Se tem uma palavra que define O Acampamento (Killing Ground, 2017) é “perturbador”. O longa australiano conta a história de um casal, que em uma viagem romântica para acampar na floresta, encontra uma cabana vazia sem sinal de seus ocupantes e uma criança pequena perdida no meio da mata. Porém, antes que consigam descobrir o que aconteceu, Sam (Harriet Dyer) e Ian (Ian Meadows) se deparam com a mesma mortal situação enfrentada pela família que ali acampava. Durante as quase uma hora e trinta minutos de filme, o público fica inquieto com a sensação de que a qualquer momento algo terrível irá acontecer com os personagens.
Um dos artifícios utilizados pelo diretor Damien Power para aumentar a imersão do espectador no filme e, consequentemente, o sentimento de aflição, são os ângulos da câmera, que dão a impressão de se estar na floresta junto com os personagens. A não-linearidade da narrativa também contribui para a tensão dos que estão assistindo. As cenas são intercaladas de maneira que quanto mais próximos estamos de saber o que aconteceu com a típica família feliz, mais tememos por seu futuro e do casal, que se aproxima do perigo. Tudo isso permite, também, um certo mistério, sendo que, apesar de estar quase que claro desde o início quem são os vilões do filme, não sabemos como e nem se os campistas sobrevivem aos que os espera, algo que serve para aumentar o interesse do público pela narrativa, além de conceder uma pontinha de esperança de que tudo acabe bem, dentro do possível.
Mas o que torna o filme perturbador é o seu realismo, que, combinado com as longas cenas de violência física e, principalmente, psicológica, causa imenso desconforto e tormento, carregando, dessa maneira, semelhanças com o também terror australiano Wolf Creek – Viagem ao Inferno (Wolf Creek, 2005). O fato de que todos os atos horrendos que ocorrem em O Acampamento são executados por humanos é mais assustador do que qualquer boneca possuída ou homem imortal da serra elétrica, pois é algo que, independentemente de suas crenças, pode acontecer na vida real com qualquer um. Há ainda determinadas cenas que são capazes de ocasionar náuseas, o seu realismo brutal junto com o comportamento dos responsáveis pela violência pode deixar até mesmo os fãs de filmes de terror bastante perturbados e com vontade de sair da sala do cinema. Por isso, o longa pode não ser adequado para pessoas sensíveis e que não tem “muito estômago”.
Contudo, igual a (quase) todo filme de terror, esse também possui alguns clichês: algumas pessoas se encontram em um local isolado sem sinal no celular, alguém aceita um conselho suspeito de um estranho, longas cenas de perseguição em uma floresta, personagem que sobrevive a situações que deveriam ser fatais. Porém, isso não é o suficiente para diminuir a aflição sentida ou eliminar a correspondência com a realidade. Esses clichês ou são pontuais e ocorrem no início e final do filme, sendo, respectivamente, esquecidos e depois dos piores momentos ou são críveis, como é o caso de os personagens irem acampar em uma floresta, onde, obviamente, não tem sinal. Assim, há só uma certa falta de originalidade na temática e no desenvolvimento que, embora não chegue a atrapalhar o objetivo do filme, torna alguns pontos bastante previsíveis.
O Acampamento é um filme denso e terrivelmente real. Aqueles que já não gostam dos filmes de terror padrão (cheio de sustos e algumas cenas de morte) devem passar longe dessa produção, que cumpre com competência seu papel de afligir e imergir o seu público dentro da narrativa.
O Acampamento estreia dia 31 de agosto nos cinemas. Veja o trailer:
Por Nathalia Giannetti
nathaliagiannetti@usp.br