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Representação da cultura japonesa migra do valor ao preço no 21° Festival do Japão

Em meio a uma enxurrada de estandes de marcas, performances e rituais desaparecem Por Ana Gabriela Zangari Dompieri Do dia 20 ao 22 de julho, o São Paulo Expo Center deu espaço ao 21° Festival do Japão. De tão comentado na grande mídia, acabei indo ver do que se tratava o evento no sábado. O …

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Em meio a uma enxurrada de estandes de marcas, performances e rituais desaparecem

Por Ana Gabriela Zangari Dompieri

Do dia 20 ao 22 de julho, o São Paulo Expo Center deu espaço ao 21° Festival do Japão. De tão comentado na grande mídia, acabei indo ver do que se tratava o evento no sábado.

O local fica na entrada da Rodovia dos Imigrantes, o que dá um ar de importância ao festival, uma vez que exige um deslocamento significativo daqueles que realmente decidem ir até lá. Percebo agora que, mais que o ar de importância, a proximidade da rodovia chega a materializar a ideia dessa edição do evento. Isso porque este se propôs a comemorar o aniversário de 110 anos da primeira grande imigração japonesa ao Brasil. Em junho de 1908, o navio Kasato Maru chegou ao Porto de Santos, trazendo 781 migrantes que desejavam uma vida melhor. Eles acreditavam que o trabalho nas fazendas de café, no interior paulista, seria uma oportunidade de alcançá-la.

Eu e meu pai fomos de carro e paramos relativamente longe do lugar. Primeiro, porque as ruas mais próximas estavam lotadas ou ocupadas por cavaletes da CET e, segundo, porque desconfiamos que o preço do estacionamento não seria dos mais em conta. Acertamos: era 45 reais.

Assustamo-nos, também, com o número de pessoas que compunham a fila para comprar ingressos. Mas dessa vez fomos surpreendidos positivamente: não demoramos mais de dez minutos até termos nossas entradas em mãos.

Local próximo ao fim da fila para a compra de ingressos na porta (Imagem: Ana Gabriela Zangari Dompieri)

A organização certamente foi um ponto alto do evento. Isso considerando o apoio à fila, feito aparentemente apenas por voluntários, e até mesmo nos arredores do evento, que contavam com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e a Polícia Militar.

Conversei com Mity Hori, coordenadora da Corrida Amiga, uma ONG que, fundamentada no conceito de microrrevoluções urbanas, incentiva o uso dos pés como meio de transporte. Atualmente, mobilizam mais de mil participantes da Organização em 15 cidades do Brasil. Os “Bondes a Pé” são uma iniciativa para promover o transporte a pé em eventos. Nesse Festival do Japão, levaram mais de onze mil pessoas do metrô Jabaquara ao São Paulo Expo, em um trajeto de 1,1km. A coordenadora e voluntária conta: “Muitos pedestres agradeceram por terem chegado na hora para os eventos, por eles mesmos, sem depender de ônibus ou carro.” E adiciona: “Entre os dias 21 e 22 de julho das 10 às 16h, conseguimos reduzir o número de carros no trânsito de São Paulo em 8.116 carros e evitamos a emissão de 2.833 kg de gás carbônico”.

Corrida amiga convidando pessoas para se unirem ao “Bonde a Pé” (Imagem: Marcio de Morais)

Logo que pudemos adentrar o evento de fato, experienciamos a organização em outra face. Uma única pessoa, dessa vez: um senhor japonês, já grisalho. Ele se entregava à clássica cerimônia do chá. Tal entrega transmitia uma sensação diferente da que normalmente é imaginada quando se emprega essa expressão.

Não era o entregar-se do Ultrarromantismo, subjetivo, sentimentalista, beirando a irracionalidade. Era empenhado, harmonioso e, sobretudo, metódico. Apesar de tal metodismo, para olhos ocidentais alheios aos simbolismos culturais em torno da cerimônia, ela parecia ter muito mais etapas do que o “necessário”. Enfim, não era o reducionismo utilitarista que interessava – se fosse, não seria uma cerimônia. Seria uma pessoa servindo um chá, e isso podemos ver em casa.

Cena da cerimônia do chá (Imagem: Ana Gabriela Zangari Dompieri)

Não acabamos de assistir à cerimônia, pois somos ocidentais e, logo, largamos aquela atividade (como muitas outras) depois de uns cinco minutos. A situação era mais grave ainda, éramos ocidentais com fome.

