Em tempos de ressignificação do amor, a análise bioquímica desse confuso fenômeno da experiência humana tem se tornado mais interessante. Se os efeitos neurológicos de se apaixonar afetam todas as pessoas nas mais diversas fases da vida, eles são ainda mais avassaladores durante a adolescência. A Química que Há Entre Nós (Chemical Hearts, 2020) busca explorar a química envolvida nas paixões durante o “limbo adolescente”, mas falha quase inteiramente em ativar a circulação dos hormônios da felicidade nos espectadores.
Baseado no livro Our Chemical Hearts (Bonnier Childrens, 2016), da escritora Krystal Sutherland, e dirigido por Richard Tanne, o coming of age é protagonizado por Henry Page (Austin Abrams) e Grace Town (Lili Reinhart). Ele é um menino tímido, com poucos amigos e um talentoso escritor. Ela é uma menina reservada, intimidadora e not like the other girls — um perfil usado demasiadamente em produções adolescentes para caracterizar garotas que fogem dos estereótipos de feminilidade. Os dois gradativamente se apaixonam e Henry tenta desvendar os mistérios e traumas que circundam Grace.
É impossível simpatizar rapidamente com os protagonistas e os coadjuvantes — que, supostamente, servem como alívio cômico. O desenvolvimento superficial de Henry alinhado ao pouquíssimo tempo de tela que seus amigos ganham não consegue torná-los amáveis — falta estímulo à produção de ocitocina no público. Nem toda a endorfina do mundo pode aliviar a dor causada pelo potencial desperdiçado do romance paralelo entre Lola (Kara Young) e Cora (Coral Peña).
O enredo que começa de forma frenética amadurece aos poucos e termina com um certo aprofundamento dos personagens, mas que não leva a lugar algum. Mesmo ao final do filme, é difícil lembrar de seus nomes, motivações e personalidades.
A impressão que fica é de que Tanne contou a história certa com os personagens errados. Abordar temas como suicídio e saúde mental na adolescência é um grande mérito da produção, que cumpre, de forma responsável, o papel de explorar as fragilidades desse período. Apesar disso, o roteiro é fraco demais para sustentar tudo que o filme se propõe a ser.
O amor é uma reação química que ocorre repetidamente ao longo da vida. Eventualmente, o corpo humano pode se acostumar com todos os hormônios estimulados por ela e a quantidade deles passa a ser insuficiente — é quando a paixão acaba e o organismo deixa de se sentir recompensado. No caso do filme, a dopamina produzida é escassa desde a primeira cena.
A Química que Há Entre Nós já está disponível no Amazon Prime. Confira o trailer:
Capa: [Imagem: Reprodução/Amazon Prime]