Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
“O passado já passou”. Essa frase sintetiza Abrigo (Mistor, 2017), filme israelita do diretor Eran Riklis. Lina Haddad (Golshifteh Farahani) é uma libanesa que teve que abandonar seu país após dar informações importantes do grupo terrorista Hezbollah para o serviço secreto israelita. Como medida de segurança, é mandada à Alemanha e submete-se a várias cirurgias plásticas para não ser reconhecida. Enquanto recupera-se dos procedimentos, a agente israelense Naomi (Neta Riskin) é enviada ao seu esconderijo, em um apartamento em Hamburgo, para ajudá-la e protegê-la de possíveis ameaças. É nesse cenário que as duas aproximam-se e uma relação de intimidade é criada.
Não vá aos cinemas esperando um filme de ação. Claro, há algumas cenas mais tensas, mas o forte mesmo do longa é a relação entre essas duas mulheres. Ambas têm um passado que as assombra, com decisões das quais arrependem-se e momentos de dor e sofrimento. Esse é o ponto em comum no qual essa amizade se baseia. Os diálogos reveladores são bem elaborados e o espectador pode perceber a ligação entre as duas se formando pouco a pouco com a convivência.
Mesmo não sendo um filme frenético, existem momentos em que o diretor consegue nos transmitir muito bem a angústia do instante por meio da linguagem cinematográfica. A câmera tremida, os ângulos tortos e os cortes rápidos colaboram para intensificar a tensão da cena e nos deixar preocupados. Além disso, os takes filme são bem feitos, com ângulos bem posicionados e bonitas cenas contemplativas.
Abrigo é um filme de esconderijo e fuga, mas não acrescenta nada de novo ao seu gênero. Apresenta qualidade técnica e as duas personagens principais são bem interpretadas pelas atrizes, mas vários clichês são concretizados ao longo da obra. O destaque vai para a sensibilidade com que a relação de Lina e Naomi é construída, com carinho e ajuda mútuos. É bonito ver a maneira como ambas começam a se abrir e revelar histórias dolorosas do passado, principalmente sobre perda. Confira Abrigo, um filme que acerta muito mais ao retratar as relações humanas do que narrar intrigas de perseguição.
por Giovanna Simonetti
g_simonetti@usp.br