Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

O Morumbi Alvinegro

Por Ana Cipriano e Caio Mattos 22 anos, oito meses, sete dias e sete noites. Esse foi o tempo que o Corinthians ficou na fila para voltar a ser campeão no futebol. 9 de outubro de 1977. Data do que seria o fim do jejum corintiano. Mas, que na verdade, foi mais uma ameaça que …

O Morumbi Alvinegro Leia mais »

Por Ana Cipriano e Caio Mattos

22 anos, oito meses, sete dias e sete noites. Esse foi o tempo que o Corinthians ficou na fila para voltar a ser campeão no futebol. 9 de outubro de 1977. Data do que seria o fim do jejum corintiano. Mas, que na verdade, foi mais uma ameaça que poderia ter deixado o alvinegro na fila por mais um ano. “Decisão adiada”, dizia o caderno de esportes da Folha de S. Paulo do dia seguinte. O Morumbi nunca tinha visto tanta gente como naquela tarde de domingo. Nem mesmo o último jogo da final, no dia 13 de outubro, que ocorreu por conta do resultado da segunda partida, conseguiu reunir tantos torcedores.  

Apesar dos três jogos disputados entre Ponte Preta e Corinthians terem tido um histórico de grande venda de ingressos, o segundo, com um público superior a 146000 pessoas (das quais por volta de 138000 eram pagantes) pode ter superado os números por diversos motivos.  

Como o time paulistano já havia vencido a primeira partida, bastava um empate e o jejum chegaria ao fim. A festa já estava armada. Para Aureo Orlando, torcedor que esteve presente nas três partidas, os corintianos nunca deixaram de acreditar, mesmo quando o time tomou o gol de empate, marcado por Dicá, em uma cobrança de falta. Para a torcida alvinegra, aquele poderia ter sido o jogo que marcaria para sempre a história corintiana, mas por forças maiores não foi.

O goleiro Carlos e o zagueiro Oscar eram peças importantes na defesa da Ponte (Imagem: Gazeta Esportiva)

O time pontepretano, no momento em que disputou a taça com o time da capital, era reconhecidamente superior do ponto de vista técnico. Além do exímio batedor de falta Dicá, contava com Carlos, que viria a ser goleiro titular da seleção no México em 1986, o experiente capitão Vanderlei Paiva, Rui Rei e Oscar, dentre outros craques. O que, para muitos, diferenciava as duas equipes era que uma delas colocava em prática toda a sua técnica, enquanto a outra, compensava essa falta de tecnicidade jogando com o “coração na ponta da chuteira”, como disse Aureo.

O Morumbi nunca mais fica como ficou

Em 1977, não existia internet no Brasil. A compra de ingressos para os jogos de qualquer campeonato era feita antes de cada partida no local do confronto. Em jogos que se esperava uma grande quantidade de torcedores, era preciso chegar horas antes no estádio para garantir a entrada e, com sorte, um local para se sentar. “Às vezes, mesmo pagando, você não entrava, porque era muita gente. Nas finais de 77, se esgotavam rápido os ingressos. Na pior das hipóteses, você tinha que se sujeitar a cambistas e era [algo] para quem tinha condições. Ou você ia cedo para comprar ingresso ou não conseguia entrar”, afirma Reinaldo Bastos Pedro, também torcedor corintiano. Hoje, já não existem mais esses mesmos problemas. Os estádios precisam cumprir uma série de regras colocadas pela FIFA que garantam aos jogadores e aos torcedores uma infraestrutura segura e confortável.

No segundo jogo da final do Campeonato de 1977, ao contrário do que se tem atualmente, não havia assentos numerados. Enchia-se o estádio até onde era possível. Aureo comenta que era realmente visível o quão lotado o Morumbi estava naquele dia. “O Morumbi é muito grande. Ele tem o anel inferior, que é embaixo, onde as pessoas ficam mais próximas para ver o jogo. E tem o anel em cima, que é considerado a arquibancada. Dava até medo de ver tanta gente. Onde eu estava sentado, era um encostado no outro. Cotovelo com cotovelo. Não tinha para onde correr”, diz o torcedor.

O Morumbi em 9 de outubro, além do imbatível número de público, também foi palco de acontecimentos que marcaram a história de forma negativa. Segundo informações do Acervo da Folha, antes mesmo do início da partida, uma tenda em que funcionários de uma empresa contratada pela Secretaria de Esportes e Turismo estavam enchendo balões para animar a partida explodiu deixando sete feridos. Reinaldo e Aureo se recordam do acontecimento e contam que o público se assustou com o barulho. “Ninguém sabia o que tinha acontecido ou o que era aquela tenda. Só depois ficamos sabendo que estavam enchendo alguns balões branco e preto”, conta Aureo.

