Por Camilla Freitas
No dia 22 de novembro, em um evento promovido pelo Movimento por um Futebol Melhor, o Arquibancada encontrou o Vice-Presidente Social e de Comunicação do Botafogo de Futebol e Regatas, Márcio Santos Padilha de Oliveira, que comentou conosco sobre temas como a ascensão do time no Campeonato Brasileiro, a possível ida do goleiro Sidão para o São Paulo, o quanto a crise no Rio de Janeiro pode afetar os clubes cariocas, entre outros. Confira a entrevista completa:
Arquibancada: Comente a ascensão do Botafogo.
Márcio Padilha: Olha, acho que é fruto de um trabalho de gente que tava buscando o melhor para o clube, muita pesquisa, pesquisa de mercado, buscamos as melhores condições para o elenco, fizemos um investimento num pequeno estádio que fez a diferença; a partir do momento em que a gente passou a jogar na Arena Botafogo, nosso desempenho melhorou. Fizemos grandes jogos, surpreendemos todo mundo. Eu estava falando para algumas pessoas que no início do campeonato os mais críticos diziam que o Botafogo ia brigar para não cair, outros mais radicais diziam que o Botafogo cairia sem brigar, e nós nunca acreditamos nisso, nós continuamos batalhando, buscando nosso objetivo. O ambiente do futebol do Botafogo é muito sadio, há uma relação de transparência. Nós temos grandes parceiros que nos apoiaram. Nós conseguimos trazer a Topper, que é uma gigante do mercado de material esportivo, que acreditou no nosso projeto, investiu na gente. A gente conseguiu outros parceiros, vários parceiros que foram pontuais mas não menos importantes, a Cercred, a Omni, agora chegou a Caixa Econômica… então isso tudo é fruto de muito trabalho. Há um grau de dedicação, às vezes prejudicando as nossas famílias, as nossas empresas, mas há um grau de dedicação ao Botafogo que assim, não há uma dimensão, não dá para explicar.
A: A mudança da campanha do Botafogo do primeiro para o segundo turno foi realmente surpreendente…
MP: Todo mundo achava que era uma aposta, mas a gente tem uma gratidão ao Jair Ventura, o técnico, que para nós nunca foi aposta; ele nunca foi treinador interino, ele passou de auxiliar a treinador do Botafogo. Não era nossa intenção, e nunca foi, demitir o treinador.
A: Ele fica para a próxima temporada?
MP: Fica. O Jair é o técnico do Botafogo. O Ricardo Gomes seria o nosso treinador até hoje, e acredito também que o Botafogo teria se recuperado com o Ricardo, que é um grande profissional, mas teve coisas do futebol. Ele recebeu a proposta, nós não tínhamos condições de cobrir. Ele foi pro São Paulo, e nós efetivamos o Jair com a maior tranquilidade do mundo, sabendo que a gente estava botando um grande profissional na frente do time, respeitadíssimo por todo o elenco. O ambiente deles é muito bom, e isso faz a diferença.
A: Você mencionou o Ricardo Gomes e o fato de vocês não terem conseguido cobrir a proposta do São Paulo. Hoje há um rumor de que o Sidão tem proposta do clube paulista. O que você tem pra comentar sobre isso? O Sidão vai para o São Paulo?
MP: Eu não participo das negociações do futebol, mas como eu já falei antes, negociações , propostas, isso é do futebol. Ninguém pode proibir o atleta de querer uma melhor condição para si, para o seu empresário, para sua família. Então, cabe ao jogador interpretar se essa proposta realmente é melhor ou não e ver o que o Botafogo tem a oferecer, verificando se os outros clubes querem oferecer outras coisas. Acho que isso é um direito, acho que só não vale aliciar. Fazer proposta é diferente de aliciamento, e cabe ao jogador pensar tudo o que for de melhor pra ele e para os clubes. Isso é natural no futebol, não vamos evitar isso. Nós só pedimos que seja sempre com ética.
A: E como está o planejamento do time visando a Libertadores?