Mais tarde descobrimos que o evento havia conseguido bater o recorde Guinness de “O Maior Mostruário de Culinária Japonesa do Mundo”. Isso explica muito do nosso atordoamento ao procurar um almoço. Eram infinitos estandes. Confesso que para pessoas pouco ligadas à cultura japonesa, como eu, escolher algo para comer se tornou desafiador. A prova disso é que acabamos com Yakisoba, porque era familiar.

Quando conseguíamos perguntar sobre a composição dos pratos àqueles que estavam trabalhando, respondiam muito atenciosa e simpaticamente. Mas, na maior parte dos casos, era necessário ver os pratos de longe do balcão, porque em quase todos havia longas filas que impediam o fluxo mais próximo aos atendentes e cardápios. Com isso, o que se sabia sobre o que cada estande oferecia ficava, muitas vezes, restrito à imagem dos pratos, exibida nas placas com o nome do restaurante e poucas outras informações.

Para quem não reconhece essas imagens, fica bastante hermética a compreensão daquilo que se pode pedir. E ainda que se deseje apostar em algo diferente – eu até queria – é difícil escolher entre o prato desconhecido número 1 ou o número 125. Isso pensando que era quase humanamente impossível ir mais a fundo em todos os estandes da praça de alimentação. Seria complicadíssimo traduzir aquele tanto de imagens em coisas minimamente tangíveis. Talvez se tivéssemos um guia gourmet… Deixamos quieto.

O prato que pedi acabou sendo uma versão ótima daquilo que eu já conhecia, não me arrependo dele. Nesses eventos, imagino que seja bom encontrar coisas específicas recomendadas de antemão, porque na massa tudo fica parecido.

Combinamos que faríamos uma escolha mais ousada na hora da sobremesa, estaríamos com mais energia para fuçar algo diferente. Deu muito certo! Havia menos variedade de doces e muitas das opções feitas de feijão. Isso me ajudou, porque essas automaticamente não interessavam muito ao meu paladar – apesar de muito graciosos e visualmente interessantes. Outras eram mais comuns, como sorvete ou churros. Fui direcionada então a um doce especial. É quase certo que não era originalmente japonês, mas lá estava sendo feito por uma patisserie japonesa e estava incrível. Era algo como um bolinho de massa choux morno com uma bola de sorvete dentro. Eles têm uma loja física na Vila Mariana, que se chama Na-Na-Ya.

Em algum momento ao redor das eventuais paradas para comer, tentamos ver uma demonstração de luta com espadas. Não sei exatamente qual era a modalidade, mas acabamos nem conseguindo ver. Esperamos por uns dez minutos até percebermos que a demonstração de fato já tinha acabado. O que acontecia, então, era que dois voluntários da pequena platéia que se estabelecera ao redor provavam roupas características dos lutadores.

Essa pequena apresentação se situou em um local estranho. Ela ocorreu sobre um tatame, de frente para outros. Era, descobri, um estande desse produto. Mas aqueles que foram assistir não podiam sentar-se neles: tinham que se dispor ao seu redor, em espaços estreitos. Era complicado posicionar-se sem bloquear a sua visão ou a de alguém.

Fora a demonstração e a cerimônia do chá (a qual eu acredito ter sido paga por aqueles que tomaram a bebida), vimos uma apresentação mista de taiko (tambor japonês) com uma dança tradicional, e depois o concurso Miss Nikkey. Esses dois últimos se deram na área do palco principal.

A apresentação teve muitos adeptos. Instruídos pelos monitores vestidos de laranja, todos performavam uma coreografia. Os movimentos daqueles que tocavam também eram coreografados. O som ao vivo se sobrepunha ao da música gravada. Uma coisa interessante que notamos é que raramente as movimentações pensadas que vimos no evento envolviam cruzar os braços, como em um “X”, de forma que a linha de um braço passe abaixo do pulso do outro. Talvez haja algum significado, talvez apenas não achem harmônico, ou talvez ainda tenha sido apenas uma coincidência.

Falei, também, com Michelle Teshima, que começou apenas como frequentadora do Festival do Japão e, hoje, é voluntária do evento já há três anos. Ajuda nos bastidores do palco e conta que gostou muito do modo que foi montado este ano, como uma arena. “Ficou mais organizado e bem melhor para a apresentação da parada taiko.”