Reinaldo, que estava assistindo ao jogo da arquibancada – um dos pontos mais altos do Morumbi –, recorda que quando o Corinthians marcou o primeiro gol do jogo a torcida foi à loucura. Ele relembra que um dos torcedores se jogou de um local muito próximo de onde ele estava e que, até hoje, não consegue compreender o que de fato aconteceu. “A emoção foi contagiante e acho que cada um reagiu de uma forma.”

Na segunda partida, o Morumbi bateu o maior recorde de público da sua história (Imagem: ESPN)

Alvinegros: os donos do estádio em 9 de outubro

Hoje, as imagens que se têm das partidas de futebol ao redor do mundo são totalmente diferentes daquelas do campeonato de 1977. Da mesma forma que não tinha numeração nos assentos, também não existia o cuidado com medidas de segurança. Era permitido entrar com bandeiras, soltar fogos de artifícios e levar tambores.

A entrada com bandeiras foi proibida por um determinado período, mas este ano a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) voltou a permitir que bandeiras e instrumentos musicais sejam levados aos estádios, desde que as torcidas organizadas assinem um compromisso de responsabilidade sob o qual, entre outras medidas, se comprometem a não praticar atos de violência e solicitar o acesso desses objetos.

Para os torcedores que puderam acompanhar o campeonato, naquele ano, a torcida, que se sentia confiante graças a sede de vitória transpassada pelos jogadores, fez grande diferença na trajetória do Corinthians. Tânia Piciocchi, filha de um dos ex-conselheiros vitalícios do Corinthians, Francisco Piciocchi, por exemplo, assume que sem o estímulo da torcida o desempenho da equipe não teria sido o mesmo. Ela relembra que em 1977 viu muitos torcedores irem assistir aos treinos no Parque São Jorge para incentivar os jogadores.

Alvaro Ochoa, torcedor do time paulistano, diz que considera a torcida corintiana “diferenciada”. O período em que a equipe viveu o maior jejum da sua história foi um dos momentos em que a torcida mais cresceu. Ochoa acredita que isso aconteceu porque as pessoas se identificavam com o time, viam que estavam passando por um momento de dificuldade e se dispunham a apoiar. “Sempre que surge a dificuldade o corintiano se torna mais coeso e mais forte. Isso é algo da torcida do Corinthians que acaba passando paras as outras”, relata.

Na segunda partida da final, quando a Ponte Preta marcou o segundo gol em cima do Corinthians, Reinaldo e Aureo pontuam que o Morumbi, de repente, ficou quieto a ponto de se poder imaginar que não estava acontecendo uma disputada partida de futebol. Eduardo, então repórter do Diário do Povo, conta que “quando a Ponte virou o jogo, foi uma das manifestações mais impressionantes. Nem aquela torcida gritando conseguia impedir que o estádio ficasse em silêncio absoluto.”

Passado o primeiro impacto, entretanto, a situação mudou. “[A torcida começou a] incentivar o time porque nunca o abandonou. Sempre deu força, ajudou, torceu, gritou”, revela o torcedor.

Nesse sentido, a superioridade técnica da Ponte Preta não foi suficiente para derrubar o alvinegro do Parque São Jorge. Fato é que, apesar de ser um time do interior, o grupo sempre se manteve nos campeonatos entre as equipes mais tradicionais. Aureo afirma que todos os jogos foram justos e equilibrados e caso a Ponte tivesse levado o título, a taça estaria em boas mãos.

A questão, no entanto, está centrada na torcida. Mesmo que Campinas fique a poucos quilômetros de São Paulo, a locomoção não era tão ágil e rápida como hoje e conseguir deslocar um grande contingente de pontepretanos até a capital era impensável.

O fator principal era que o Corinthians tinha uma torcida numericamente muito superior. A “desconfiança” também teve um papel significativo na limitação do número de pontepretanos no estádio. A “desconfiança” não no maior time de sua história, mas nos bastidores da competição. A torcida campineira acreditava que a final já tinha sido comprada.

Dessa forma, o número de torcedores do time do interior presentes nas partidas finais era muito inferior ao de corintianos. Não é justo dizer, segundo Aureo, que o Corinthians tinha mais amor à camisa do que a Ponte, mas certamente a influência que o incentivo das torcidas teve foi decisivo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima