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Black Mirror 4: menos dark, mais pop

Capa: Netflix/Divulgação A série que mexeu com a cabeça dos telespectadores com suas histórias sombrias voltou na reta final de 2017 na sua quarta temporada. Black Mirror, produzida pela Netflix, contou com seis novos episódios, assim como sua antecessora. E também manteve a tradição de ter histórias que variam do excelente para o ruim – …

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Capa: Netflix/Divulgação

A série que mexeu com a cabeça dos telespectadores com suas histórias sombrias voltou na reta final de 2017 na sua quarta temporada. Black Mirror, produzida pela Netflix, contou com seis novos episódios, assim como sua antecessora. E também manteve a tradição de ter histórias que variam do excelente para o ruim – uma problemática comum em antologias.

Em termos técnicos, Black Mirror está melhor do que nunca. Os efeitos gráficos, que anteriormente podiam deixar a desejar, atingiram seu ápice nessa temporada, e a direção de arte e de fotografia são excepcionais. A escolha do elenco também não decepciona, trazendo nomes de peso dos cenários britânico e americano, com destaque para USS Callister e Hang the DJ.

Há problemas, no entanto. Os episódios não são lá muito inovadores, reciclando alguns elementos das temporadas passadas, além de alguns parecerem arrastados ou apressados, talvez pelo fato da Netflix estipular prazos bem menores do que os de quando a série pertencia à Channel 4. As histórias, apesar de manter o nível crítico e perturbador da série, não são tão surpreendentes e não chegamos a realmente ter um episódio icônico como Hino Nacional (01×01), Toda a sua história (01×03) ou Urso Branco (2×02), marcos do seriado.

Em suma, a nova temporada de Black Mirror é a pior das quatro. Mas isso não quer dizer nada. Mesmo em declínio, a série mantém um alto nível pouco visto na dramaturgia atual, principalmente por fugir dos clichês televisivos e apostar numa narrativa profunda e até filosófica. Os defeitos são claros, mas só se destacam porque Black Mirror tem uma tradição de excelência. E, é claro, alguns episódios são claramente melhores que os outros. O Sala33 resenhou-os separadamente, sem spoilers:

USS Callister

O queridinho da crítica e a maior aposta da temporada abriu a nova leva de episódios. Dá pra entender o porquê: é o mais pop de todos, e talvez o que mais agrade o grande público. Na trama, um jogo de realidade virtual inspirado em Star Trek recebe uma nova jogadora, que logo percebe que nada é o que parece.

O episódio é um baú de nostalgia e de referências geeks, além de trazer reflexões sobre a comunidade gamer, os limites da realidade virtual e as consequências do bullying. É um ótimo episódio, mas talvez um pouco deslocado da proposta da série até então. A narrativa lembra um pouco filmes de aventura sci-fi genéricos, com frases de efeito e comédia um pouco forçada. Dá até pra entender que a inspiração são as produções dessa temática dos anos 60 e 70, mas, vindo de Black Mirror, era possível fazer mais.

O elenco se destaca: a protagonista é Cristin Milioti (How I Met Your Mother), e estão presentes nomes como Jesse Plemons (Fargo), Jimmi Simpson (Westworld) e Michaela Coel (Chewing Gun), que já participou da série na terceira temporada. Outro ponto positivo é a direção gráfica do episódio, bem como os figurinos e a ambientação.

USS Callister é, sem dúvidas, o episódio mais comentado da temporada, e talvez o mais amado. Nele, fica claro que a série tomou aqui uma postura mais voltada para o pop do que para o dark, ou seja, um clima mais leve, narrativa tradicional de três atos, personagens menos cinza e complexidade moral não tão acentuada. Em suma, parecido com a maioria dos seriados de sucesso hoje em dia. Para quem gosta desse estilo, é excelente. Mas para quem espera algo mais condizente com as duas primeiras temporadas, pode não ser tão bom como a crítica diz.

Arkangel

Com direção de ninguém menos que Jodie Foster, o segundo episódio traz um ar mais reflexivo e intimista para a temporada, como Toda a sua história faz na primeira e Volto Já na segunda. A trama se baseia em uma mãe que, a fim de garantir mais proteção, instala em sua filha um aparelho que permite-a ver tudo o que ela vê, além de poder censurar visões consideradas inapropriadas para a criança. A partir daí, vemos as consequências do Arkangel – como a tecnologia é chamada – no desenvolvimento e na vida de Sara, a filha.

