross desempenharam ao longo da década. Enquanto a centralidade do trabalho anterior estava nas especificidades das relações modernas, o mais recente se mostra como um aberto confessionário, descrito por Matt como “noturno e cinemático”.

Matthew Healy e Greta Thunberg no dia da gravação da faixa ‘The 1975’. [Imagem: Pedro Ferreira/Jornalismo Júnior]
Matthew Healy e Greta Thunberg no dia da gravação da faixa ‘The 1975’. [Imagem: Pedro Ferreira/Jornalismo Júnior]
Seguindo a tradição da banda, a faixa de abertura é intitulada The 1975, que, dessa vez, não possui os versos já conhecidos pelos fãs, mas sim um monólogo da sueca de 17 anos Greta Thunberg. A ativista aborda a crise climática global acompanhada de uma trilha sonora ora alegre e esperançosa, ora dramática e pessimista. A faixa é encerrada com a convocação “agora é hora de desobediência civil, é hora de se rebelar”, e dá lugar a People, um empolgante punk rock em que os gritos de Matt clamam por ação política contra o conservadorismo.

Felizmente o álbum conta com o retorno de faixas inteiramente instrumentais – que deixaram saudade no álbum anterior. The End (Music for Cars) simboliza o encerramento da era através de uma trilha épica com violinos, violoncelos e arpas. Já Having No Head é a marca do baterista George Daniel no projeto. Inspirada pela filosofia oriental, ela começa como uma calma ambientação para meditação, e na segunda metade ganha sintetizadores e um hipnotizante baixo.

Frail State of Mind trata sobre fobia social e as tendências de isolamento que a acompanham. As repetitivas notas de piano ilustram as idas e vindas que ocorrem em uma mente ansiosa, enquanto ao fundo Matty lamenta de forma angustiante seu frágil estado mental.

O grupo aposta em gêneros até então inéditos na sua discografia, em músicas como The Birthday Party, com banjos e outros empréstimos da música country; Shiny Collarbone, com sua batida house; e Tonight (I Wish I Was Your Boy), com influências da música jamaicana. Ao mesmo tempo, resgata sonoridades já marcantes de seus trabalhos, como a voz robótica e os sintetizadores em Yeah I Know, que lembra o álbum anterior, e o coral que acompanha o vocalista em Nothing Revealed / Everything Denied.

Encaixando-se na tendência pop atual, a oitentista If You’re Too Shy (Let Me Know) explora a sexualidade na internet e traz o new wave na faixa mais dançante do disco. Já as melosas Then Because She Goes e Me & You Together Song poderiam facilmente ter sido parte da trilha sonora de um filme adolescente dos anos 2000.

Dentre as faixas acústicas, a que mais de destaca é Jesus Christ 2005 God Bless America. Nela, os vocais angelicais de Matt e sua amiga Phoebe Bridgers dão ainda mais peso à reflexão sobre religião, espiritualidade e LGBTfobia.

Matthew Healy e FKA Twigs, que participa da faixa ‘What Should I Say’. [Imagem: Pedro Ferreira/Jornalismo Júnior]
Matthew Healy e FKA Twigs, que participa da faixa ‘What Should I Say’. [Imagem: Pedro Ferreira/Jornalismo Júnior]
Duas músicas instauram uma atmosfera sombria no álbum: What Should I Say, que possui vocais fantasmagóricos da cantora FKA Twigs, e Bagsy Not In Net. Em seguida, a obscuridade dissipa-se com Don’t Worry, uma emocionante balada com algumas distorções das vozes de Matt e seu pai, o ator Tim Healy, que compôs e cantava a música para seu filho quando ele era menor.

Fechando o álbum com clima nostálgico, Guys se propõe a ser uma antítese de Girls, presente no primeiro disco da banda. É uma declaração de amor dos membros para uns aos outros, e uma celebração de tudo que conquistaram juntos.

Apesar de serem estruturadas de forma relativamente coesa, boa parte das 22 faixas não chega a ser memorável ao se ouvir o álbum na íntegra, o que dá a impressão de que algumas delas foram adicionadas com o único intuito de estendê-lo. Além disso, alguns versos que se propõem a ser instigantes e profundos acabam sendo risíveis. 

A sinceridade em abordar atitudes polêmicas dos membros, desconstruir personas criadas para o público e confessar fragilidades íntimas é louvável e torna o projeto mais verdadeiro, mas não mascara por completo suas inconsistências. O crescimento humano e artístico que os membros tiveram até aqui, no entanto, coloca-os em um ponto da carreira que os instiga a aceitar a imperfeição e excentricidade de sua arte neste que é o álbum mais autêntico já feito pela banda. 

1 comentário em “O fim de uma era para The 1975”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima