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Projeto Willow: desenvolvimento vale mais que sustentabilidade?

Extração de petróleo no Alasca, que causou grande comoção nas redes sociais, possui perspectivas divergentes do público e de especialistas

No último mês de março foi aprovado pela administração do governo Biden o Projeto Willow, um dos maiores programas de extração de petróleo em terras federais dos Estados Unidos. A aprovação foi fortemente questionada nas redes sociais, com protestos intensos de ativistas ambientais americanos.

O projeto pertence à empresa ConocoPhillips, a qual já explora petróleo e gás natural no Alasca e em várias outras regiões ao redor do globo. Willow é uma reserva de óleo na costa norte do Alasca, próxima ao Oceano Ártico e, justamente por localizar-se em terras públicas, necessita de aprovação do governo federal para prosseguir.

Isso trouxe uma atenção especial do público, que cobrou o atual presidente, já que a ação contraria as propostas pró-ambientais de sua campanha em 2020. 

O que é o Projeto Willow? 

O orçamento apresentado é de mais ou menos oito bilhões de dólares para três instalações de perfuração, com oleodutos e uma estrutura logística para ligar quase 200 poços. Já no quesito produção, de acordo com o que foi divulgado à imprensa pela ConocoPhillips, o resultado será de 180 mil barris de petróleo por dia no seu pico de produção. 

Mapa divulgado pela empresa da área de exploração. [Imagem: Reprodução / ConocoPhillips]

Os Estados Unidos são o maior produtor de petróleo do mundo, tendo o Alasca atualmente como responsável por 3,9% dessa produção, segundo o U.S Energy Information Administration. 

A empresa já lidera o mercado de procura por óleo no Alasca há mais de 50 anos e o projeto foi divulgado em janeiro de 2017. Desde então, ele foi sendo desenvolvido e passou por várias batalhas judiciais para iniciar suas atividades. 

O projeto Willow localiza-se em uma área da Reserva Nacional de Petróleo no Alasca (NPR-A), a qual possui leis designadas especificamente para extração de óleo e gases, sendo hoje em dia a região dos EUA mais promissora em relação ao petróleo. Porém, a área é habitat para ursos polares e milhares de caribus imigrantes, o que gera um conflito de interesses quanto ao projeto. 

Argumentos pró-Willow 

A principal proposta do Projeto Willow é reduzir a dependência dos EUA de fornecedores de energia estrangeiros. Apesar de ser o maior produtor de petróleo do mundo, ainda está longe de ser autossuficiente. 

Além disso, durante a batalha legal para aprovação, foi reforçado que a atividade vai gerar muitos empregos na região, o que para Biden é muito importante, agora que decidiu buscar reeleição e precisa agradar os setores mais conservadores da sociedade.

A petrolífera deixa explícito em seu site e em comunicados sobre o projeto que valoriza as relações que tem com os residentes locais, e que já fizeram mudanças em seus planos para chamar atenção às problemáticas trazidas à tona pelos nativos. 

De acordo com a empresa,  é estimado que mais de 2500 trabalhadores vão ser necessários para a construção e 300 novos cargos de longo termo surgirão, o que movimentaria a economia da região, que não se encontra em situação favorável. O especialista Márcio Augusto, professor de Engenharia do Petróleo na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), diz que “o pessoal ambiental  obviamente tem a sua preocupação, mas  às vezes são meio exagerados, é uma área relativamente pequena e a gente vê hoje muita matéria sensacionalista”.

Ele explica que atualmente existe uma técnica chamada de Carbon Capture and Storage (CCS) que consiste em:  o dióxido de carbono (CO2), que será liberado na queima de petróleo pode, na fase final, ser capturado  de plantas que consomem o gás – ou até da atmosfera – e reinjetado no reservatório, compensando toneladas de gases malefícios. 

O plano de governo apresentado por Biden prometia barrar novos projetos petrolíferos em terra federal. Antes de ser aprovado, o presidente  tentou reduzir o número de pontos de perfuração do projeto, de forma a diminuir a produção para 70%.  Por meses, a ConocoPhillips pressionou o congresso, alegando que esta reforma faria com que o projeto se tornasse economicamente inviável. 

Para Augusto “faz sentido atualmente investir em um projeto petrolífero assim grande, para reverter a economia ruim dos Estados Unidos. Existe um discurso ambientalista influenciado pelo europeu, que critica algo ao qual não tem acesso, enquanto países como o Brasil e os Estados Unidos possuem um enorme potencial na indústria petrolífera.”

O professor acredita que parar de extrair petróleo não é a solução para tornar o mundo sustentável. “Você pode resolver em parte o problema energético, mas como que você vai produzir asfalto? Faz falta no plástico do dia a dia – como uma caneta – em fertilizantes e na aspirina que a gente toma”, diz. Em sua avaliação, a sociedade atual depende do petróleo ordinariamente. 

Argumentos contrários 

Biden sofre pressão de ambos os lados, o processo para a aprovação da extração já dura mais de uma década e, caso o presidente decida reverter a permissão, ConocoPhillips não vai desistir sem atividades judiciais. Ao mesmo tempo, o ativismo online intimida com uma petição que já conta com mais de 4 milhões de assinaturas no Change.org.

Em entrevista à Jornalismo Júnior, André Felipe Simões, especialista em energia e sustentabilidade e docente em Gestão Ambiental na Universidade de São Paulo, afirma que o projeto Willow é muito grave para o futuro do planeta. 

Além dos danos locais, tanto afetando as dinâmicas das populações nativas como da fauna típica da região polar, como ursos e baleias que vão ter seu ambiente e modo de vida afetados irreversivelmente, a aprovação dessa área de exploração vai incentivar para que, futuramente, mais empresas explorem aquela região do Alasca. 

Cartaz da campanha contra combustíveis fósseis [Imagem: Reprodução/ Instagram @figthfossils]

Sobre o mecanismo de captura de carbono (CCS), o professor disse que apesar de ser uma proposta interessante essa prática ainda está em desenvolvimento assim não garante a mitigação de danos necessária num projeto grande como esse, fora os danos causados que não envolvem CO2

O maior apelo para a instalação desses postos de perfuração é a criação de empregos no Alasca que, por não ter  diversificado suas atividades econômicas para além de extração de petróleo e gás natural, possui apoio da população local. 

Simões ainda fala sobre como o próprio americano é o culpado pelo desenvolvimento do Willow, consumindo de maneira exagerada, o que incentiva a produção petrolífera a qual sustenta a fabricação de tantos produtos. 

Ele ainda apresenta que o problema não está só no uso do combustível fóssil, mas também em seu uso excessivo no dia a dia, propagado pelo modo de vida capitalista. Na visão do especialista, o qual é insustentável ecologicamente persistir por um longo período 

Em março, mais de 140 organizações mandaram cartas para a Secretária do Interior, Deb Haaland, insistindo na revogação do projeto. Entre os assinantes, estão inclusos a ONG Earthjustice e aSILA, uma associação da comunidade de nativos do Ártico, além de muitos outros. 

Simões reitera a importância dessa participação junto com de jovens nas mídias sociais para lutar por um futuro mais sustentável, afinal é o futuro dessa geração que está em jogo.

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