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Observatório | Propaganda panfletária agrava tensão entre Coreias

Quando a Coreia do Norte e a Coreia do Sul firmaram uma conciliação com um histórico aperto de mãos entre seus líderes em 2018, a expectativa de paz na península, era alta. Uma das medidas tomadas foi a construção de um escritório conjunto de coordenação de relações entre os dois países, na cidade fronteiriça norte-coreana, …

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Quando a Coreia do Norte e a Coreia do Sul firmaram uma conciliação com um histórico aperto de mãos entre seus líderes em 2018, a expectativa de paz na península, era alta. Uma das medidas tomadas foi a construção de um escritório conjunto de coordenação de relações entre os dois países, na cidade fronteiriça norte-coreana, Kaesong. No dia 16 de junho, a Coreia do Norte implodiu o prédio em retaliação ao país vizinho, onde desertores norte-coreanos enviavam propaganda contrária ao regime de Kim Jong-un pela fronteira, elevando, novamente, a tensão entre as duas Coreias.

Balões com propaganda contrária ao regime de Kim Jong-un [Imagem: Lim Byung-sik/Yonhap/Reuters]

Reações diplomáticas e ameaças

 

As reações da Coreia do Norte à panfletagem e propaganda crítica, em junho de 2020, foram mais assertivas. O governo ameaçou romper um acordo de redução da tensão militar com a Coreia do Sul, caso Seul não impeça que asilados norte-coreanos enviem milhões de propagandas anti-regime ao norte. O porta-voz do Ministério da Unificação, Yoh Sangkey, afirma que o envio de propaganda por exilados viola a Declaração de Panmunjom.

No dia 9 de junho, a irmã de Kim Jong-un, Kim Yo Jong, influente no ambiente político do país, cortou as comunicações por telefone entre as Coreias. Além disso, no dia 16, houve uma represália mais radical: a explosão do escritório de ligação inter-coreano, símbolo de diálogo entre as Coreias. Isso ocorreu dias depois da ameaça de Kim Yo Jong: “Se esses atos mal-intencionados, cometidos debaixo do nosso nariz [não forem interrompidos,] as autoridades sul-coreanas irão encarar sérias consequências”.

Explosão do escritório de ligação inter-coreano. [Imagem: KCNA/Reuters]

Entenda o conflito

 

O conflito entre as duas nações ocorre há décadas. Com a derrota nipônica na Segunda Guerra Mundial, a Península Coreana tornou-se independente, porém, sob zonas de influência: a URSS ocupou a parte norte e os Estados Unidos a parte Sul. Assim, houve a separação das Coreias pelo Paralelo 38º, delimitando os países como conhecemos hoje, com a divisão entre capitalismo e socialismo se enraizando no local.

Em 1950, a guerra começou. Os conflitos armados permaneceram por três anos. Em 1953, foi assinado um armistício, acordo que suspende temporariamente as hostilidades entre os lados envolvidos da guerra. Porém, esse documento não significou o término da guerra, já que não houve um tratado de paz. E a tensão permanece até hoje na região.

Ainda que o combate militar tenha sido finalizado, o período pós guerra coreana  foi marcado pela guerra psicológica por meio de envio de panfletos no Paralelo 38º, com a finalidade de propagar uma boa imagem de cada país e atrair novos moradores.

A emissão de panfletos tornou-se constante no século XXI. Um exemplo é o grupo ativista formado por dissidentes norte-coreanos, Fighters for Free North Korea, que envia balões com folhetos contra o governo norte-coreano desde 2006.

Em 2020, as tensões entre as Coreias aumentaram novamente. O líder do grupo ativista, Park Sang-hak, entende que a família Kim está realmente irritada com os balões de hidrogênio, os quais possuem conteúdo crítico aos familiares — um dos panfletos chama o líder norte-coreano de “diabo”.

