Durante o ano de 2020, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo realizou o evento apenas no formato online, devido a necessidade de isolamento social. Contudo, com a vacinação contra a Covid-19 avançada no estado, o festival volta, a partir do dia 21 de outubro, no formato híbrido, contando com exibições virtuais e também presenciais, que respeitam as medidas necessárias, como a ocupação das salas limitada em 50% e o uso de máscara obrigatório. Neste ano, entre os 264 filmes que integram a seleção está o longa-metragem Má Sorte no Sexo ou Pornô Amador (Babardeala Cu Bucluc Sau Porno Balamuc, 2021), do cineasta romeno, Radu Jude.
A exibição de Má Sorte no Sexo ou Pornô Amador na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo se relaciona com o evento ao trazer questionamentos, como a importância do cinema e os absurdos gerados pelo negacionismo, fake news, machismo e preconceito. A compatibilidade entre o festival e o filme está no fato de que “realizar uma edição é um ato político e cultural importantíssimo”, conforme afirmou Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural, em painel sobre a Mostra.
E ato político é o que não falta no longa vencedor do Festival de Berlim. Dividido em três partes, é iniciado com uma gravação caseira de cenas de sexo entre a protagonista, Emi, uma professora, e seu marido. Então, o vídeo é vazado e vai parar em sites de pornô. Em sua obra, Jude explora aspectos da atualidade, como o uso de máscaras e a propagação de fake news. Apesar do diretor não se aprofundar nas repercussões do vazamento do vídeo na vida da personagem, ele escancara a hipocrisia da nossa sociedade. Para tanto, Jude faz um contraste entre os julgamentos feitos contra Emi, que corre o risco de perder o emprego, e as inúmeras imagens com nudismo e conotações sexuais que somos expostos no dia a dia.
No entanto, a história fica ainda mais inacreditável na terceira parte, ao mostrar uma reunião de pais para decidir o futuro da professora Emi. Uma espécie de julgamento grotesco se inicia, os parentes dos alunos apresentam argumentos desconexos, fazem declarações negacionistas e chegam a realizar, contra a docente, a prática de slut shaming, ato de repreender indivíduos – especialmente mulheres – por exercer sua liberdade sexual e não corresponder as expectativas sociais em relação ao sexo, visto como um tabu.
Assim como a protagonista de Jude, a cultura sofreu diversos ataques, como relembrou Renata Almeida, diretora da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. De forma emocionada, ainda recordou das investidas contra a Lei Rouanet, importante regimento para a manutenção de financiamentos na área. As dificuldades atingiram o evento, que teve queda de patrocínios e mesmo aqueles que permaneceram diminuíram as verbas. Claudiney Ferreira chegou, inclusive, a apontar a necessidade de mais investimento no setor: “Eu gostaria de falar que somos sempre os mesmos (que investem). As empresas têm que pensar na importância da cultura para a sociedade”, afirmou o gerente sobre a Mostra.
De acordo com Almeida, a realização do evento online representou também uma forma de lidar com a diminuição de verbas. Portanto, será mantido o formato virtual, mas o verdadeiro desafio é voltar a ocupar as ruas de São Paulo. Para a gradual retomada do festival na cidade, haverá sessões presenciais e os ingressos poderão ser obtidos por meio do aplicativo da Mostra. “A amostra é uma tentativa de recuperar nosso território”, afirmou Claudiney Ferreira.
Esse filme faz parte da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.
Confira o trailer aqui:
*Imagem de capa: Divulgação/Films4YOU