Coreografia acompanhada pela performance dos taikos na arena (Imagem: Anda Gabriela Zangari Dompieri)

No Miss Nikkey, descendentes nipônicas concorrem às coroas. Foi a última atividade programada do sábado e contou, entre outros, com Ana Hikari como jurada. Ela foi a primeira protagonista oriental da Globo, na Malhação. Achei interessante que, em seu discurso, destacou a importância da não competição entre mulheres e completou:  “Estou aqui para dar dez pra todas, todas merecem”. É um questionamento inclusive da estrutura ultrapassada dos concursos de miss. Mas tentei imaginar o que eu acharia dessa fala se eu fosse organizadora do evento e a tivesse chamado para avaliar as candidatas. Ou ainda se eu fosse uma das próprias e, nesse caso, esperasse uma avaliação. Supus que, a menos que já soubesse do viés de Ana na mesa, essa fala me surpreenderia e eu poderia não gostar do proposto naquela ocasião.

Havia torcedores assíduos, o que me surpreendeu. Tanto que conquistar uma cadeira à frente do palco foi uma situação em que a palavra “conquistar” realmente se aplica. Sentei junto com meu pai em uma cadeira e lá fiquei durante um tempo. Quando senti que meu peso começava a causar desconforto, tomei a iniciativa de sentar ao lado, no chão. Estava frio e, vendo que meu pai ia contra a ideia, um homem nipodescedente na casa dos trinta que estava à minha esquerda me chamou e disse algo como “Ei, sente aqui”. Fiquei em choque e, por umas boas cinco falas, tentei negar a gentileza, porque ele teria que ficar de pé para ver o concurso, e essa era uma opção que eu também poderia fazer, se fosse o caso. Muito atencioso, insistiu. Não esperava mesmo que alguém estivesse sequer vendo a questão das cadeiras, mas ele estava e prontamente pôs-se a ajudar.

Esse caso foi pontual, mas mesmo assim  o altruísmo me impressionou. Sem eu sequer percebê-lo, a meio metro de mim, ele se colocava como peça colaborativa a resolver um problema que não era dele. E que até então nem o tinha como parte envolvida. Essa preocupação do “ajudar o entorno” parece ser característica da cultura deles, como se percebe a partir de outros exemplos como o da limpeza coletiva.

Assistimos à maior parte do Miss Nikkey, mas estávamos sem casaco, o que forçou nossa partida em dado momento. Antes de levantar, pedi que meu pai chamasse o moço que me concedera a cadeira, que estava de pé um pouco mais atrás, com outros espectadores. A devolvi a ele, o que o deixou feliz também.

Coreografia inicial das participantes do concurso Miss Nikkey, no palco principal (Imagem: Ana Gabriela Zangari Dompieri)

Ao sairmos de lá, estávamos realmente cansados. Havíamos visto uma enxurrada de coisas. Penso que a disposição das áreas do Expo Center contribuíram para essa sensação. Ao entrar no espaço, deparava-se com o palco, um dos grandes interesses dos frequentadores. Outro seria, com certeza, a comida. A praça de alimentação, no entanto, era no outro extremo do pavilhão. A caminhada de um a outro era extensa e cansava mais os olhos e ouvidos do que as próprias pernas.

Esta área intermediária era superlotada de estandes em sua maioria de grandes marcas. Honda, Kirin Ichiban, Ajinomoto, Yamaha, Nissan, Canon e até o Hospital Santa Cruz tinham expositores lá. Havia uma loja inteira da Ikesaki, que buscava atrair compradores por meio de falas apelativas bastante amplificadas por uma caixa de som. Isso – somado à panfletagem, a todos os outros anúncios desde o espaço do estacionamento e às inúmeras logomarcas inevitavelmente absorvidas pelo meu cérebro – me atordoou. E, pior do que isso, me deixou com a impressão de que o evento é muito mais comercial do que cultural, o que me decepcionou. A vinheta que foi reproduzida três vezes antes do Miss Nikkey citava todas as empresas parceiras do evento. Seus nomes, felizmente para eles e infelizmente para mim, ainda estão na minha cabeça, no timbre dos narradores.

