Não é segredo para ninguém que a forma mais acessível de viajar é através da leitura. Ao ler conhecemos um pouco do mundo e da mente de outra pessoa, e isso companhia aérea nenhuma pode oferecer. Já os livros sim. Novas fantasias e novos mundos ganham vida em páginas prontas para serem descobertas por outras mentes ávidas pelo desconhecido. Esse é o instinto que rege Sara Lindqvist, uma bookaholic nórdica que tenta fixar seu amor pela leitura no deserto ianque.
Sara é a protagonista fictícia do romance de estreia de Katarina Bivald, A Livraria dos Finais Felizes (Suma das Letras, 2016), e foi levemente inspirada na vida de sua autora, que, assim como a personagem, é uma jovem sueca que sempre trabalhou em livrarias. A imaginação começa a distanciar fantasia e realidade quando Sara é convidada por Amy Harris, uma senhora norte-americana tão apaixonada por livros quanto a garota sueca, a passar as férias no vilarejo de Broken Wheel, do estado de Iowa.
Apesar de ter 28 anos, Sara nunca havia saído de seu país e teve que convencer seus pais superprotetores de que a senhorinha com quem trocava cartas e livros pelo correio não era uma serial killer, mesmo que ela morasse nos Estados Unidos. Após driblá-los e atravessar o Atlântico, Sara recebe a notícia de que Amy havia falecido entre sua última carta e o seu desembarque na América. No aeroporto de Hope, cidade próxima do seu destino final, Sara conseguiu a carona de um conterrâneo e foi alertada sobre o estado de abandono de Broken Wheel. A sueca insistiu em ir até lá para comparecer ao velório da amiga e continuou determinada a permanecer na cidade por mais dois meses, como Amy lhe havia sugerido.
Junto com a chegada da jovem nortenha, entram em cena os clichês, que tornam o ambiente da narrativa muito mais caricatural e seguem nesse ritmo até o final da história. Eles, no entanto, não prejudicam a escrita talentosamente leve de Bivald, apenas validam o estilo tranquilo e cativante que o livro se propõe a ter.
Senhoras fofoqueiras e caipiras reservados constituem a maior parte do povo de Broken Wheel, que não deixa de notar a nerd deslocada e (quase) invisível que é Sara. Enquanto tenta esconder sua decepção turística atrás de seus livros, a sueca começa a perceber que eles podem ser a solução para a falta de movimentação da cidade, pois Broken Wheel não é uma vila desértica apenas pela ausência da multidão, mas, principalmente, pela falta de ideias e expressões culturais. Assim, decide abrir uma livraria na cidade com os livros da falecida Amy Harris.
Esta relação entre povo e literatura é muito presente nas cartas e na escolha de livros trocados por Amy e Sara. Através deles, as amigas apresentam uma a outra um pouco de suas culturas e cotidianos, como pensam e como foram criadas. Por meio das recomendações de Sara, a autora convida também ao leitor a conhecer a Suécia.
Com esse espírito inocente e renovador, A Livraria dos Finais Felizes é uma leitura de férias graciosa sobre tolerância cultural e descobertas. À quem se disponha a lê-lo, esteja munido de marcadores para destacar as reflexões e frases de efeito ditas pelas personagens, elas certamente serão compartilhadas por aqueles que são amantes da leitura.
Por Larissa Lopes
larissaflopesjor@gmail.com