Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Scary Mother (Sashishi Deda, 2017) é o filme escolhido para representar a Geórgia por uma vaga no Oscar de 2018. Dirigido por Ana Urushadze e estrelado por Nato Murvanidze, o longa-metragem foi um dos indicados para a maior premiação do Festival de Locarno e venceu o principal prêmio do 23º Festival de Cinema de Sarajevo, um dos maiores de toda a Europa.
Scary Mother conta a história de uma mulher, Manana, que luta contra um dilema: escolher entre uma vida como mãe e dona de casa e sua paixão reprimida por muitos anos, a escrita. Ao longo dos 107 minutos que compõem a obra, o espectador testemunha os sacrifícios físicos e sobretudo mentais que a protagonista enfrenta para terminar seu livro, passando por transformações radicais em sua personalidade. O principal motor das dificuldades pelas quais Manana passa é o conteúdo daquilo que está escrevendo: o teor de seu texto é demasiadamente erótico, o que surpreende negativamente sua família,e causa desentendimentos.
O aspecto mais interessante do filme é a constante atmosfera de tensão criada na casa da protagonista e na relação com os filhos e marido. Essa sensação de inquietude faz o espectador ficar apreensivo, instigando-o a observar com cuidado o desenrolar da história de Manana. Após a leitura de um excerto de seu livro à família, toda a dinâmica de sua vida se altera, uma vez que uma nova percepção da protagonista é criada em sua casa: de mãe e dona de casa atenciosa e pacata, ela passa a ser vista com certa cautela e desconfiança.
Em relação às atuações, com exceção da protagonista, nenhum dos outros atores se destaca. Na pele de Manana, a atriz é capaz de transmitir diferentes emoções – confusão, indecisão, determinação – de forma competente e crível. No entanto, as interpretações dadas pelos atores, que encarnam seu marido, filhos e pai, não são marcantes. Blasé, o trabalho deles é funcional, mas não passa disso.
O fim de Scary Mother é um pouco decepcionante: grande parte daquilo que havia sido implicado durante a história é (desnecessariamente) verbalizado conforme o longa-metragem se aproxima do fim. Dessa forma, a obra perde parte de sua originalidade, e subestima a capacidade de seu público de apreender o que estava nas entrelinhas. Felizmente, os últimos minutos do desfecho reservam a cada pessoa participante do público a possibilidade de decidir por si só como acaba a história de Manana e sua família. Assim, um fator que contribui positivamente para a experiência do espectador é o fato de que ele continuará refletindo sobre os possíveis destinos da protagonista mesmo após sair do cinema.
Trailer com legendas em inglês:
https://www.youtube.com/watch?v=KDl1vbUFwqE
por Sabrina Brito
sabrinagabrieladebrito@gmail.com