O site do festival diz “O Festival do Japão é uma excelente vitrine para expositores”. E realmente o é. Ótimo para as empresas: milhares de compradores potenciais vão a ele. Mas bastava ver a maior parte dos estandes, vazios, para notar que os que foram ao evento não eram, nem esperavam, ser “consumidores” ali dentro, mas sim visitantes, cidadãos. Nesse sentido, é desconfortável propor-se a um passeio esperando conhecer mais de uma cultura, em uma cerimônia tão grande como essa, e perceber que a proposta maior é que absorvamos propaganda.

Não seria um problema haver comércio no evento. Em relação à alimentação por exemplo, não vejo uma boa saída que o drible. O ponto é que quem paga um ingresso não espera ser engolido por publicidade. Ainda mais de grandes marcas. Talvez estandes com produtos típicos (lanternas, kimonos, quadros de shodo feitos ao vivo) fossem uma opção melhor para aqueles que vão conhecer, ou até mesmo de startups japonesas.

Muitas dessas empresas são nipônicas, mas, para o visitante, são empresas globalizadas, com os mesmos propósitos de qualquer outra. É provável que, sem o apoio das multinacionais, o evento não pudesse ser gigante como é. Mas, no fim, a maior área dessa grandiosidade toda é ocupada por essas mesmas empresas, então qual é o ponto de as ter lá?

A ideia pode ter sido pintar um Japão mundialmente potente e poderoso, o que seria um fator de orgulho para o seu povo. Mas se for esse o caso, ficaria melhor aos visitantes que a exaltação a essas empresas se restringisse a contextos mais específicos e pontuais dentro do evento. Terem uma ala que não fosse bem no meio do Festival já ajudaria bastante a reduzir essa sensação de que o consumo se sobrepôs à cultura; de que esta era mais justificativa para o evento do que sua finalidade em si.

A publicidade se mostrava aos visitantes por longos trechos de seus caminhos (Imagem: Ana Gabriela Zangari Dompieri)

Até mesmo algumas coisas essenciais na construção do que eu imaginava ser um Festival do Japão ficaram a encargo de empresas. A pequena reprodução de um lago japonês próximo à entrada do pavilhão era do Bradesco. Meu retrato com meu pai saiu estrelando o logo do banco. O túnel do tempo que buscava trazer um pouco da história a respeito da vinda dos imigrantes foi a única homenagem à chegada do Kasato Maru que me lembro de ter visto. E era um túnel que dava no meio da loja da Ikesaki. Havia mais sobre seu fundador Hirofumi Ikesaki e a trajetória da empresa do que outra coisa.

A marca foi a primeira loja de produtos de beleza do Brasil. A empresa realmente tem história e não se pode culpar a Ikesaki por querer expô-la. Mas essa ser basicamente a única fonte de informação desse tipo no evento é, no mínimo, falho. A história japonesa no Brasil com certeza é muito mais ampla do que o viés de uma empresa bem sucedida no país.

Uma parte do túnel que trazia informações mais gerais sobre a história da imigração japonesa (Imagem: Ana Gabriela Zangari Dompieri)

Reagi instintivamente à sensação de falta de experiências culturais que o evento me propunha à primeira vista. Comecei a ir atrás de degustações. Consegui provar uma maçã, caqui desidratado, uma bolachinha com gergelim, um amendoim caramelizado e alguns poucos sabores de sorvete. Para mim, os dois extremos foram o caqui e um sorvete de matcha. Ambos eram diferentes do comum, justamente o que eu queria tentar. Meu paladar simplesmente não estava preparado para o primeiro, mas o segundo, pra mim, é só alegria em qualquer comida.

Nessa busca sem destino, consegui mais duas coisinhas diferentes. Uma amostra de shampoo e uma de demaquilante. Não era realmente nada demais, mas valorizei isso porque foi algo que eu recebi, sem um preço agregado. Justamente por não ser monetizável, reconheci nisso algo um pouco mais próximo do que eu entendo ser uma experiência cultural mais sincera.

No meio dos barulhos, dos carros expostos, das marcas e das distâncias, lembro-me de reparar no grande número de idosos, principalmente japoneses, que estavam no evento. Me surpreendeu muito, porque, na minha percepção, não era um lugar tão acessível a eles justamente por ser preciso andar muito para ir “daqui até ali.” Mas o fato é que eles estavam presentes e vivendo o festival da sua forma. Tanto para os jovens quanto para os idosos, essa convivência é saudável e chega a fazer falta em outros eventos.

