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A ficção como espelho do real

Por: Daniel Medina (danieltmedina@gmail.com) Um dos autores de sci-fi mais conhecidos e importantes do século XX, Philip K. Dick inseriu-se em mundos de experimentação e devaneio que dialogam extremamente com a própria condição humana. Explorou, pela utilização de um mundo ficcional, questões muito ligadas à realidade. Engloba desde medos e inseguranças até as euforias e realizações. …

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Por: Daniel Medina (danieltmedina@gmail.com)
Imagem: reprodução

Um dos autores de sci-fi mais conhecidos e importantes do século XX, Philip K. Dick inseriu-se em mundos de experimentação e devaneio que dialogam extremamente com a própria condição humana. Explorou, pela utilização de um mundo ficcional, questões muito ligadas à realidade. Engloba desde medos e inseguranças até as euforias e realizações. A relação entre os mundos fantasiosos e reais se torna extremamente tênue e diluída quando bem analisada.

Por isso, pergunta-se: o quanto dessa criação ficcional está diretamente relacionada com o seu idealizador? Seria possível entender isso como o reflexo de um processo interno que favorece sua difusão?

Em Eu Estou Vivo e Vocês Estão Mortos: A Vida de Philip K. Dick (Editora Aleph, 2016), Emmanuel Carrère se responsabiliza por trazer uma nova perspectiva para essa complexa figura. A vida de Dick é relatada desde seu início com o auxílio de um linguajar explícito e ao mesmo tempo bem humorado. Carrère se encarrega de mostrar a profundidade intelectual da própria mente do autor, trazendo referências a reflexões densas ao longo da obra.

Utiliza-se de elementos enigmáticos à medida que conta a vida do escritor, permeando não apenas a realidade factual, mas abordando também um mecanismo utilizado pelo próprio Dick em suas publicações. Esse estilo faz sentido ao entendermos o tipo de autor com o qual estamos lidando e, além disso, o quão enigmática era a própria realidade interna dele. A vida cotidiana de Dick é aproveitada e utilizada como base para o que desencadeou a criação de diversas obras. Carrère consegue destacar nos momentos da vida de Dick aqueles que podem ter sido a causa da sua inspiração.

Algo que não deixa de aparecer logo no início do livro – quando se relatam os primeiros relacionamentos de Dick – é a densidade emocional que o autor enfrentou em suas vivências interpessoais, marcadas por carência afetiva em diversos momentos e grande egocentrismo e misoginia em outros. Carrère acaba por enfatizar a ideia de que o autor, com uma mente complexa e sempre em modo de auto questionamento, assimilava aquilo que acontecia ao seu redor de forma diferenciada e o transformava não em completas irrealidades, mas realidades paralelas.

Não necessariamente preocupado com seguir uma linha lógica e envolvido em um cotidiano também irregular, a influência das obsessões diárias de Dick é clara. Sua complexidade intrínseca, com o passar do tempo, acabou por tomar conta da sua própria estabilidade física e emocional.

Se em algum momento você já leu as obras de Philip K Dick, talvez este livro sirva de evidência sobre como o próprio autor revela estar bem afastado da noção de realidade. Isso se dá não apenas em suas obras, mas como algo que se estende à sua vivência pessoal e faz questionar se, de fato, as realidades pautadas em seus livros são tão ficcionais ou distantes quanto parecem.  Aos leitores mais assíduos e fanáticos, a obra é uma leitura muito interessante, uma vez que abre mais portas em relação ao entendimento da cabeça do complexo autor, com a qual  já podem estar mais familiarizados.

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