MP: A Libertadores ainda não é uma realidade, infelizmente. Mas ela é uma possibilidade, e pra isso nós estamos planejando a nossa volta pra casa, para o estádio Nilton Santos. Estamos fazendo um sistema de ocupação do estádio para que ele passe a ser um estádio não só no dia do jogo, na partida de futebol, mas que ele tenha uma ocupação diária, com eventos pequenos, médios e grandes, com comércio, com serviços, com várias coisas. E com isso, rentabilizar o clube. Com a Libertadores, possivelmente, melhores contratos de patrocínio para camisa, você passa a ter uma exposição maior, e isso facilita na hora comercial. E fazer um planejamento. Manter essa base, que é um grupo muito bom, acertar pontualmente uma ou outra posição, e vamos para cima.
A: Dentro desse projeto de gestão que vai ser aplicado estão as categorias de base. Como é que fica a categoria de base do Botafogo?
MP: As categorias de base do Botafogo são o nosso xodó, né? Nós temos o Manoel Renha que faz um trabalho fantástico. Nós somos campeões brasileiro e carioca sub-20, além de outros títulos em outras categorias que eu não vou saber enumerar agora; estamos na final do sub-15 carioca, fora outros que ganhamos ou chegamos nas finais. Nem sempre conquistar o título é o principal fator – é muito bom, mas para as categorias de base nós estamos formando novos jogadores, formando nosso futuro. Nós subimos acho que 5 ou 6 jogadores desse elenco campeão brasileiro sub-20 que já vão fazer a pré-temporada com o time de cima. Categoria de base vai ser ainda mais parte do nosso projeto. A Ambev nos ajudou, fizemos uma série de melhoramentos no Caio Martins, que é onde está a maior parte da nossa categoria de base. Então a categoria de base está dentro do contexto, faz parte, e eu acho que vem bem.
A: Mudando de assunto um pouco, nós estamos acompanhando pela mídia as complicações que o Flamengo anda enfrentando com o uso do Maracanã. Como o Botafogo se posiciona quanto a isso? Pode haver uma solidariedade ao clube?
MP: Tudo isso é negociável… a rivalidade tem que acontecer entre as torcidas, e mesmo assim tem que ser uma rivalidade sadia. Administrar um clube de futebol hoje, embora nós sejamos amadores como todos dizem (mas nós não somos irracionais), pode ser muito perigoso. Então a gente tem que sentar, tem que conversar. O regulamento do campeonato carioca prevê que todos os clássicos são de despesas divididas. Então não adianta um clube querer ser melhor que o outro nesse sentido porque na hora da participação ali na renda é tudo por igual. Ninguém tem condições de jogar dinheiro fora. Então se jogar no estádio Nilton Santos um clássico, seja contra o Flamengo, Vasco ou Fluminense, e for uma condição melhor para os dois do que jogar no Maracanã, é uma opção viável sem nenhum problema.
A: Como essa situação complicada financeira e politicamente do Rio de Janeiro pode afetar o futebol carioca?
MP: A receita do campeonato carioca vai aumentar com a TV Globo, então já vai dar um fôlego maior para os clubes. O Campeonato Carioca, queiram ou não queiram, é o mais charmoso do Brasil, que me perdoem os outros. E na segunda-feira é discutido no interior do país todo, porque é o campeonato que mais chama a atenção. Para fazer um Cariocão bom já teve algumas mudanças esse ano: terão 12 clubes na parte final do campeonato. O campeonato não vai ter mais aquele negócio de quem ganha os dois turnos elimina a final, o campeonato vai ter final – e essas finais podem ser jogadas no Nilton Santos tranquilamente. Então o planejamento.é que a gente faça do campeonato carioca além de charmoso, rentável. Esse é o nosso planejamento.
A: Mas essa situação financeira vive o Rio, você acha que ela talvez não afete os clubes?
MP: A situação financeira que vive o Brasil afeta os clubes. Você vê que hoje o principal patrocinador futebol brasileiro é a Caixa Econômica Federal, a maioria dos clubes tem contrato com ela. Então saiu muito dinheiro do futebol, mas se for gerido com tranquilidade, agora pegando o manual da Ambev o plano de negócios, eu acho que é viável, sim, dá para fazer. A torcida ainda tem muita paixão pelos clubes, Nós estamos fazendo um programa de sócio torcedor bem agressivo, o sócio vai comprar um pacote pro ano todo com garantia de assistir todos os jogos com um bom desconto. Então a gente acredita que dá para fazer um campeonato charmosos e rentável.