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Dia 02 | Festival Piauí de Jornalismo 2022: gravação de podcast ao vivo e convidados internacionais

Brandon Feldman, Foro de Teresina, Adam Ellick e Delfin Mocache, foram alguns dos convidados na programação do segundo dia do Festival

O segundo dia do Festival Piauí de Jornalismo, na Cinemateca Brasileira, ocorreu no domingo, 04 de Novembro, e manteve o tom de debates políticos e troca de experiências entre jornalistas, profissionais da comunicação e estudantes presentes.

Brandon Feldman

O representante do Youtube, Brandon Feldman, participou de uma sabatina na primeira mesa do dia [Imagem: Arquivo Pessoal / Cecília de O. Freitas]

A primeira mesa do dia contou com a participação de Brandon Feldman, diretor de parcerias de jornalismo e entidades cívicas no Youtube (EUA). A conversa foi mediada pelos jornalistas Pedro Doria, do Canal Meio, e Ana Clara Costa, da revista Piauí. O tema principal do debate foi a relação do Youtube com a propagação de fake news e discursos de ódio.

A conversa foi iniciada com as ações que têm sido tomadas pelo Youtube para impedir práticas nocivas à democracia. De acordo com Feldman, o principal desafio da rede atualmente é identificar e punir os conteúdos danosos e problemáticos o mais rápido possível. Atualmente, a principal forma de punição da plataforma contra canais que compartilham desinformação e mentiras é a desmonetização, como aconteceu com a emissora Jovem Pan, no Brasil. 

Um aspecto delicado ao tratar desse assunto é a questão da transparência sobre os critérios do Youtube na utilização de algoritmos para a sugestão de conteúdos e identificação de material que viola as políticas de privacidade e segurança da plataforma. Para Feldman, a plataforma não pode ser 100% transparente em relação aos seus algoritmos, sob a justificativa de que esclarecimentos tornariam a rede social mais suscetível à fraudes e criaria brechas para usuários mal intencionados burlarem suas políticas. Todavia, há controvérsias, especialmente considerando o controle dos dados que o Youtube capta durante a utilização do site ou aplicativo, além da natureza das propagandas que chegam de forma quase que personalizada aos indivíduos.

Ao ser questionado sobre o caso da Jovem Pan, especificamente, o representante do Youtube afirmou: “Queremos deixar claro que não temos nenhuma preferência política na plataforma, quando algum canal sofre penalidades é porque estão violando nossas políticas não porque estão alinhados com um lado político.”

Foro de Teresina, ao vivo

Os apresentadores do Foro de Teresina: Thaís Bilenky, José Roberto de Toledo e Fernando de Barros e Silva [Imagem: Arquivo Pessoal / Cecília de O. Freitas]

A segunda mesa do dia teve uma estrutura um tanto quanto diferenciada, tanto para a plateia quanto para os apresentadores. O público se reuniu no auditório para assistir uma gravação ao vivo do podcast Foro de Teresina, apresentado por Thaís Bilenky, José Roberto de Toledo e Fernando de Barros e Silva.

A primeira parte das gravações foi voltada para uma discussão sobre a montagem do governo Lula, sua decisão de ministros e os desafios que acompanham o novo governo. Para os jornalistas, o presidente eleito carrega a proposta de um governo que já é “contraditório por definição”, a ideia de uma frente ampla, como foi colocada, cria oposições dentro do próprio governo, ao unir figuras tão contrastantes, como Simone Tebet e Marina Silva e alguns setores da esquerda com grupos evangélicos, por exemplo. Ainda assim, os apresentadores reconheceram a necessidade de Lula e do PT criarem essas alianças para derrotar o bolsonarismo, o que, apesar das divergências, era um consenso entre os novos participantes do governo. 

A segunda parte do podcast se debruçou sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes, durante as eleições, com algumas ressalvas sobre seu comportamento de forma geral. De acordo com os jornalistas, o ministro teve uma postura muito adequada e firme perante às ações bolsonaristas, especialmente durante o período eleitoral. Diversos foram os ataques que o juiz recebeu por setores de extrema direita, muitos deles inclusive inconstitucionais. 

Mesmo assim, o TSE garantiu que quaisquer tentativas de fraudes ou golpes eleitorais fossem impedidos. Por outro lado, o Foro de Teresina promoveu uma reflexão acerca do comportamento de Moraes, para além de seus conflitos com Bolsonaro, uma vez que ele “Torna histórias que poderiam ser encerradas com mais discrição, deixa elas crescerem”. A forma personalista com que o ministro se porta pode ser um risco para ele e para a democracia, visto o seu alto cargo na justiça eleitoral.

Sobre as expectativas para o governo Lula e para o futuro, o Foro de Teresina defende a ideia de que Bolsonaro não teria “apetite” para ser um líder da oposição política, atuando no máximo como um “terrorista”, que busca incitar a população. Apesar disso, as diversas contradições do novo governo, somadas à oposição da direita no Congresso, possivelmente criarão desafios para Lula governar, especialmente para atender às demandas do setores de esquerda. Para além da questão política, outra preocupação do novo governo deve ser ainda a Amazônia, visto que cada vez mais esse assunto é central nas relações internacionais do Brasil com países desenvolvidos.

