Antes mesmo do começo da partida, Hugo Calderano já fazia história em Tóquio. O carioca de apenas 25 anos foi o primeiro mesatenista não asiático ou europeu a atingir as quartas de final de Olimpíada. O caminho do atual número sete do mundo até essa partida não foi nada fácil. Calderano havia enfrentado, na primeira fase, o esloveno Bojan Tokić, vencendo-o por 4 sets a 1. Nas oitavas de final, combateu o sul coreano Jang Woo-jin e num jogo apertadíssimo por 3 sets a 2, ultrapassou o adversário.
O brasileiro chegou então às quartas de final para enfrentar o alemão, e atual número oito do mundo, Dimitrij Ovtcharov. Curiosidade interessante: após os Jogos, com a volta do circuito mundial, Hugo irá se transferir para o clube de Ovtcharov, na Rússia, onde serão parceiros. Dando ponto final às curiosidades, vamos ao jogo.
O primeiro set da partida começou com o alemão convertendo seus dois primeiros saques e abrindo uma pequena vantagem contra o brasileiro. Calderano conseguiu reagir e, apostando muito em sua chiquita — golpe que consiste num backhand atacado de dentro da mesa — chegou ao set point em 10 a 6. O primeiro game terminou 11 a 7 com Hugo imparável, tendo conseguido quebrar quatro pontos de saque do alemão e tendo apenas recebido uma quebra.
O segundo set começou com um ótimo início do brasileiro. Calderano converteu seus dois primeiros serviços e, embalado, seguiu com a vantagem. Ao quebrar pela sétima vez o saque de Ovtcharov, o placar chegava em 6 a 2.
Hugo demonstrou estar bem consciente e com uma regularidade incrível nas devoluções de serviço, o que o ajudou a chegar ao set point em 10 a 4. Foi então com uma grande ajuda da rede que o carioca emplacou dois sets a zero contra o ex-primeiro do mundo.
O terceiro set era, sem sombra de dúvidas, crucial para o encaminhamento da partida. Caso Calderano conseguisse a vitória, se colocaria a um passo da classificação. Por outro lado, a vitória alemã poderia significar o início de uma reação para Ovtcharov.
Enfim, vamos ao jogo! Hugo, mais uma vez, começou o set com uma atuação impecável. O brasileiro liderou as ações, tranquilo, até o 4 a 2, quando o técnico do oitavo do mundo solicitou a única pausa da partida. Logo de início não pareceu surtir efeito, ao passo que Calderano conseguiu ampliar ainda mais a vantagem, chegando ao placar de 8 a 4.
No entanto, a contagem de Hugo parou por aí. Após ter seu saque quebrado em um rali de nove bolas, o brasileiro viu seu rival marcar três pontos seguidos e ficar próximo de empatar o set.
A reação foi solicitar sua pausa técnica, que também não pareceu surtir efeito, na medida que Ovtcharov continuou absoluto, pontuando até fechar o set em 11 a 8. Vinha aí uma reação do experiente alemão.
O quinto set era outro momento importantíssimo para o decorrer da partida. Quem ganhasse se colocaria em vantagem para fechar o jogo no set seguinte e transferiria toda a pressão para o adversário. Foi com essa energia que Hugo começou o game quebrando o saque do adversário e vibrando muito pela primeira vez na disputa, o que lhe faltava até então.
Calderano começou imbatível e realmente fez parecer que havia voltado em definitivo para o jogo. Em um rali de 11 bolas, o brasileiro ampliou a vantagem para 5 a 1. Com ajuda da rede e mais outro bom serviço, atingiu a infame marca do 7 a 1 — ironicamente contra um alemão. Entretanto, Ovtcharov não pareceu se importar com a elasticidade do placar e começou uma reação gigante. Em poucos instantes o 7 a 1 havia se transformado em 7 a 5. Hugo até interrompeu a sequência marcando para o 8 a 5. No entanto, não surtiu efeito. Com ótimas quebras e saques seguros, o alemão fechou o quinto set em 11 a 8, simplesmente um apagão de Calderano.
O sexto set, como imaginado, colocou uma pressão enorme sobre as costas do brasileiro. Infelizmente, essa atmosfera mais pesada influenciou no jogo de Calderano que acertou pouquíssimas bolas e sofreu uma rápida derrota para Ovtcharov por 10 a 2. Um ótimo jogo por parte do Hugo, mas, do outro lado, uma atuação vibrante, raçuda e extraordinária do alemão. A partida encerrou- se em quatro sets a dois e teve a duração de 51 minutos.
Sem sombra de dúvidas, Hugo Calderano mais uma vez fez história representando o Brasil no tênis de mesa. Hoje, seu resultado foi doloroso pois chegou muito perto de render uma vitória ainda mais inédita para ele e todos que o assistem. Agora é concentrar e se preparar para o próximo ciclo. Obrigado, Calderano! Você já é gigante.