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O Preço da Verdade: até que ponto conseguimos lutar pelo certo?

Quando pensamos em filmes sobre advogados, questões judiciais, enfrentamento de ideias, quase toda a abordagem se baseia no conceito de lutar pelo certo até as últimas consequências. Analisando pela ética cristã, essa concepção pode parecer simples, mas é mais difícil do que aparenta, pois em um mundo moderno, quem pensaria no coletivo se sua vida …

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Quando pensamos em filmes sobre advogados, questões judiciais, enfrentamento de ideias, quase toda a abordagem se baseia no conceito de lutar pelo certo até as últimas consequências. Analisando pela ética cristã, essa concepção pode parecer simples, mas é mais difícil do que aparenta, pois em um mundo moderno, quem pensaria no coletivo se sua vida particular estivesse sendo prejudicada? O Preço da Verdade (Dark Waters, 2019) é exatamente sobre isso. 

O longa é fundamentado no artigo feito por Nathaniel Rich para o The New York Times Magazine em 2016 (“O advogado que se tornou o pior pesadelo da DuPont”) e conta a história de Robert Bilott (Mark Ruffalo). Ao descobrir que a empresa DuPont (uma poderosa empresa química) está envenenando as águas da cidade de Parkersburg e matando/adoecendo pessoas ao longo do tempo, o advogado começa a defender seus moradores e a processar os culpados, mesmo que isso acabe prejudicando a rotina e a vida de muitos. 

Você prefere ter um emprego garantido em uma empresa e sustentar a sua família, ou deixar que alguém indenize essa empresa, pois a saúde de muitos pode estar em risco? Isso é apenas um dos questionamentos que vemos durante o longa, em que Bilott se vê confrontado por moradores que preferem pensar em si próprios. Mas a moral que a obra tenta deixar, pelo menos nesse caso, é: quem pode falar que eles estão errados ao pensarem dessa forma?

Como o roteiro parte da perspectiva única de Robert Bilott, vemos todo o caminho que o advogado trilhou até acreditar, de fato, que tal empresa fosse culpada ― a coleta de evidências e o enfrentamento em diversas instâncias contra a DuPont e seus representantes. Essa jornada é complexa, pois, de início, o advogado defendia, justamente, empresas químicas como a DuPont.   

Em uma tentativa de aumentar os âmbitos dramáticos do filme, o diretor Todd Haynes traz relevância para a família de Bilott, principalmente a personagem de Anne Hathaway, Sarah Bilott. Apesar do show de interpretação em uma determinada cena, o papel não decola, muito pela falta de densidade encontrada no roteiro, até porque a Sarah relatada no artigo original não esteve envolvida no processo, apenas acompanhou de perto seu marido. Entretanto, a personagem mostra como a vida pessoal de Bilott estava definhando no decorrer dos processos, o que deixava o questionamento se ele deveria continuar com tudo aquilo.    

Robert Billot desempenhando seu papel como advogado e indo até seus limites para defender aqueles que precisam. [Imagem: Participant & Killer Films]

A obra é um filme-denúncia e é nisto que sua base é sustentada. Partindo desse princípio, não haveria ator mais indicado para ser o protagonista. Ativista ambiental, Mark Ruffalo desempenha seu papel muito bem e é possível perceber como ele se envolveu com a história, até porque o ator também coproduz a narrativa. 

Pela simplicidade, acabamos atraídos por sua atuação, seja em momentos dramáticos ou em momentos mais cotidianos envolvendo o trabalho jurídico. Podemos considerar esse personagem de Ruffalo como uma continuação ao seu papel de jornalista em Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight, 2015), longa vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2016: alguém capaz de desestruturar o estado normal das coisas, ou seja, de defender os mais indefesos perante instituições poderosas.

A obra ainda faz diversas homenagens aos anos que retrata. Como o filme relata todo o caso de Bilott, ele é iniciado em 1998 e tem desdobramentos até os dias atuais. A montagem para representar essa passagem de tempo é impressionante, pois vemos carros de diferentes marcas e modelos sendo atualizados, aparelhos sendo trocados por itens mais novos e até músicas populares representantes de sua época sendo tocadas ao fundo. 

São nessas transições de anos que temos algumas cenas de comédia. Ainda que o longa tenha um teor bem sério, esses momentos não soam forçados e servem até como um respiro para o clímax que a obra vai criando. Há uma cena envolvendo um determinado barulho, que causará risos e nostalgia para aqueles que vivenciaram o início dos anos 2000.   

Embora a narrativa se transforme em algo convencional, tal como um filme de tribunal, O Preço da Verdade consegue envolver os espectadores e mostrar a verdadeira história de um advogado que conseguiu atingir seus objetivos, apesar das dificuldades que encontrou durante o caminho. 

O longa tem estreia prevista para o dia 13 de fevereiro no Brasil. Confira o trailer: 

 

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