Adam Ellick

Adam Ellick já ganhou um Emmy e um Pulitzer por seus trabalhos em jornalismo audiovisual [Imagem: Arquivo Pessoal / Cecília de O. Freitas]

Em seguida, o auditório central da Cinemateca Brasileira recebeu o jornalista Adam Ellick, do The New York Times. Os mediadores da conversa foram Natuza Nery, da GloboNews, e André Petry, da Revista Piauí. Ellick já foi correspondente internacional e, atualmente, é diretor e produtor executivo do gênero Opinion Video, criado por ele mesmo no Times. Em 2015, ele ganhou o prêmio Pulitzer e em 2016, um Emmy, por seus trabalhos jornalísticos em vídeo.

O principal assunto debatido na mesa foi justamente o gênero opinion video, seu processo de criação, sua estrutura e a forma com que seu sucesso é avaliado. Ellick conta que a estrutura do projeto começou com 4 envolvidos e agora já conta com 11 profissionais. Porém, sempre há a contratação de freelancers para trabalhos específicos. 

De acordo com o jornalista, o opinion video não tem relações com a opinião do jornal enquanto instituição, apresentada nos editoriais, por exemplo. Para ele, essa liberdade é essencial pois é uma forma de “retirar as algemas dos jornalismo”. Além disso, Ellick destaca que o opinion video é uma forma inovadora dentro da prática jornalística, visto que permite maior liberdade para tratar de temas sérios com uma abordagem mais simples e digestível, sem perder a profundidade do assunto. 

Ainda, foram discutidas quais são as métricas para o sucesso nesse tipo de conteúdo jornalístico. Diversos vídeos produzidos por Ellick e sua equipe viralizam por tratarem de temas relevantes e atuais, além de existir toda uma preocupação estética com o material publicado. Todavia, o jornalista ressalta que o objetivo dos vídeos não está relacionado à quantidade de pessoas que eles atingem e sim, à atingir as pessoas certas, sejam elas políticos com poder de decisão importantes ou grupos sociais. O real impacto do opinion video acontece quando, por meio da sua inspiração, ocorrem mudanças na sociedade. 

Delfin Mocache

Mesa contou com a presença com Delfin Mocache Massoko e foi mediada por Alana Rizzo e Breno Pires [Imagem: Arquivo Pessoal / Cecília de O. Freitas]

A penúltima mesa do dia contou com a presença de um convidado surpresa, que não foi anunciado com antecedência, por motivos de segurança. Delfin Mocache Massoko é um jornalista da Guiné Equatorial, perseguido pela ditadura do governo de Teodoro Obiang. No país, jornalistas são constantemente ameaçados e atacados institucionalmente, uma vez que a censura é prevista por lei. Em 2004, Mocache se auto exilou na Espanha, onde vive até hoje. Ele é o fundador do Diário Rombe, de jornalismo investigativo, voltando seu olhar principalmente para os casos de corrupção envolvendo a ditadura de Obiang com empresas petrolíferas na Guiné.

A conversa foi mediada por Alana Rizzo, que trabalha com políticas públicas no YouTube, e Breno Pires, da revista Piauí. De acordo com Mocache, a ditadura de 43 anos na Guiné Equatorial é, de certa forma, também sustentada pelos governos e petroleiras ocidentais, que possuem interesses nas riquezas minerais do país. O jornalista acredita que, enquanto houver petróleo na Guiné, nunca haverá democracia no país e que a população também não pode contar com o apoio do ocidente para acabar com a ditadura de Obiang. 

A mesa debateu principalmente a perseguição aos jornalistas e os desafios da prática investigativa, mantendo a segurança dos repórteres e das fontes. Mocache afirma que essa é uma grande preocupação do Diário Rombe, uma vez que as informações que o jornal publica e pesquisa são muitas vezes vazadas por parte de funcionários ou ex-funcionários do governo ou de empresas petrolíferas que estão na Guiné. Ele ainda assegurou que o anonimato e a proteção das pessoas que enviam informações ao Diário Rombe é uma das suas prioridades e que, até hoje, não houveram casos de retaliações a essas pessoas. 

Ainda houveram menções ao caso GQ Leaks, matéria em que o Rombe publicou mais  um milhão de documentos oficiais em e-mails do Centro Nacional de la Informatización de la Administración Pública de Guinea Ecuatorial (Centro Nacional da Informatização da Administração Pública da Guiné Equatorial, na tradução para o português). O jornalista destacou que foi a primeira vez na história que um jornal da Guiné Equatorial publicou matérias divulgando documentos do governo e que, sem esse material, a equipe de comunicação da ditadura de Obian provavelmente poderia descredibilizá-los.

Mocache também abordou a dificuldade de divulgar as reportagens de forma que elas cheguem de fato até a população. Ele afirma que aproximadamente 60% da população da Guiné possui acesso à internet, o que ainda é muito pouco. Para driblar a censura e perseguição, o Rombe encontrou como alternativa a publicação muito mais focada em redes sociais como o Telegram.

O segundo dia de Festival ainda contou com o workshop “Como pensar em uma estratégia multiformato para o seu canal”, oferecido por Lucia Zaragoza, do Youtube, e Allen Chaddad, da empresa Vibra Digital, e com a mesa mediada por Ricardo Gandour, da ESPM, e Consuelo Dieguez, da Piauí, tendo como convidada a jornalista Julia Gavarrete do El Faro, jornal de El Salvador.

Imagem de Capa: Gravação do podcast Foro de Teresina, ao vivo com a plateia. [Arquivo Pessoal / Cecília de O. Freitas]

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