Os mais novos, por sua vez, mostravam-se, em grande número também, cosplayers. Era possível ver personagens diversos, de filmes, de jogos eletrônicos, de mangá e de desenhos anime.Talvez por ser um evento japonês, tenha havido uma concentração maior desses jovens, considerando a influência dessa cultura sobre os dois últimos formatos. Pedro de Souza fez cosplay de Ryu, protagonista da franquia de jogos de luta Street Fighter, no sábado. Sobre isso, ele conta: “Quando você se torna um cosplayer, automaticamente vira uma vitrine humana. Então você não vai apenas para curtir o evento, mas para ser o evento também. Essa é a magia do negócio.”

Pedro, que já é cosplayer há três anos, disse que frequenta eventos geek. O Festival do Japão significou, para ele, uma alternativa, já que neles costumam dar mais espaço à cultura estadunidense.

Na hora, como já disse, fiquei inerte com tanta informação que tinha para digerir. Durante o evento, nem me lembrei de falar com outros participantes. Pedro, Michelle e Mity foram contatados após a minha visita ao festival.

Vale lembrar que fui ao Festival apenas no sábado e, por isso, tive uma vivência limitada do evento. Também pela extensão espacial dele, é improvável que qualquer pessoa o tenha experienciado em sua totalidade. Possivelmente se eu tivesse visto outras facetas do acontecimento, talvez em outros dias, teria uma impressão distinta. Ou até no próprio sábado, mas nos lugares e horas certos.

No geral, me impressionei verdadeiramente com a organização. As filas, mesmo para comer, eram grandes, mas andavam rápido. Ainda não foram liberados dados sobre a quantidade de pessoas que estiveram na 21° edição do evento, mas no ano passado, segundo os próprios organizadores, foram cerca de 150 mil pessoas no total.

Um número dessa escala me faz admirar ainda mais os esquemas feitos para que tudo funcionasse como de fato aconteceu. Pensando que a maior parte dos envolvidos na organização foram voluntários, fica um elogio máximo a eles. Com o empenho dessas tantas pessoas, com a presença maciça das grandes empresas, e com o dinheiro de tantos visitantes, custando cada ingresso 28 reais, me questiono novamente. Será que não podiam ter sido oferecidas mais atividades “gratuitas”? Ponho o gratuitas entre aspas porque quando se paga para entrar, nada de dentro é exatamente de graça. Sobretudo na crise, esse preço, apenas para entrar, não é acessível a muitos paulistanos.

Talvez as atividades nem precisassem ter sido mais expressivas quantitativamente, mas qualitativamente. Sinto que elas ficaram em segundo plano. As que não ocorreram no palco esconderam-se pelos cantos e tornaram-se absolutamente coadjuvantes ao resto do evento. Mesmo as que ocorreram na arena pareceram não ter sido anunciadas.

É possível que o problema maior tenha sido essa questão da comunicação ao público. Havia um canal de voz audível a todo o pavilhão. Um homem dava alertas sobre segurança ou crianças que se perdiam. Esse mesmo canal poderia ser usado para avisar sobre o início de atividades e onde elas ocorreriam. Isso daria um protagonismo maior a elas, o que é muito válido.

Até mesmo distribuir folhetos com a programação do dia poderia ajudar nessa tentativa de levar o público aos eventos culturais dentro do festival. Se havia tais folhetos e eu não os recebi ou em nenhum momento os vi, a melhora deveria ser feita na visibilidade do local onde podem ser conseguidos.

É preciso investir o pensamento nessas atividades para que elas sejam interessantes e convidativas ao público. Mesmo no palco principal, era difícil mantermo-nos sentados por muito tempo, porque não tínhamos como nos encostar e ventava muito em um dos lados da arena. Precisamos ficar confortáveis nos acontecimentos pequenos e nos grandes também. Afinal, podemos ser o mercado consumidor, mas nesse tipo de evento, somos principalmente cidadãos em busca de experiências culturais mais aprofundadas.

Certamente minha vivência do Festival, enquanto não-japonesa, é diferente da de um japonês ou nipodescendente. Fazer parte de um segmento étnico, como cada um faz, influencia nas perspectivas gerais que se tem. Em relação ao evento não seria diferente. Acho o projeto dele existir enquanto homenagem e mostra anual da cultura nipônica muito pertinente. Sobretudo, porque ela é milenar e muito valiosa no âmbito do patrimônio material e imaterial humano.

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