O episódio traz reflexões importantes sobre o controle parental e até onde ele pode e deveria ir. Com um ritmo mais lento, Arkangel não trará grandes plot twists ou te deixará agoniado com seu suspense. Mas o drama familiar é forte e com certeza diz muito sobre nosso presente. Não é o grande destaque da temporada, mas cumpre o seu papel. O destaque fica para a ótima atuação de Rosemarie DeWitt, que interpreta os sentimentos ambíguos da mãe com maestria.

Crocodilo

O terceiro episódio é, de longe, o mais tenso da temporada. Em um futuro em que as memórias das pessoas podem ser acessadas via tecnologia, acompanhamos Mia, uma arquiteta renomada que, para esconder um segredo obscuro do seu passado, acaba se envolvendo em mais problemas, enquanto a corretora de seguros Shazia investiga um acidente de carro que Mia presenciou.

O suspense é forte no episódio e vai facilmente invocador sentimentos diversos no telespectador. É uma das melhores histórias da temporada, principalmente para quem gosta de se chocar e de ficar muito agoniado. A fotografia é espetacular, contando com o lindíssimo cenário da Islândia, repleto de montanhas e lagos enevoados, além de manter cores frias e uma estética calculista que reflete a protagonista.

Hang the DJ

Nem tudo é trevas: o quarto episódio traz um ar mais leve para a temporada e consegue ser um dos melhores! A história nos mostra dois jovens protagonistas, Amy (Georgina Campbell) e Frank (Joe Cole), que utilizam um sistema tecnológico que une casais e estipula quanto tempo eles devem ficar juntos, a fim de, depois de várias experiências, definir o par ideal de cada pessoa. O episódio é uma inovação nas narrativas de romance e consegue ser fofo e crítico ao mesmo tempo. Algo como San Junipero, só que melhor.

Hang the DJ conta com alívios cômicos ideiais e uma boa dose de drama romântico. E, como é de costume em Black Mirror, um ótimo plot twist no final. É claramente uma tentativa de agradar novos públicos e criar histórias acessíveis utilizando a temática distópica –  e dessa vez deu certo.

Metalhead

Talvez o episódio mais experimental de todos, Metalhead também é o mais controverso. Muita gente não gostou da história pós apocalíptica em que um grupo, liderado por Bella (Maxine Peake), foge de cães-robôs assassinos. E é essa a trama.

A falta de contexto realmente é frustrante, e deixa mais dúvidas do que respostas. Metalhead é um bom curta-metragem de ação distópica, e só. Decepciona os fãs da série e destoa do clima de Black Mirror exatamente por trazer pouquíssimo conteúdo para reflexão.

Salvam a fotografia – totalmente em preto e branco e que constrói um clima de tensão bom e condizente – e a atuação da protagonista. Não se pode negar, porém, que Metalhead poderia ser (bem) melhor desenvolvido, até porque a série nunca apostou tanto em ação e aventura de sobrevivência como nesse episódio. Do jeito que está, entretanto, não passa de um conto imemorável e totalmente dispensável.

Black Museum

O melhor vem no final: Black Museum é a grande obra prima da temporada, retomando as origens da série. Em uma antologia dentro de uma antologia, acompanhamos Nish (Letitia Wright), uma garota que visita o museu do crime que dá nome ao episódio. Nele, somos apresentados à diversos artefatos, todos os quais escondem histórias horríveis e criminosas por trás – algo bem Black Mirror. A partir daí, mais duas histórias nos são contadas além da trama principal, algo já feito em Natal.

Nesse episódio temos o ápice das tecnologias bizarras e de suas consequências na vida humana, além do melhor plot twist da temporada. É um misto de suspense com drama e elementos de humor negro: basicamente, Black Mirror raiz. Outro ponto positivo são as diversas referências à outros episódios da série, que vão agradar os fãs mais assíduos.

Black Museum fecha a quarta temporada com chave de ouro. Não é perfeito – a narrativa é uma mistura de Natal e Urso Branco – mas cumpre seu papel de ser tenso, sádico, sombrio, pesado e crítico. Basicamente, tudo o que Black Mirror é.

Por Bruno Carbinatto 
brunocarbinatto@gmail.com

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