Críticas à família Kim. [Imagem: Yonhap/AFP]
Nos balões, além dos panfletos, são enviados pequenos aparelhos de rádio ou cartões de memória com conteúdo proibido, como novelas sul-coreanas. Além disso, há notas de um dólar para atrair os norte-coreanos. Vale ressaltar que a Coreia do Norte enfrenta uma enorme crise econômica, com as áreas de comunicação e entretenimento no país sendo controladas pelo Estado.

O fortalecimento de Kim Yo-jong

 

O episódio da implosão do escritório em Kaesong desperta mais preocupações acerca da relação diplomática entre as duas Coreias. Embora não tenha provocado vítimas, ele pode ser visto como uma mensagem de Kim Yo-jong para Moon Jae-in, presidente sul-coreano, e o resto do mundo. O cientista político Alexandre Ratsuo Uehara afirma que “Kim Yo-jong, desde o começo do ano, tem demonstrado um fortalecimento de sua posição. A declaração dela e, na sequência, a execução da destruição do prédio (…) é uma sinalização importante para a comunidade internacional de que ela vem se fortalecendo”.

Não há muitas informações concretas sobre a principal figura na linha sucessória do regime norte-coreano. Suas aparições públicas incluem a abertura das Olimpíadas de Inverno, na Coreia do Sul em 2018, e encontros ao lado do irmão com o presidente estadunidense Donald Trump e o chinês Xi Jinping.

Kim Yo-jong conversando com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in. [Imagem: Yonhap/Reuters]
Quando Kim Jong-un assumiu a liderança da Coreia do Norte, em 2011, Kim Yo-jong ficou responsável por comandar o setor de propaganda e criar uma imagem positiva do país através de relações cordiais com outros países. Por conta disso, havia uma expectativa de que, caso assumisse o posto de Líder Suprema do país, ela seria uma governante mais diplomática do que o irmão. Porém, as recentes medidas tomadas por ela mostram o contrário.

As consequências

 

A implosão do escritório diplomático é mais uma das ações norte-coreanas que visam lembrar às nações vizinhas do poderio bélico que o país detém, uma estratégia já tomada por Kim Jong-un para obter vantagens durante negociações. “Parece-me que a Coreia do Norte está buscando criar uma situação em que ela possa ter maior poder de barganha. Viu-se a política que [Kim Jong-un] veio desenvolvendo com relação aos mísseis, de curto e depois longo alcance, às tecnologias para o armamento nuclear e à bomba H. Com isso, ele aumenta seu poder”, afirma Alexandre Uehara.

A Coreia do Norte, país de economia primária, passa por uma crise econômica e subnutrição devido a uma seca e ao fechamento das fronteiras com a China por conta da pandemia do novo coronavírus. De acordo com Fernanda Garcia, especialista em Relações Internacionais, “a crise da Covid-19 afetou a Coreia do Norte principalmente no recebimento de mercadorias oriundas da China. Isso fez a população ter uma diminuição drástica na quantidade de comida oferecida, sendo que, na realidade, ela já era escassa”.

Dessa forma, para a comunidade internacional, o país tenta agravar a crise de forma artificial com o intuito de obter concessões e suavização nas sanções econômicas impostas por países como os Estados Unidos.

Balões com propaganda. [Imagem: Jung Yeon-Je/AFP]
Com o apoio estadunidense, a Coreia do Sul busca alternativas diplomáticas para amenizar a tensão, que ocasionou a renúncia do ministro da Unificação sul-coreano Kim Yeon-chul, responsável por cuidar da relação entre as Coreias. O presidente Moon Jae-in anunciou, no dia 11 de junho, que tomaria medidas para deter o lançamento de novos balões de propaganda pela fronteira entre os dois países. Essas ações buscam manter a paz com Pyongyang e atender às reclamações de moradores sul-coreanos próximos à fronteira, que estão incomodados com a quantidade de panfletos acumulados nas ruas.

A China, principal aliada da Coreia do Norte e de quem o país é dependente, deve continuar agindo como mediadora na região. As relações estabelecidas entre os países, portanto, tornam improvável a escalada do conflito.

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