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Futebol, muito samba, muito choro e rock ‘n’ roll

Musicar é preciso, contextualizar não é preciso. É a partir dessa filosofia que se estrutura o documentário Meu Caro Amigo Chico (Idem, 2012), de Joana Barra Vaz, exibido na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A obra busca refletir sobre Portugal atualmente a partir de músicos influenciados por Chico Buarque, tendo como fio …

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Musicar é preciso, contextualizar não é preciso. É a partir dessa filosofia que se estrutura o documentário Meu Caro Amigo Chico (Idem, 2012), de Joana Barra Vaz, exibido na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

A obra busca refletir sobre Portugal atualmente a partir de músicos influenciados por Chico Buarque, tendo como fio condutor a canção Tanto Mar. Lançada na época da Revolução dos Cravos, que em 1974 derrubou a ditadura no país dos lusitanos, ela é um elogio ao momento libertário de Portugal, mas por aqui foi censurada. Esse contexto sociopolítico, porém, fica pouco mais que insinuado no filme.

O documentário caminha se equilibrando com dificuldade, trançando as pernas ao tentar apresentar, retratar e ainda por cima ouvir os diversos entrevistados, suas opiniões, visões e percalços.

É como um show de malabarismo em que o palhaço está sempre quase derrubando tudo, tentando esconder o fato de que duas mãos às vezes não são suficientes para realizar o espetáculo. Faltam dedos à diretora para segurar ao mesmo tempo nossa atenção, informações, pensamentos, particularidades e muitos, muitos nomes.

Com tanto mar de conteúdo, fica difícil para o interesse se aventurar nessa Grande Navegação. As canções e a simpatia dos entrevistados – com legendas devidamente colocadas, afinal, o sotaque é espesso – alternam entre desviar o foco e entreter os perdidos, sendo, entretanto, o ponto alto do documentário. As letras carregam o trabalho criativo com as palavras da MPB, mas com um toque lusitano que a renova para além do engessado pela tradição brasileira.

O documentário preza pela imagem direta: ressalta a presença do entrevistado, suas palavras, enquanto empurra o contexto ao subterrâneo. Restringe o simbolismo à introdução e à partida de futebol entre portugueses e Chico Buarque, momento-chave da dinâmica do filme, que se constrói ricocheteando entre o carioca, o lusitano e o espectador.

Nesse movimento entre os três pólos, dilui-se o olhar, deixando ao final um sentimento de desorientação. A dúvida que permanece é se o resultado é reflexo de uma análise aguda da condição atual portuguesa ou se o palhaço acabou por deixar cair tudo em seu número de malabarismo.

Por Henrique Balbi

henriquebalbi92@gmail.com

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